Para Álvaro Almeida, ministro sombra do PSD para as finanças, o Montepio é uma preocupação. Não vê com bons olhos a entrada da Santa Casa no banco porque, diz, esta deve fazer investimentos rentáveis.
Para Álvaro Almeida, o ministro sombra do PSD para as finanças públicas, a banca ainda apresenta fragilidades. Diz que o Montepio é uma preocupação e defende uma solução que não passe pela injeção de capital de 200 milhões de euros pela Santa Casa da Misericórdia. Álvaro Almeida, na primeira entrevista que dá enquanto membro do Conselho Estratégico do PSD, diz ao ECO que a Santa Casa tem que investir, mas em investimentos rentáveis. Sobre o regulador bancário, diz que fez o que devia fazer e não percebe as críticas do Governo a Carlos Costa, o governador do Banco Central.
O problema da banca em Portugal está resolvido? A banca está mais capitalizada?
Está a caminho de ser resolvido.
Ainda há fragilidades?
Há fragilidades, certamente, mas estão a ser resolvidas. Estamos a reforçar a solidez do sistema bancário português, não estando ainda tudo…
Mas que fragilidades é que são essas que aponta?
A questão da reputação, há problemas de crédito mal parado relativamente elevado, mas como disse estão a ser resolvidas.
O Montepio preocupa-o?
Com certeza.
Com certeza?
Com certeza, quando um banco é notícia é preocupante. Os bancos não é suposto serem notícia. Quando um banco é notícia é sinal que alguma coisa se passa. Para o negócio bancário é sempre negativo que se fale de um banco nestes termos.
E que solução é que deveria haver?
Uma que não envolvesse 200 milhões da Santa Casa da Misericórdia de Lisboa.
Portanto não defende a entrada da Santa Casa da Misericórdia de Lisboa no Montepio?
Vejo com maus olhos, naturalmente. A Santa Casa da Misericórdia deve fazer investimentos, claro, porque tem um património que deve ser investido numa lógica financeira. As obras sociais da Santa Casa não devem ser o investimento do seu património, deve usar o património, e os rendimentos desse património para ajudar as suas obras sociais. Misturar as duas coisas é uma má opção. Qualquer investimento da Santa Casa faça deve ser por razões exclusivamente financeiras, o que não me parece que seja o caso que se está a preparar ou que se estava a pensar.
Mas o António Tavares, seu colega no Conselho Estratégico e provedor da Santa Casa de Misericórdia do Porto, pelos vistos concordava?
Mas porque é que diz isso? Dez mil euros, não são duzentos milhões.
O principio é o mesmo.
O principio aqui é duzentos milhões do património da Santa Casa devem ser investidos em investimentos que garantam um retorno adequado.
Não é caso do Montepio?
Tanto quanto sabemos, ou pelo menos as motivações que estão a ser apresentadas não são essas. Uma coisa é investir 200 milhões, outra coisa é investir 10 mil euros. Não são coisas comparáveis.
Relativamente ao Novo Banco, o ministro das Finanças já admitiu que o Estado, eventualmente, vai ter que injetar mais dinheiro. Como é que olha para este processo?
Desejando que não tivesse sido necessário investir e injetar mais dinheiro mas, infelizmente, parece que vai ter que ser.
Mas o processo foi bem conduzido?
Tenho muita dificuldade em responder porque nós não podemos ser injustos. E seria uma injustiça estar a julgar o que foi feito com a informação que temos hoje, porque as coisas que foram feitas foram feitas com a informação da altura e, portanto, dizer em função do que sabemos hoje que o processo foi mal conduzido acho que não podemos afirmar uma coisa dessas. Seria muito injusto para quem esteve envolvido.
E o processo de venda ao Lone Star?
Diria a mesma coisa, mas desde o início, mesmo com a informação da altura, essa solução foi sempre muito duvidosa.
Quem deveria estar a injetar dinheiro no Novo Banco não devia ser o Lone Star e não o governo português…
Pois… mas mais uma vez era preciso saber se havia alternativas e não era óbvio que houvessem.
Por falar em banca temos que falar dos reguladores. Como é que analisa o trabalho do Carlos Costa?
Não gosto de personalizar porque o que está em causa não é o governador do Banco de Portugal, é o Banco de Portugal. O BdP é uma instituição e não é uma pessoa. E como é que o BdP se comportou nos últimos anos? Acho que o BdP fez o que devia fazer e, repito, com a informação que tinha em cada momento é difícil de afirmar, não posso afirmar, que faria diferente ou que faria melhor. Acho que cumpriram a sua função, nós não podemos esperar que qualquer regulador impeça problemas no sistema bancário, da mesma forma que a polícia é má só porque há crimes. Os crimes acontecem e a polícia é boa ou má se conseguir resolver os crimes rapidamente, se conseguir criar condições para dissuadir novas práticas no futuro e, desse ponto de vista, não me parece que o Banco de Portugal tenha tido má atuação.
E percebe as críticas do Governo ao Governador do Banco de Portugal?
Não só não percebo como acho extremamente negativo que o governo faça críticas ao Banco de Portugal. Isto porque o BdP, como qualquer regulador independente, tem essa independência exatamente para não estar sujeito às vontades dos governos. O BdP não fazer o que o Governo quer não é forçosamente mau, pelo contrário, é bom sinal. É sinal que não está sujeito à vontade do governo da altura, o que deve acontecer na regulação, em geral, e em particular na regulação financeira.
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O Montepio preocupa? “Com certeza, quando um banco é notícia é preocupante”
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