Editorial

Corrupção. De que é que o governo tem medo?

Porque é que o Governo tem uma posição negativa em relação à avaliação da OCDE sobre a reforma da justiça e a corrupção em Portugal? É má consciência?

A OCDE quer incluir o tema da corrupção e os seus efeitos na economia no próximo relatório sobre Portugal e, pelos vistos, o Governo está incomodado com a opção daquela organização internacional, protagonizada pelo antigo ministro Álvaro Santos Pereira. Mas depois do que se passou em Portugal na última década, e estabilizado o país, haverá tema mais pertinente e a exigir uma reflexão e um plano de ação!?

A lista de casos sob investigação, em que o interesse privado, e de privados, se sobrepôs ao interesse público, é longa, e tem caras e nomes. Todos os conhecemos. A sucessão de casos em que o Estado perdeu dinheiro, em que foi capturado por negócios ruinosos, por redes de cumplicidades, em que o Estado foi obrigado a suportar bancos – para salvar os depositantes e o sistema – por causa de falências que estão sob investigação judicial é suficientemente conhecida, e obriga-nos, coletivamente, a dar prioridade a este tema. E aos seus efeitos na economia.

A resposta do Governo às intenções da OCDE de pôr a corrupção como um dos temas do próximo survey sobre Portugal é enigmática. Ou não. Segundo Augusto Santos Silva, citado pelo Expresso, “se o relatório fosse transformado numa simples listagem de ideias feitas, perceções, estereótipos, seria muito errado e Portugal teria de protestar”. Ideias feitas!? Estereótipos!? É mesmo isso que Santos Silva pensa do que sucedeu ao país desde 2011!? O ministro dos Negócios Estrangeiros não está a defender a imagem do país com esta posição, está apenas a revelar que quer continuar a pôr a porcaria para debaixo do tapete.

O problema pode ser outro, sim, o da má consciência. Santos Silva não quererá uma discussão sobre a corrupção em pleno ano eleitoral, a sua preocupação não é o país, é o PS e as consequências políticas deste debate, que surgirá quando se esperam novos desenvolvimentos sobre a Operação Marquês, e particularmente sobre José Sócrates, o primeiro-ministro do PS que levou o país à quase bancarrota. Faz muito mal, a corrupção é um problema do país, é transversal aos partidos, e deveria ser assumido por todos, desde logo este governo, como uma prioridade.

Como o ECO notou, a corrupção foi um dos temas mais relevantes das intervenções de Santos Pereira ao longo do último ano no Twitter. E poderíamos recuar a 2011, a um livro do antigo ministro sobre “Portugal na hora da verdade”, em que definia como prioridade a reforma da justiça e particularmente a luta contra a corrupção.

Este PS, infelizmente, dá-se mal com a justiça, e isso foi visível por exemplo com o processo de substituição da Procuradora Geral da República, Joana Marques Vidal. A reação despropositada à avaliação da equipa de economistas da OCDE, que tem o apoio dos outros países membros no comité em que estes relatórios são discutidos e aprovados, confirma esta tese. De que é que o Governo tem medo?

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