As cotadas portuguesas vão pagar 2,5 mil milhões de euros aos acionistas em dividendos. É o valor mais elevado de sempre, apoiado no forte crescimento dos lucros. Veja o valor de todas as empresas.
Depois de dois anos de cortes significativos, as cotadas portuguesas voltam a abrir os cordões à bolsa para remunerar os seus acionistas, o que reflete a forte subida dos lucros em 2021 e as políticas de distribuição resultados mais agressivas por parte de diversas companhias.
As empresas portuguesas do antigo PSI-20 vão entregar cerca de 2,5 mil milhões de euros aos acionistas nas próximas semanas, por conta dos resultados do ano passado. É um valor recorde para este conjunto de empresas, que surge depois de dois anos de quedas pronunciadas devido à pandemia. Em 2020, foram várias as empresas que suspenderam ou reduziram o pagamento devido à incerteza com o impacto da Covid-19 (apesar de os lucros dizerem respeito a 2019). No ano passado, a remuneração baixou devido à queda nos lucros, que refletiu a recessão profunda da economia global em 2020.
Em 2019 as empresas distribuíram um recorde de 2.410 milhões de euros, sendo que o valor total baixou 201 milhões de euros em 2020 e mais 270 milhões de euros no ano passado. Este ano a subida é de 546 milhões de euros, para 2.485 milhões de euros. Um crescimento de 28% que coloca o total num novo máximo histórico. O montante foi calculado pelo ECO tendo em conta as propostas de dividendos já anunciadas pelas empresas e as estimativas para as três que faltam (REN, Altri e BCP). Não contempla os 60 milhões de euros que a Sonaecom vai distribuir aos acionistas, uma vez que a cotada não integra o PSI-20, pelo que a remuneração das cotadas portuguesas ficará seguramente acima de 2,5 mil milhões de euros.
Mesmo quando o PSI-20 era composto por empresas de maior dimensão (Portugal Telecom, BES, BPI e Cimpor), nunca o “bolo” dos dividendos do índice superou a fasquia dos 2,5 mil milhões de euros, o que confirma que as empresas portuguesas estão cada vez mais generosas na altura de remunerar os acionistas, apoiadas por uma melhoria significativa dos seus resultados.
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Entre as 19 empresas do PSI-20, 15 vão remunerar os acionistas, mais duas do que no ano passado (regressam BCP e Novabase), sendo que a Pharol, Ibersol, Greenvolt não pagam dividendos. Não é ainda certo se a Mota-Engil vai remunerar os acionistas apesar de ter regressado aos lucros em 2021.
A tendência de aumento dos dividendos é generalizada, com a maioria das empresas a subir a remuneração face a 2021. Entre as 13 cotadas que já revelaram a proposta de dividendo, sete anunciaram valores mais elevados. Nenhuma baixou, sendo que tal pode acontecer apenas com a REN, que anunciou uma nova política de remuneração aos acionistas, que admite um dividendo inferior ao que foi pago nos últimos anos. A companhia liderada por Rodrigo Costa anuncia resultados a 24 de março.
Apesar do dividendo estar estável há seis anos (19 cêntimos por ação), a EDP continua a ser a cotada portuguesa que distribui o valor mais elevado pelos seus acionistas. São 750 milhões de euros, que representam 30% do total do PSI-20. O peso já foi bem superior, uma vez que outras cotadas aumentaram o dividendo. Este ano destaca-se a Jerónimo Martins, que subiu a remuneração em 173% para 494 milhões de euros, um valor que supera o dividendo total da Galp Energia. Isto apesar da petrolífera também ter reforçado a remuneração aos acionistas. Subiu 43% para 413 milhões de euros. Estas três empresas juntas representam dois terços do total que as empresas do PSI-20 vão entregar aos acionistas.
Payout do PSI-20 baixa para 71%
Apesar da subida dos dividendos totais refletir uma política mais atrativa por parte de algumas cotadas, é o crescimento dos lucros que explica o forte aumento do valor que os acionistas do PSI-20 recebem este ano. Ou seja, o recorde dos dividendos é uma evolução saudável, que não foi atingida à custa da deterioração do balanço das companhias. Entre as empresas que pagam dividendos, apenas a EDP e o BCP baixaram os lucros.
As empresas do PSI-20 vão consolidar lucros de 3.483,4 milhões de euros em 2021, o que representa um crescimento de 49% face ao ano anterior. Com os dividendos a crescerem a um ritmo inferior, o payout também baixa. As empresas do índice vão entregar aos acionistas 71% dos lucros obtidos no ano passado, o que compara com o payout de 82,9% em 2021 e de 73% em 2020. Ainda assim, o payout situa-se acima do nível em que os lucros atingiram valores semelhantes aos do ano passado, o que explica os valores recorde que as empresas vão pagar este ano.
A contribuir para este elevado payout está o facto de serem várias as empresas que entregam aos acionistas um valor superior ao lucro obtido no ano passado. É o caso da EDP, Jerónimo Martins, Ramada e Novabase, sendo que a REN também apresenta habitualmente um payout acima de 100%. A Nos também está muito próxima dos três dígitos, surgindo depois mais cinco cotadas com payout acima de 50%.
Na tabela em baixo está o resumo com os indicadores para os dividendos das cotadas portuguesas. Os cálculos do ECO contemplam a remuneração de todas as ações (não têm em conta ações próprias) e para as empresas que ainda não revelaram a proposta de dividendo, ou não publicaram as contas de 2021, foram utilizadas estimativas dos analistas. Depois segue a análise em detalhe ao dividendo de cada empresa. Depois de anunciarem as propostas, os dividendos têm ainda de ser aprovados pelos acionistas em assembleia geral, antes de começarem a ser distribuídos (habitualmente em abril e maio).
Payout da EDP sobe para 114%
A volatilidade nos resultados da EDP não tem influenciado o dividendo por ação da elétrica, que se mantém em 19 cêntimos pelo sexto ano. A remuneração está em linha com a política definida no plano estratégico 2021-2025, que estabelece uma “remuneração aos acionistas atrativa” com um dividendo por ação mínimo de 19 cêntimos e um payout entre 75% e 85%. Com lucros (657 milhões de euros) abaixo do valor total dos dividendos (753 milhões de euros), o payout em 2022 é de 114%. Tendo em conta o lucro recorrente (826 milhões de euros), o payout é de 91%. A rendibilidade do dividendo (dividend yield) é de 4,4%.
Situação “robusta” da Jerónimo Martins justifica “payout extraordinário”
A política da Jerónimo Martins passa por distribuir entre 40% a 50% dos resultados, mas este ano a dona do Pingo Doce decidiu aplicar um “payout extraordinário” devido à “robusta situação financeira do grupo”. O dividendo aumenta 173% para 78,5 cêntimos (dividend yield de 4%), pelo que a empresa vai distribuir quase 500 milhões de euros aos acionistas, o que se situa acima dos resultados líquidos de 463 milhões de euros. A Jerónimo Martins é a segunda cotada do PSI-20 que mais dinheiro distribui aos acionistas.
Galp Energia aumenta dividendo e recompra ações
A Galp Energia definiu uma nova política de distribuição dos lucros, que assume um crescimento anual de 4% face aos 50 cêntimos que serão pagos este ano (metade já antecipado em setembro). Os acionistas vão receber um total de 414,6 milhões de euros, bem acima do ano passado (290,2 milhões), uma vez que a empresa registou prejuízos em 2020. A remuneração não fica por aqui, já que a petrolífera vai gastar 150 milhões de euros num programa de recompra de ações que pretende normalizar nos próximos anos, tal como é hábito nas companhias do setor.
Dividendo da Navigator cresce abaixo do lucro
A Navigator tem sido das cotadas portuguesas mais generosas na remuneração aos acionistas, com várias distribuições de reservas ao longo dos últimos anos. Este ano a companhia aumenta o dividendo em 5%, abaixo do crescimento dos lucros (57%), pelo que o payout regressa abaixo dos 100%. A empresa vai devolver 151 milhões de euros aos acionistas (50 milhões já foram pagos em dezembro), com um dividendo que é dos mais rentáveis do PSI-20 (6,4% no total e 4,3% tendo em conta os 14,06 cêntimos que falta pagar).
Nos reduz payout para 99% após subida de lucros
A Nos habituou os acionistas, ao longo dos últimos anos, a pagar uma remuneração superior aos resultados líquidos. Este ano o payout tem apenas dois dígitos, apesar de muito perto de 100%, já que a operadora manteve o dividendo por ação e aumentou os lucros para 144 milhões de euros (os acionistas vão receber 143 milhões de euros). A rentabilidade do dividendo é superior a 7%.
REN deve baixar dividendo para 16 cêntimos
Segundo as estimativas dos analistas, a REN vai reduzir o valor do dividendo em 6% para 16 cêntimos por ação, depois de sete anos a distribuir 17,1 cêntimos. A confirmar-se, será a única cotada do PSI-20 que encolhe a remuneração dos acionistas. Em maio do ano passado, a companhia apresentou um novo plano estratégico para o período 2021-2024 que revê a política de dividendos, assumindo uma remuneração mínima de 15,4 cêntimos e um payout abaixo de 100%. Ao dividendo unitário de 16 cêntimos corresponde uma remuneração total de 106,8 milhões de euros e uma rendibilidade de 6%.
Dividendo da Sonae sempre a subir apesar de payout em mínimos
A Sonae aumentou o dividendo em 5% para 5,11 cêntimos, mantendo a tendência de subir a remuneração em todos os anos, o que já acontece pelo menos desde 2014. O forte crescimento dos lucros em 2021, em parte devido a mais-valias extraordinárias, leva o payout a situar-se abaixo de 50% e no nível mais reduzido desde pelo menos 2013. A empresa liderada por Cláudia Azevedo vai entregar pouco mais de 100 milhões de euros aos acionistas e apresenta um dividend yield próximo de 5%.
EDP Renováveis tem o payout mais baixo do PSI-20
O pagamento de dividendos está muito longe de ser um dos pontos de interesse do investimento na EDP Renováveis, que apresenta o payout mais reduzido entre todas as cotadas do PSI-20. A empresa tem o compromisso de pagar um mínimo de 8 cêntimos por ação, dando prioridade ao “reinvestimento do cash flow em projetos de crescimento”. Ainda assim, subiu a remuneração este ano para 9 cêntimos, o que representa 13,2% dos lucros e uma rendibilidade bem inferior a 1%. Vai entregar 86,5 milhões de euros aos acionistas.
Altri vai atribuir posição na Greenvolt aos acionistas
A Altri já publicou os resultados de 2021, mas não detalhou ainda a proposta de remuneração aos acionistas. A companhia pretende concretizar a autonomização o negócio de energia, através da entrega da posição direta de 52.523.229 ações na Greenvolt (43,27% do capital) aos seus acionistas, uma proposta de dividendo em espécie que será votada na próxima assembleia geral. Os analistas estimam que a empresa pague um dividendo em dinheiro de 37 cêntimos, o que corresponde a 75,9 milhões de euros (payout de 61,4%).
Sonaecom tem dividendo mais rentável da Bolsa
O dividendo mais rentável da bolsa nacional é da única cotada fora do índice que remunera os acionistas. A Sonaecom duplicou o dividendo para 19,4 cêntimos por ação, depois de também ter duplicado os lucros de 2021. A companhia manteve assim a tendência de entregar aos acionistas metade dos lucros (vai pagar 60 milhões de euros), o que fez o dividend yield disparar para mais de 10%, o mais elevado da bolsa portuguesa.
Semapa mantém dividendo apesar de forte subida dos lucros
A Semapa optou por manter o valor do dividendo por ação em 51,2 cêntimos apesar dos lucros terem crescido 86% no ano passado. Com o payout a descer para 21%, a holding que controla a Navigator vai pagar 41,6 milhões de euros aos acionistas (sobretudo a família Queiroz Pereira). O dividend yield está nos 4,5%.
Corticeira Amorim entrega metade dos lucros aos acionistas
Depois de quatro anos consecutivos a pagar um dividendo ordinário de 18,5 cêntimos por ação, a Corticeira Amorim decidiu este ano elevar o valor para 20 cêntimos. Acrescentando os 8,5 cêntimos que a companhia já pagou antecipadamente em dezembro, os acionistas vão receber um total de 37,9 milhões de euros, cerca de metade dos lucros de 2021.
BCP regressa com dividendo “muito moderado”
O BCP vai regressar aos dividendos este ano, mas a administração do banco já avisou que o valor será “muito moderado”. Se repetir a remuneração de 0,2 cêntimos que foi paga em 2019, o banco liderado por Miguel Maya vai entregar 30 milhões de euros aos acionistas. O payout ficará em 22%, mais do dobro do registado há três anos.
CTT sobe dividendo e arranca com share buyback
Quando entrou em bolsa em 2014, o pagamento de dividendos era o principal atrativo da companhia dos correios. A queda nos resultados obrigou os CTT a cortar com a política de payouts bem superiores a 100%. Ainda assim, este ano a empresa aproveitou a subida dos lucros para aumentar o dividendo em 41%, entregando 18 milhões de euros. Além disso, vai gastar outro tanto num programa de share buyback que visa comprar cerca de 3% do seu capital em ações próprias. O payout é inferior a 50% e o dividend yield fica abaixo de 3%.
Ramada mantém remuneração acima dos lucros
A Ramada Investimentos mantém o valor do dividendo por ação em 60 cêntimos pelo terceiro ano, pelo que vai entregar 15,4 milhões de euros aos acionistas, um valor que continua a ser superior aos lucros (15,1 milhões de euros). Ainda assim, o payout desce substancialmente (superior a 200% no ano passado). O dividend yield é superior a 8% e um dos mais elevados do PSI-20.
Novabase tem o payout mais alto do PSI-20
Depois de não ter remunerado os acionistas no ano passado, a Novabase regressa logo com o payout mais elevado do PSI-20. A tecnológica vai pagar 43 cêntimos por ação, pelo que os acionistas vão receber 13,5 milhões de euros, bem acima dos lucros de 8,7 milhões de euros de 2021 (payout de 155%). A rendibilidade do dividendo é de 9%.
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Cotadas do PSI-20 pagam dividendos recorde. Entregam 71% dos lucros aos acionistas
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