“Temos de aumentar as propinas porque, com grande probabilidade, os jovens depois vão embora”

Para garantir mais crescimento, Portugal deveria concentrar os esforços, “nesta década”, em “ter reguladores que funcionem melhor, uma fiscalidade mais simples e uma Justiça melhor", diz Conraria.

Perante os largos fluxos de emigração de jovens, o novo presidente da Escola de Economia e Gestão da Universidade do Minho defende o aumento das propinas. Temos de aumentar as propinas porque, com grande probabilidade, os jovens depois vão-se embora e não beneficiamos desse investimento”, afirma Luís Aguiar Conraria, em entrevista ao ECO, sugerindo a criação de um verdadeiro mecanismo de compensação para quem fica em Portugal.

Com os nossos jovens, com todo o nosso sistema educativo, estamos a financiar países muito mais ricos que nós”, lamenta o economista. “Temos andado a discutir, durante muito tempo, a questão das propinas. A tendência que seguimos em Portugal foi baixar as propinas e aumentar as transferências do Estado para as universidades. Se este fenómeno [de emigração jovem] se mantiver, isso não faz sentido nenhum. Temos é de aumentar as propinas porque, com grande probabilidade, os jovens depois vão se embora e não beneficiamos desse investimento”, afirma.

Enquanto as propinas não refletirem o seu valor real estamos a financiar os outros países”, acrescenta.

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“Este é um caso engraçado, porque aquilo que é melhor para os portugueses, pode não ser o que é melhor para Portugal”, nota. Mas, “se este êxodo se mantiver, temos mesmo de pensar, se calhar, em aumentar as propinas e criar um esquema de compensação para aqueles que ficam em Portugal”, defende Luís Aguiar Conraria. Um esquema mais generoso do que o anunciado por António Costa.

Para fixar os jovens no país, os estudantes que terminem licenciaturas ou mestrados e fiquem a trabalhar em Portugal passam a ter direito a um prémio salarial — que será, no máximo, de 1.500 euros por ano — de valorização da qualificação, que na prática corresponde à devolução das propinas pagas no ensino superior. Mas a atribuição dessa recompensa não será automática, há que o solicitar online.

Luís Aguiar Conraria defende ainda que a quantidade de jovens altamente qualificados, que Portugal tem é “a melhor garantia” de que Portugal vai “crescer nos próximos anos, independente dos próximos governos”.

O novo presidente da Escola de Economia e Gestão da Universidade do Minho considera que, mesmo com os elevados níveis de emigração jovem, “os que ficam, são muito mais qualificados”. “Estamos naquele ponto em que faz uma grande diferença cada ano que passa. Já quase 50% dos jovens estão no ensino superior. Por cada ano, metade das pessoas que entram no mercado de trabalho têm ensino superior e os que se reformam, têm muitos menos qualificações”, considera o economista que conta com um doutoramento da Cornell University. “Há mesmo uma transformação no mercado de trabalho, que já nem é silenciosa. Neste momento, já é quase revolucionária, mas não há ainda economia para isso”.

“Acredito que é um bocado independente de qual é o partido que vai estar” no poder, diz Aguiar Conraria. “Estou otimista em relação aos próximos anos”, garante.

“Pessoalmente, na forma como vejo a economia, o mais importante de tudo é o capital humano. E nesse aspeto, a quantidade de jovens que temos neste momento, muito qualificados, são para mim a melhor garantia de que vamos crescer nos próximos anos. E nesse sentido, é um bocado independente dos próximos governos”.

O economista, contudo, precisa que, com esta afirmação, não quer dizer que “são todos iguais”. “Não acho isso, mas propostas estruturais” não são evidentes.

Luís Aguiar Conraria, economista, em entrevista ao ECO - 22JAN24
“Custa-me mesmo dizer isto porque sou visceralmente contra estas políticas de discriminação positiva, de determinados grupos. Mas perante estes números, se calhar sou obrigado a aceitar que medidas como a redução do IRS para pessoas até uma determinada idade, se calhar fazem sentido”, admite Luís Aguiar Conraria, economista, em entrevista ao ECO.Hugo Amaral/ECO

 

Segundo Aguiar Conraria, os três pilares nos quais Portugal deveria concentrar os seus esforços, “nesta década”, para garantir taxas de crescimento mais elevadas “é tentar ter reguladores que funcionem melhor, uma fiscalidade mais simples e uma justiça melhor”. “Melhorar a qualidade da regulação: não vejo propostas ótimas nem de um lado, nem do outro. Pacotes anticorrupção, não vejo que um dos lados seja obviamente melhor do que o outro”, afirma.

Um dos grandes problemas estruturais que o país enfrenta é o da emigração jovem. Segundo o Observatório da Imigração 30% dos jovens vivem fora de Portugal. Aguiar Coraria discorda da metodologia usada neste cálculo – “podemos olhar para esses 30% como uma estimativa grosseira. Nem sequer permite automaticamente concluir que não seja mais do que isso. Não tem de ser mais baixo. Até pode ser mais alto”, diz – mas defende que para resolver o problema da emigração é necessário trabalhar em duas dimensões: uma de curto prazo e outra de longo prazo.

No curto prazo, a solução é discriminar positivamente os jovens no IRS. “No curto prazo, isto custa-me mesmo dizer isto porque sou visceralmente contra estas políticas de discriminação positiva, de determinados grupos. Mas perante estes números, se calhar sou obrigado a aceitar que medidas como a redução do IRS para pessoas até uma determinada idade, se calhar fazem sentido”, admite o economista, que se classifica como liberal.

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