Nichola James, co-responsável pelo departamento de ratings de dívida soberana, explicou ao ECO que parte das melhorias dos últimos seis meses foram cíclicas, ou extraordinárias.
Nichola James, co-responsável pelo departamento de ratings soberanos da DBRS, explica ao ECO porque é que a agência canadiana ainda não vê perspetivas de subir a nota que atribui a Portugal. Não é que os resultados tenham sido maus até ao momento, mas as provas dadas ainda não chegam, garante. Parte das melhorias dos últimos seis meses, verificadas tanto no crescimento económico, como nas finanças públicas, foram cíclicas ou suportadas por medidas extraordinárias.
Quais foram as principais razões para deixar o outlook inalterado?
Fundamentalmente, houve uma continuação de desenvolvimentos positivos: o compromisso do Governo para com as regras orçamentais da União Europeia e a continuação — e talvez até uma aceleração — dos esforços para ajustar as vulnerabilidades no setor bancário. Contudo, por outro lado, o rácio da dívida continua muito elevado. O rácio da dívida aumentou ligeiramente no último ano, por causa da recapitalização da Caixa Geral de Depósitos. Para este ano esperamos uma redução, mas por causa do elevado rácio da dívida tem havido alguma reação adversa por parte dos mercados em tempos de elevada pressão externa. Ao mesmo tempo, algumas das questões estruturais ainda deixam Portugal vulnerável. Sentimos que os riscos estavam estáveis e foi por isso que mantivemos o outlook em estável.
Na última avaliação, a DBRS disse que havia duas razões principais para manter o outlook em estável: o crescimento económico e as finanças públicas. Ambas melhoraram nos últimos meses. Não acreditam na sustentabilidade das melhorias?
Não é que não acreditemos nas melhorias, é que precisamos de ver mais provas. E a questão crítica em Portugal é o rácio muito elevado da dívida. Vai levar tempo até que este nível de dívida desça. Vemos os compromissos para com as metas orçamentais da União Europeia, os excedentes primários e o compromisso de mais reformas estruturais para melhorar o crescimento potencial. Não é que não acreditemos que as coisas vão acontecer, mas a nossa política é concentrarmo-nos mais em critérios estruturais. E nos últimos seis meses algumas das melhorias foram mais relacionadas com fatores cíclicos e extraordinários. Temos de ter mais provas de que as reformas estruturais que têm sido propostas e iniciadas são aceleradas para alcançar mais crescimento no médio prazo. É por isso que a reforma orçamental é muito importante.
Temos de ter mais provas de que as reformas estruturais que têm sido propostas e iniciadas são aceleradas para alcançar mais crescimento no médio prazo.
A venda do Novo Banco ao Lone Star foi positiva ou negativa para o rating?
Tendemos a avaliar o sistema bancário como um todo em vez de olharmos apenas para um banco. Mas genericamente, há um prazo para a venda, no verão, e estamos à espera. O cumprimento desse prazo será um aspeto positivo. Mas não comentamos uma venda isolada, um determinado comprador como o Lone Star. Olhamos para a forma como pode ajudar o sistema financeiro — e esta é apenas uma das questões. A resolução desta questão seria encorajadora, mas ainda não chegámos lá.
O Governo espera uma retoma do investimento este ano. Também estão à espera disso?
Tal como dizemos no relatório, houve uma queda do investimento de 38% entre 2008 e 2013 e parece que vai levar algum tempo até Portugal regressar sequer perto desses níveis de investimento. Mas identificamos alguns fatores neste momento que podem contribuir para uma retoma mais forte do investimento, que pode ganhar ritmo e ajudar a retoma cíclica do investimento. Um dos fatores é que as empresas estão a operar já na sua máxima capacidade e vão por isso querer investir. Mas, por outro lado, muitas empresas estão limitadas por níveis muito elevados de dívida. Também notamos que este ano devemos ver por toda a Europa, não é um exclusivo de Portugal, um aumento da aprovação de projetos apoiados por fundos estruturais — isso deverá também ganhar ritmo. Desejavelmente, vai conduzir a um crescimento mais elevado das exportações e depois fomentará um aumento da formação bruta de capital fixo. Mas vai demorar tanto tempo para regressar a níveis pré-crise. E por causa dos elevados níveis de endividamento estamos cautelosos.
O que podemos dizer é so far so good com o que tem sido alcançado.
Como avalia o contexto político?
Não comentamos especificamente sobre os resultados dos governos. Mas o que podemos dizer é so far so good com o que tem sido alcançado. No curto prazo, como vai haver uma retoma cíclica, a maior dificuldade para os governos em toda a parte é introduzir medidas agora que beneficiem o crescimento no médio prazo. Essa é a dificuldade. Mas, por enquanto, em termos de resultados temos a retoma da economia, redução no desemprego, cumprimento das metas orçamentais que satisfazem os investidores. So far so good…
Pode ser difícil para o Governo português aprovar medidas, por causa do contexto político, da minoria parlamentar e dependência de partidos de esquerda?
Não é uma questão exclusiva de Portugal, este é um problema por toda a Europa. É muito difícil politicamente tomar medidas neste momento — especialmente num Governo de minoria — para aumentar o crescimento potencial no longo prazo. Esta dificuldade aplica-se a diferentes países. Não estamos a enfatizar que em Portugal seja necessariamente pior mas, ter um Governo de minoria de qualquer configuração, obviamente que potencia estes riscos.
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“So far so good”, mas “precisamos de mais provas”, diz a DBRS
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