Especialistas acreditam que estas são as duas grandes subtendências para 2026, ano em que a IA tornar-se-á também mais “contextual”. Haverá também novidades no campo da regulação.
- Este artigo integra a 17.ª edição do ECO magazine. Pode comprar aqui.
Uma aliança de agentes e robôs humanóides prepara-se para dominar o panorama da inteligência artificial (IA) generativa em 2026, ano em que as valorizações das grandes tecnológicas prometem continuar a causar vertigens. Simultaneamente, os dados proprietários das empresas vão ganhar destaque, à medida que escasseiam as fontes abertas de informação aptas para especializar modelos.
Chegado um novo ano, persistem as dúvidas sobre os limites da tecnologia que mais tem dado que falar nos últimos tempos. Ainda assim, em 2025, ano em que o ChatGPT celebrou o seu terceiro aniversário, a OpenAI conseguiu continuar a inovar, adicionando novas funcionalidades de criação de imagens e de vídeo. A plataforma é agora usada por mais de 800 milhões de utilizadores por semana, ganhou o seu próprio agente e até já tem um browser, o Atlas.
Daniela Braga, uma das vozes mais escutadas em Portugal sobre esta matéria, nota que os agentes são uma clara tendência para 2026. “Ainda há muito a fazer nesta área”, considera a especialista, pelo que o conceito “ainda é mais promessa do que realidade”. Mas “está a começar a tomar forma”, aponta a fundadora e CEO da Defined.ai, um marketplace de dados para treino de IA.
“A questão dos agentes, as comunidades que vão interagir entre si, quer orquestradas por outros agentes ou com workflows bem definidos, serão tendências naturais”, concorda Arlindo Oliveira, outro especialista nacional de referência. Estes sistemas agênticos “não respondem só a uma pergunta ou instrução” — “podem planear um conjunto de operações sequenciais e executá-lo”, distingue o presidente do INESC.
Os agentes, as comunidades que vão interagir entre si, quer orquestradas por outros agentes ou com workflows bem definidos, serão tendências naturais.
Paralelamente, os robôs humanóides prometem ganhar tração neste novo ano, depois de já terem conquistado o estrelato nas redes sociais: “Está a explodir esta área e está a ir a casa do consumidor”, diz Daniela Braga. “Já havia braços mecânicos, ou cirurgias assistidas, mas agora estamos a ver a IA a ganhar corpo físico”, indica a especialista, para quem a China está a dominar nesta vertente.
Do consumidor para as empresas, Arlindo Oliveira destaca como “marcante” no novo ano o progresso na “engenharia de contexto”. “Temos cada vez mais uma componente de conceção de sistemas personalizados. Menos utilização de LLM [Large Language Models, grandes modelos de linguagem, em português] e mais no âmbito do contexto específico que é dado”, afirma.
Em causa está, por exemplo, o treino de modelos menores com dados proprietários das empresas, embora existam desafios do ponto de vista de acesso a dados. “Trabalhar no contexto, e criar sistemas dirigidos numa determinada aplicação para serem mais precisos e eficazes, será uma tendência muito forte, em particular em 2026”, diz Arlindo Oliveira.
Estas inovações são fruto dos avanços na IA dos últimos anos, assentes em milhares de milhões de dólares investidos, sempre acompanhados por fortes receios de uma nova ‘bolha’ financeira. E se a ‘bolha’ estourar? “Não tenho dúvidas de que poderá haver uma correção com algum significado, mas não será essa correção que tirará o momentum [ímpeto] à tecnologia. A bolha das dotcom não fez desaparecer a internet”, nota o também professor catedrático do Instituto Superior Técnico, referindo-se ao grande crash nos mercados no virar do milénio.
2026 também vai ser um ano relevante para Portugal em termos de adoção de IA. Aguarda-se o lançamento da versão final do Amália, resultado de um investimento de 5,5 milhões de euros do Plano de Recuperação e Resiliência (PRR). Este modelo de IA, adaptado à cultura portuguesa e patrocinado pelo Governo de Luís Montenegro, chegou a estar previsto para março de 2025, e prometido depois para o final de setembro, mas a versão pública continua trancada a sete chaves.
O prazo é o final de junho, esperando-se mais escrutínio deste investimento do PRR que tem feito correr muita tinta. Entretanto, está previsto o Amália vir a ser integrado nos serviços públicos e espera-se que impulsione a adoção de IA nas empresas. No próximo ano, esta intenção será igualmente posta à prova.
Europa dividida entre regular e simplificar
Incontornavelmente, falar de IA na Europa é falar de regulação e do AI Act. No âmbito do regulamento europeu, o Governo português decidiu, em setembro de 2025, designar a Anacom como o regulador responsável pela IA, uma opção que já era esperada. Com 2026 a começar, Pedro Lomba, advogado e sócio da PLMJ, espera que seja um ano de respostas — nomeadamente, por via da publicação pelo Governo do “diploma nacional que vem dar execução” ao AI Act “no que diz respeito ao sistema de governance”.
“Sabemos que a Anacom terá um papel a esse nível, mas há dúvidas que pairam sobre a fiscalização do mercado. Uma delas é se a Anacom, além da coordenação, será autoridade de fiscalização para determinadas práticas e utilização de sistemas”, aponta. Outra dúvida é “a dimensão das sanções” em caso de incumprimento, que também ficará plasmada no diploma, aponta o especialista em regulação de IA.
"Há dúvidas que pairam sobre a fiscalização do mercado. Uma delas é se a Anacom, além da coordenação, será autoridade de fiscalização para determinadas práticas e utilizaçãode sistemas.”
O aligeirar do próprio regulamento será outra das dimensões relevantes para 2026 no âmbito europeu. A 19 de novembro de 2025, a Comissão apresentou o pacote de simplificação Omnibus Digital, que prevê a dilatação de alguns dos prazos previstos no AI Act em até 16 meses. O diploma pressupõe também que, a 2 de agosto de 2026, entre em vigor a generalidade das regras ainda pendentes.
Toda esta discussão à volta da simplificação da legislação de Bruxelas será, ela própria, uma tendência para o novo ano, entende Pedro Lomba, face a “determinadas vozes que têm tentado protelar a entrada em vigor do regulamento”. Ademais, a Comissão tenta ainda um difícil equilíbrio entre a preservação dos direitos fundamentais e da soberania da Europa com a ira de Donald Trump, que tende a resistir às multas que vêm a ser impostas no Velho Continente contra empresas norte-americanas.
Assine o ECO Premium
No momento em que a informação é mais importante do que nunca, apoie o jornalismo independente e rigoroso.
De que forma? Assine o ECO Premium e tenha acesso a notícias exclusivas, à opinião que conta, às reportagens e especiais que mostram o outro lado da história.
Esta assinatura é uma forma de apoiar o ECO e os seus jornalistas. A nossa contrapartida é o jornalismo independente, rigoroso e credível.
Comentários ({{ total }})
Agentes e robôs humanóides prometem ‘dominar’ em 2026
{{ noCommentsLabel }}