China vence a diplomacia da mentira

Pequim conseguiu censurar um relatório da UE sobre as mentiras que tem espalhado nas redes sociais, expondo uma preocupante cobardia europeia.

A União Europeia cedeu às pressões vindas da China e primeiro atrasou e depois reescreveu um relatório sobre a desinformação digital que apontava o dedo na direção de Pequim, entre outros alvos. A fraqueza da Comissão Europeia é assustadora. O medo que leva a que se curve à China é preocupante, especialmente num momento em que as relações internacionais estão em avançado processo de reconfiguração. Mesmo suavizado, o relatório europeu deixa bem à mostra a política demagógica que emana da China desde que a pandemia começou.

Aliás, é óbvio que o governo chinês esteve sempre mais preocupado em controlar a informação do que o vírus propriamente dito. Às ordens de Xi Jinping, começou por silenciar os médicos que tentaram dar o alerta; depois prendeu e “reeducou” os ativistas que tentaram usar a internet para anunciar o que estava a acontecer; a seguir atrasou e falsificou os dados que foi libertando para a Organização Mundial de Saúde; a seguir tomou controlo da própria OMS, para garantir a sua impunidade; passou para o digital, espalhando teorias de desinformação sobre a origem do vírus, promovendo ações diplomáticas e espalhando teorias da conspiração contra os governos ocidentais. Com o reaparecimento do vírus noutras zonas da China, começou a repetir o ciclo. Pequim tem vários idiotas úteis por conta, e costuma recrutá-los entre os eurocéticos. Que, aliado a isso, tenha um braço armado de desinformação profissional que explora mentiras para tentar reforçar o seu peso no mundo, só reforça a necessidade de olhar para Pequim com maior sentido crítico.

Convém ser claro: A China é responsável pela propagação do coronavírus, visto que optou por não alertar o mundo para a sua existência. Pior do que isso, aproveitou os ritmos diferentes da pandemia para promover uma diplomacia de fachada à custa de propaganda vergonhosa. Pelo meio, enganou governos europeus que gastaram milhões em equipamento clínico defeituoso. Por fim, ainda se entretém em ações de desinformação que visam prejudicar a coesão europeia.
Tudo isto confirma o que já se sabia antes da crise: a China ditatorial não é um parceiro fiável e as suas ações têm consequências muito perigosas para quem aceita as regras do jogo.

Grande parte da atual situação é culpa da própria UE. Graças às políticas restritivas que ajudaram à destruição das economias europeias na última década, os países do sul foram obrigados a vender ativos importantes à China (a EDP e a REN são disso exemplo). Ao mesmo tempo, a estratégia Belt and Road tem levado os chineses a adquirir vários pontos importantes da distribuição global no velho continente, da qual a mais relevante será o porto do Pireu, na Grécia – mas com vários outros exemplos nos Balcãs, na Hungria e na Itália. E, mesmo agora, Bruxelas continua a permitir que a Huawei possa ser um parceiro na construção do 5G.

Tudo isto nasce de um misto de medo, ingenuidade e incapacidade, mas tem de ser rapidamente eliminado. A própria presidente da Comissão, Von der Leyen, anunciou que este mandato serviria para dar a Bruxelas um peso geopolítico real. Infelizmente, o sinal dado com a censura do relatório aponta no sentido contrário.

Ler mais: O documento produzido pela Comissão Europeia em 2019, em que apelida a China de “rival sistémico”, merece ser lido com atenção. É lá que se sintetizam os riscos e se avaliam as oportunidades de uma relação que, já no ano passado, tinha visto melhores dias. Ler este documento à luz da crise provocada pelo coronavírus é esclarecedor.

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