O provedor da Santa Casa diz que a Raspadinha é um fenómeno, e que o Placard está a ganhar terreno ao Euromilhões. Mesmo com a concorrência online, brilha. E descarta o fim das apostas em papel.
Raspadinha, Euromilhões e Placard. Estas são as “estrelas” da Santa Casa, sendo que só a lotaria instantânea gera 27 milhões de euros por semana. Edmundo Martinho, provedor da Santa Casa da Misericórdia de Lisboa (SCML), diz que as receitas do jogo continuam a crescer, mas que isso se deve ao aumento do número de jogadores — descarta um problema de jogo em Portugal. Aponta para as inovações que têm sido introduzidas nos diferentes jogos, especialmente o Placard, com um código QR, como fonte de crescimento, mesmo num contexto de concorrência do online. E fala sobre a próxima aposta: jogos com base em corridas de cavalos.
Como estão os jogos da Santa Casa?
Os portugueses continuam a jogar. Há uma estabilidade com uma ligeira subida em 2018. Depois 2016 ter sido um ano excecional, 2017 tornou a ser [com a Santa Casa a receber 221 milhões que elevaram os lucros para 42,4 milhões] e 2018 está a acompanhar essa tendência de estabilidade com um ligeiro crescimento.
Quanto ganham com os jogos?
A Santa Casa ganha muito pouco. Somos, provavelmente, o maior contribuinte do Estado em termos de imposto do Selo. Para além disso, a maior parte da receita é devolvida através dos prémios que estão estabelecidos na lei. Depois, a maior parte é para o Estado e para os organismos públicos.
A transformação tecnológica não está a ter impacto negativo?
Não. Também temos feito esse caminho de modernização. No Placard, de papel, hoje temos a possibilidade de simular uma aposta no telemóvel, gerando um código QR. E depois a pessoa vai ao mediador. Isto está a ter imenso sucesso. Lançámos há menos de um mês e estamos quase com 60% das apostas feitas já com recurso ao código. É muito interessante porque representa poupança de papel mas também comodidade para o apostador.
A Santa Casa ganha muito pouco [com os jogos]. Somos, provavelmente, o maior contribuinte do Estado em termos de imposto do Selo.
Mas é preciso ir sempre lá. A Santa Casa não tem nenhuma aposta puramente digital?
Aposta não tem. Temos o Euromilhões que pode jogar-se no site, temos a Raspadinha.
O papel vai desaparecer nos jogos?
Não. Não creio. Sobretudo na Raspadinha, que é o nosso jogo mais importante.
Vale quanto nas receitas da Santa Casa?
Deve estar em cima dos 51%. Vale muito dinheiro. É um fenómeno.
E vêm aí novos jogos, nomeadamente as apostas hípicas…
Já estão reguladas desde 2015, na perspetiva dupla de ser um novo jogo social explorado em exclusivo pela Santa Casa, em base territorial por não ser online. E o que vai acontecer é que além de este jogo se juntar aos jogos sociais do Estado, tem uma finalidade adicional que é apoiar a fileira do cavalo — a criação de cavalos — e a outra é a de suscitar as corridas de cavalos em Portugal. A lei prevê a existência de até três hipódromos. Não há nenhum.
A Santa Casa vai ter esse papel de os criar?
Não. A Santa Casa o que fará é a exploração das apostas ligadas às corridas de cavalos. Nem será feito com base nas corridas cá. É feito com base nas corridas de cavalos internacionais. Temos um acordo com a segunda maior organização do mundo, a francesa PMU.
Será necessário ir a um mediador para apostar?
Sim. Tem de ir também porque é preciso mostrar a identificação do apostador. O Placard tem essa obrigação. Nós somos muito estritos nesta questão de proibição do jogo a menores.
As receitas com o jogo estão a aumentar. E as da Santa Casa também?
Perdemos, nós e os outros beneficiários, com o aumento das percentagens para as Regiões Autónomas dos Açores e da Madeira. Houve um ajustamento em baixa. No caso da Santa Casa, o impacto estimado anda à volta dos oito milhões de euros.
E os jogos online? Houve a liberalização… Não tem impacto?
Não. O único jogo que poderia ser afetado era o Placard, que concorre de forma direta. Mas não foi isso que aconteceu. Tem vindo a manter uma trajetória de crescimento sustentado muito interessante. É um jogo que tem vindo a impor-se. É o terceiro mais representativo, a seguir ao Euromilhões e à Raspadinha.
Mas o Euromilhões está em queda?
Não, agora não. O Euromilhões é uma poll de dez lotarias. Tem havido um trabalho conjunto, com jackpots mais frequentes, com o Milhão, que tem contribuído para estancar a queda e até a recuperação do jogo.
O único jogo que poderia ser afetado [pela liberalização dos jogos online] era o Placard, que concorre de forma direta. Mas não foi isso que aconteceu.
Mas o Placard não se ressentiu porquê? Confiança na Santa Casa?
O perfil de apostador é diferente. Em Portugal temos uma tradição que é o Totobola. Mas também as apostas em eventos desportivos. O Placard recupera um bocadinho isso. Depois, é o tipo de jogo que tem um consumidor que não é o dos jogos online. Seja pela idade ou perfil das pessoas, o Placard é um jogo de grande simplicidade no sentido em que todos em Portugal têm a sua opinião sobre o futebol.
A Santa Casa tem um perfil definido de quem aposta?
Temos. Há um dado muito interessante que contraria esta ideia do excesso do jogo em Portugal: embora de forma ligeira, tem vindo a diminuir o valor médio da aposta por apostador nos jogos da Santa Casa. Tem vindo a aumentar o valor global, mas tem vindo a diminuir o valor médio por apostador. Há mais gente a apostar. Isto significa que o impacto que o aumento do volume de jogo não se está a traduzir negativamente no orçamento das famílias que é uma questão que para nós é muito preocupante e que monitorizamos em permanência.
É uma contradição…
Temos sempre como grande preocupação a preservação da segurança das famílias, a segurança pública no sentido de que temos de ser muito responsáveis. Temos plafonds estabelecidos para a venda de Raspadinhas. Não vendemos todas as Raspadinhas que nos pedem.
Como é que controlam isso?
Estabelecemos palfonds por mediador. São avaliados regularmente.
Embora de forma ligeira, tem vindo a diminuir o valor médio da aposta por apostador nos jogos da Santa Casa. Tem vindo a aumentar o valor global, mas tem vindo a diminuir o valor médio por apostador.
Qual é a média?
Vendemos 26 ou 27 milhões de euros em Raspadinhas por semana.
É muita raspadinha.
É muita raspadinha. Há de um euro, dois euros, mas curiosamente as que se vendem mais às vezes são as mais caras, aquelas que têm multiplicadores e win for life. Mas não vendemos todas as que nos pedem, mas é porque queremos ser capazes de manter um registo que não implique jogo excessivo.
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“Placard não sentiu efeito do jogo online”. Apostas em papel vão acabar? “Não acredito”
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