O monstro de Frankenstein e David da Inteligência Artificial: Histórias do século XXI?
Os avanços tecnológicos a que temos assistido nos últimos tempos, especialmente no âmbito da Inteligência Artificial (IA), têm-me feito refletir no que nos torna humanos.
Recentemente voltei a ler uma obra que me apaixonou em adolescente – Frankenstein de Mary Shelley. Considerada a primeira obra de ficção científica da história (publicada em 1818) relata a história de Victor Frankenstein, um estudante de ciências naturais que, empenhado em descobrir os mistérios da criação, acaba por encontrar o segredo da geração da vida e dedica-se a criar um “ser humano” gigantesco.
Em 2001, Steven Spielberg lança o filme Inteligência Artificial. Uma história fascinante em que uma equipa de cientistas de uma empresa chamada Cybertronics cria um robô em forma de criança, de nome David, programado para amar a sua mãe eternamente.
Quase 200 anos separam o livro do filme. A criatura criada por Frankenstein era feita de pedaços de outros corpos humanos e David, um robô. Ambos com sentimentos e abandonados por quem mais deveria de gostar deles (o criador e a mãe).
Os avanços tecnológicos a que temos assistido nos últimos tempos, especialmente no âmbito da Inteligência Artificial (IA), têm-me feito refletir no que nos torna humanos.
É certo que, à medida que a tecnologia vai avançando, vão-se desenvolvendo nos robôs características e capacidades parecendo torná-los cada vez “mais humanos”. Peles sintéticas com sensores eletrónicos permitem reagir ao toque e, recorrendo à Inteligência Artificial, os robôs vão conseguir conversar e desenvolver técnicas de sedução.
Sophia “nasceu” em abril de 2015. A Hanson Robotics apresentou o seu mais sofisticado robô humanoide, capaz de aprender e adaptar-se aos seres humanos, conseguindo interagir com eles. Vimo-la já em Portugal no Web Summit em 2017 e 2018. Não há comparação entre a Sophia com o desajeitado C3PO da Guerra das estrelas.
Num mundo em que os robôs terão a aparência de um ser humano e sejam capazes de ter sentimentos, os relacionamentos amorosos entre humanos e robôs poderão ser naturais, como já o afirmam alguns cientistas.
Sabemos que as emoções, em especial o amor, são das coisas mais profundas e complexas de que somos capazes como seres vivos. Poderemos assistir nos próximos anos a um conhecimento sobre o cérebro humano capaz de o reproduzir com perfeição em máquinas, sendo estas capazes de amar? Poderemos especular que com a nanotecnologia vai ser possível construir neurónios artificiais, com todas as subtilezas dos naturais?
O livro de Mary Shelley e o filme de Spielberg contam uma história. Uma história de sentimentos e de rejeição. Se os robôs desenvolvem sentimentos, sendo capazes de amar, serão também capazes da revolta contra o seu criador, nomeadamente se rejeitados?
*Elsa Carvalho é diretora de recursos humanos da REN – Redes Energéticas Nacionais e vice-presidente da APG
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