O sucesso da EDP
O interesse na empresa mostra desde logo o sucesso da gestão da companhia, sobretudo a sua aposta nas renováveis e no mercado norte americano
A EDP tornou-se numa das joias mais desejadas no mercado europeu de energia. Este interesse mostra desde logo o sucesso da gestão da companhia, sobretudo a sua aposta nas renováveis e no mercado norte-americano. Se a empresa não tivesse sucesso, não despertaria tanto interesse. Uma eventual venda ou fusão da EDP exige que se considere vários participantes. Antes de mais, a vontade dos acionistas. Aparentemente, o maior acionista da EDP, a China Three Gorges, não quer vender e também não parece disposto a uma fusão, onde a sua presença acionista seria enfraquecida. Mas também enfrenta um desafio. Se a pressão para vender aumentar, pode ser forçada a fazer uma OPA sobre o resto das ações da EDP.
Mas há outros acionistas na EDP, e esses também contam. Nomeadamente, dois dos maiores fundos de activos do mundo, o Capital Group e a BlackRock, terão uma palavra a dizer. A sua prioridade é continuar a ver a EDP a crescer, a aumentar os seus resultados económicos para continuarem a receber os bons dividendos dos últimos anos. Quer o Capital Group como a BlackRock estão obviamente satisfeitos com o seu investimento na EDP. Não sendo investidores muito activos, não estarão demasiado empenhados numa venda ou numa fusão da EDP. A não ser que identifiquem algum obstáculo no caminho do crescimento da EDP.
Aqui começam a entrar os factores políticos. Para os investidores financeiros da EDP, o crescimento no mercado das renováveis nos Estados Unidos é decisivo. Sabem que é desse mercado que poderão vir grande parte dos lucros no futuro. No actual clima de confronto comercial e económico entre os Estados Unidos e a China, a questão que se coloca a esses investidores financeiros é a seguinte: poderá a nacionalidade do maior acionista da EDP transformar-se num obstáculo ao crescimento no mercado norte-americano? As autoridades europeias também preferem ver investidores europeus nas principais companhias de energia do mercado europeu. E os dia da troika, em que o preço é que contava, já vão longe.
Há ainda um terceiro factor relevante: a competição entre os gigantes da energia europeia agravada pela fusão entre as alemães da E.ON e da RWE, transformando a última na segunda maior companhia no mercado eólico europeu, atrás da Iberdrola mas, e aqui é um dado importante, à frente da francesa Engie. Há claramente uma competição franco-alemã no sector da energia, à qual os respectivos governos não são indiferentes. Berlin deu a benção à fusão entre a E.ON e a RWE. E Paris dará a benção à estratégia de crescimento da Engie, a qual pode passar pela aquisição da EDP.
Mas a Engie não estará sozinha no interesse pela EDP. Quando um mercado se agita, a competição aumenta. A Gas Natural e a Enel também estão na corrida. A China Three Gorges irá resistir, a não ser que as ofertas sejam demasiado atrativas. Os investidores financeiros, o Capital Group e a BlackRock, veriam com bons olhos uma venda ou uma fusão da EDP com outra europeia. O governo português também terá uma palavra a dizer. Até agora tem-se mantido fiel à herança da troika e ao lado do principal acionista da EDP. Mas as coisas podem mudar e quem sabe se um não à Gas Natural (e a Rajoy) não se poderá transformar num sim à Engie (e a Macron). Afinal de contas, Portugal tem um PM para quem quase tudo é negociável. Desde que seja de um modo hábil.
Nota: O autor escreve de acordo com o antigo acordo ortográfico.
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