Qual é a aposta política dos empresários e gestores?
Os empresários e gestores estão com António Costa, contra Rui Rio. Por interesse, não por convicção, porque continuam a criticar o Governo em privado, Depois não se queixem.
A três semanas das legislativas, as sondagens são o barómetro científico para avaliar as posições relativas de cada um dos partidos, e as que se conhecem até agora são relativamente consensuais sobre o grande vencedor e o grande derrotado na noite de 6 de outubro. Mas há outro indicador antecipado das eleições. Com quem estão os empresários e gestores, com Costa ou com Rio?
Durante quatro anos, os empresários e gestores andaram a queixar-se de Costa, das políticas redistributivas e da generosidade com a Função Pública e com as corporações que vivem na órbita do Estado, das políticas para o consumo e não para o investimento. Estas elites — sim, são elites — queixaram-se mais em privado do que em público, não gostaram da indiferença do Governo em relação ao setor privado, ano após ano, orçamento após orçamento, e quem os ouviu só poderia esperar que, ao fim de quatro anos, fossem ativos no discurso alternativo ao do PS ou, no mínimo, apoiantes discretos da agenda de Rio. O que se vê?
Esta semana, António Costa e Rui Rio foram convidados pela Câmara de Comércio e Indústria Portuguesa a prestarem contas, a responderam aos empresários e gestores presentes. Os programas eleitorais são conhecidos e é fácil dizer que Rui Rio tenta falar ao setor privado, com descidas de impostos, particularmente no IRC, enquanto Costa promete fazer mais do mesmo. Os empresários e os gestores estão do lado de Rio, certo? Errado. Pelos vistos, estão confortáveis com a política económica do Governo PS com o apoio do BE e do PCP. Tempos estranhos? Nem por isso. O Estado continua a ser um grande cliente ou, pior, tem instrumentos de coação que põem os empresários e gestores em sentido.
António Costa “encheu” a sala histórica da Câmara de Comércio, Rui Rio foi, com esforço, pouco além de uma sala composta. Costa foi recebido pelo presidente da Câmara de Comércio, Bruno Bobone, Rio só teve direito ao vice-presidente, Miguel Horta e Costa. As perguntas colocadas ao líder do PS foram muitas, as crónicas noticiam que apenas uma pergunta da “plateia de empresários” foi feita ao presidente do PSD. Afinal, estavam lá para almoçar…
Os empresários e gestores escolheram o seu lado, mais por interesse, menos por convicção, discordam das políticas, mas trocam a estabilidade e previsibilidade que lhes foi dada por Costa (especialmente por ter domado o BE) nos últimos quatro anos pelas promessas de outro futuro com Rio, em quem não acreditam. Alguma vez acreditaram?
Já vimos este quadro, em 2009, quando José Sócrates tinha o apoio do setor empresarial (algum dele, sabe-se, não pelas melhores razões), contra Manuela Ferreira Leite, que bem alertou para os riscos do país bater na parede. Agora, num contexto diferente, porque também a União Europeia não nos deixaria ir abaixo como fomos em 2011, os empresários e gestores estão do lado do Governo PS, apesar das críticas que mantêm, mas sempre em privado. Ninguém ouve um líder empresarial a dizer que o rei vai nu (e infelizmente os que tinham a independência para o fazer desapareceram nos últimos anos). Depois, não se queixem.
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