O PAN não se define de esquerda, apesar de ter ajudado o PS a aprovar os Orçamentos, e abre a porta ao diálogo com o PSD caso os social-democratas formem Governo. Mas sem envolver o Chega.
Não é carne nem peixe. Desde que chegou ao Parlamento, o PAN não se definiu no espetro habitual da política, entre a esquerda e a direita, e assume-se como uma força política “disruptiva”. É tofu.
Apesar de se ter aliado ao PS em vários momentos, nomeadamente nos vários Orçamentos do Estado, o partido rejeita que seja de esquerda e admite falar com o PSD num eventual futuro Governo social-democrata. Contudo, há uma linha vermelha que se chama Chega, com o qual Rui Rio já admitiu diálogo caso se torne mais moderado. “É com preocupação que olhamos para o caminho que o próprio PSD está a seguir“, critica Inês Sousa Real, líder parlamentar do PAN, em entrevista ao ECO.
O partido já tomou alguma decisão relativamente às presidenciais do próximo ano?
O PAN não vai ter nenhum candidato próprio. Em relação a se vamos apoiar algum candidato, muito em breve vamos anunciá-lo tendo em conta aquilo que são os vários candidatos. Caberá à direção do partido fazer esse anúncio e não a mim.
Qual a justificação?
Nem sempre os partidos têm de concorrer a todos os atos eleitorais, nomeadamente as presidenciais. Neste contexto, o PAN está numa fase de crescimento, de consolidação, mas não significa que tenha de se apresentar a todos os atos eleitorais, nomeadamente as presidenciais. Optarmos também por não o fazer tendo em conta esta transição deste ano em que temos um novo grupo parlamentar, estamos dedicados ao trabalho parlamentar ao mesmo tempo que o partido está a crescer ao nível das suas bases locais e vamos ter para o ano as autárquicas.
Mas admitem apoiar alguém?
Posso é dar-lhe uma nota pessoal. Eu pessoalmente acho que não termos tido até hoje uma mulher como Presidente da República é um mau sinal para a democracia e fico muito feliz por termos pelo menos duas mulheres candidatas que se estão a bater obviamente pelo segundo lugar, nomeadamente a Ana Gomes, e independentemente daquilo que venha a ser a posição do partido acho que estamos a assistir historicamente aquilo que é uma evolução em matéria de igualdade de género e dos direitos das mulheres. Ainda que não seja este ano que possamos vir a ter uma mulher como Presidente da República, esperamos que numa próxima eleição isso se venha a concretizar. Pelo menos pessoalmente é um desejo profundo que tenho pelo que não posso deixar de dar essa nota porque em democracia os rostos dos principais cargos da nação continuarem a ser no masculino ainda diz muito sobre o que temos de fazer em matéria de igualdade de género.
Francisco Guerreiro, eurodeputado eleito pelo PAN que se desvinculou, acusou o partido de ter virado à esquerda. Rejeita esta ideia?
Penso que não é uma análise correta porque o PAN identificou-se sempre como um partido progressista, que defende causas e que mobiliza valores que são transversais quer à direita quer à esquerda. A causa ambiental não devia de ser uma causa de partidos de esquerda ou de direita. Deveria ser uma causa comum a todas as forças políticas eleitas porque estamos a falar da própria sustentabilidade do planeta e da nossa sobrevivência. O PAN tem-se apresentado sempre como um partido disruptivo com o sistema, claramente progressista. Infelizmente é um fenómeno que já acontecer noutras forças políticas em que os partidos são usados como trampolins para a Europa e que as pessoas optam para seguir o seu caminho. Não é uma crítica [virar à esquerda] que seja justa ou nos assente. Esse chapéu não nos serve.
Isso quer dizer que estariam disponíveis para dialogar com o PSD num eventual Governo no futuro como fizeram com o PS?
Parece-me que o PSD tem dado amostras claras de que não só não tem feito aquilo que se esperava de um partido social-democrata, nomeadamente ao dar e ao estender a mão ao Chega em determinados momentos. Vamos ter um momento absolutamente decisivo para a nossa democracia que vai ser as autárquicas. É com preocupação que olhamos para o caminho que o próprio PSD está a seguir.
Em termos concretos, ainda não deu nenhuma mão.
Mas já se espera e já é expectável que o venha a fazer. Vamos ver qual é o caminho que o próprio PSD vai fazer nas autárquicas. Em abstrato, aquilo que o PAN tem feito é dialogar com todas as forças políticas independentemente de se situarem à esquerda ou à direita. Aquilo que nós não estamos disponíveis para dialogar é com um partido de extrema-direita, ou de extrema-esquerda, como é por exemplo o caso do Chega. Aí não há diálogo possível quando estamos a falar de colocar em causa os direitos humanos e os valores que nos devem pautar, quer do ponto de vista da ecologia, quer do ponto de vista do humanismo.
Portanto, não exclui diálogo com o PSD?
Não excluímos de todo nem com a direita nem com a esquerda, tal e qual como temos dialogado com a esquerda e com o Governo do Partido Socialista e como temos feito um caminho de tentar de alguma forma dar força às nossas causas, conseguir conquistas e vitórias para aquilo que é o nosso eleitorado e isso faz-se exclusivamente com diálogo. Agora isso parece-nos que é um exercício que deveria ser feito por todas as forças políticas independentemente do seu ponto de vista ideológico. Esperamos que se por acaso o PSD numa futura eleição vier a ser Governo que também esteja disponível para esta abertura ao diálogo. Agora se optar por ter como parceiros a extrema-direita então aí temos um problema democrático e uma maior dificuldade de diálogo se decidirem dar a mão ao Chega como assim se tem ouvido falar e como se espera que possa vir a acontecer.
Classificou o Chega de extrema-direita. O PCP e o BE são de extrema-esquerda?
Pela sua génese ideológica, o BE é de facto um partido de extrema-esquerda assim como o PCP. Se calhar nós em democracia habituámo-nos a encarar ou a olhar para esse ponto ideológico mais extremo com outra tolerância do que olhamos para a extrema-direita, mas não nos podemos esquecer o que os regimes comunistas trouxeram à nossa democracia. Não desvalorizamos aquilo que é o campo ideológico destas duas forças políticas, muito pelo contrário.
Atualmente, de certa forma colabora…
O PAN não dialoga com o BE ou o PCP, dialoga com o PS portanto é completamente diferente. Apesar de haver matérias, como a matéria ambiental, em que de alguma forma existe uma maior convergência com o BE, por exemplo, do que com outras forças políticas, não estamos no mesmo patamar daquilo que é a defesa ambiental nem estamos no mesmo patamar ideológico.
Mas o PAN considera que o BE e o PCP estão no mesmo patamar do Chega?
Vai depender muito do posicionamento ideológico e do que cada um faria se fosse Governo. Agora volto a dizer: a memória não nos falha sobre aquilo que os regimes comunistas têm feito em matéria de direitos humanos noutros países. É bom que as outras pessoas tenham uma maior consciência política e ideológica do que significa o programa político de cada força que nos representa. E às vezes falta-nos um bocadinho essa consciência.
Assine o ECO Premium
No momento em que a informação é mais importante do que nunca, apoie o jornalismo independente e rigoroso.
De que forma? Assine o ECO Premium e tenha acesso a notícias exclusivas, à opinião que conta, às reportagens e especiais que mostram o outro lado da história.
Esta assinatura é uma forma de apoiar o ECO e os seus jornalistas. A nossa contrapartida é o jornalismo independente, rigoroso e credível.
Comentários ({{ total }})
PAN não exclui diálogo se PSD for Governo, mas sem o Chega
{{ noCommentsLabel }}