Editorial

Os poemas de Costa Silva

O ministro da Economia, António Costa Silva, está a transformar-se num político, e não é um elogio. Agora, anda a recitar poesia sobre a Efacec.

António Costa Silva é um apaixonado pela poesia, uma espécie de “descanso do espírito“, nas palavras do próprio. E os últimos meses revelam que está a aprender rapidamente a arte da política, ou a agitação do espírito. Talvez por isso, o ministro da Economia insista em recitar-nos poemas em torno da Efacec e dos resultados de mais um processo de reprivatização.

Há propostas para a reprivatização da Efacec que preveem a “possibilidade de o Estado recuperar algum do capital” que injetou na empresa, adiantou esta quarta-feira o ministro da Economia e do Mar, numa audição no Parlamento. Dito assim, até parece que há ofertas milionárias pela empresa industrial e que o Estado vai fazer um grande negócio. Mas Costa Silva sabe a verdade, e sabe que está a contar uma mentira. O Estado já pôs mais de 200 milhões de euros na Efacec desde que decidiu a sua nacionalização maioritária, vai ter de pôr mais dez milhões por mês até à “venda” e vai ter de assumir perdões de dívida e capitalização. O Estado vai ter de pagar para vender a Efacec e só falta mesmo saber quanto é que isso custará aos contribuintes.

O pecado original não é de Costa Silva, mas de Pedro Siza Vieira, que decidiu a nacionalização. Só que o ministro, até por isso, tem a obrigação de dizer a verdade aos portugueses sobre o que está em causa nesta operação, justificada em tempos por ser uma empresa estratégica.

Há vários candidatos à Efacec, mas obviamente não é exatamente uma venda que está em causa. A Efacec tem (ou tinha) competências e trabalhadores altamente qualificados, mas estes anos foram uma desgraça para a empresa. Perdeu clientes, perdeu faturação, ganhou dívida, perdeu recursos humanos. E o que sobra?

As várias propostas pela Efacec — a maior parte pela globalidade da empresa, para dividir logo a seguir — exigem corte total ou parcial de dívida e capital. E admitem que se o negócio que daí resultar vier a ser positivo no futuro o Estado poderá receber alguma compensação sob a forma de ‘earnout’ ou até de ações dessa empresa. Um resultado tão incerto como Portugal vir a ser campeão europeu de futebol outra vez nos próximos 50 anos (obrigado, Fernando Santos). Mas é isso que o ministro da Economia nos está a vender. É pura poesia. Mas como não será este ministro nem este Governo a estar em funções quando for necessário fazer as contas, o que conta é a narrativa presente.

A Efacec é o retrato do país. O consumo de capital que deveria ter sido dirigido a empresas inovadoras e produtivas, a aplicação de capital que, por causa das escolhas públicas, acabou afundado e não vai ser recuperado. A história repete-se, e não aprendemos.

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