Sete certezas e uma dúvida sobre a remodelação
António Costa guardou a sua bomba atómica para o momento certo. E, seguindo os manuais, mudou de caras para não mudar de políticas. Mas haverá gato escondido com rabo de fora?
António Costa fez uma remodelação para limpar o ambiente. Os ministros que saem já não tinham a energia para prosseguir, nem aura para ir a votos.
- António Costa fez uma remodelação a pedido. A pedido das corporações, que (por motivos diversos) já não ouviam ou respeitavam os seus interlocutores. Senão, mesmo, a pedido dos próprios ministros – como adianta no Público a jornalista São José Almeida, bem conhecedora dos meandros do PS. Não sei se isso é seguro, mas seguramente ajudava a explicar por que razão o ministro da Educação não sai também.
- António Costa chamou ministros novos, mas não lhes deu poder real: estando pronto e aprovado o último Orçamento da legislatura, nenhum dos que entra terá margem de manobra para fazer diferente; com o ano eleitoral mesmo ao virar da esquina, nenhum terá tempo ou margem política para deixar marca.
- António Costa provou manter intacta a sua capacidade de recrutamento. Conseguir chamar para o Governo pessoas vindas de fora da política, apenas a um ano do fim do mandato, diz muito sobre a expectativa dos novos ministros numa reeleição confortável. E, assim, diz muito sobre a força política do primeiro-ministro.
- António Costa mantém intacta a sua habilidade política: no momento em que estamos, só mesmo um diplomata para tentar acalmar os militares.
- António Costa não quis dar “peso político” ao seu Governo. Quis pôr nele gente qualificada, mas que não tem como lhe dizer que não, para garantir coesão na reta final.
- António Costa ignorou o PS. Deixou de fora eternos disponíveis como Carlos César e Manuel Pizarro e foi buscar dois “independentes”, reforçando um outro (Pedro Siza Vieira). Do PS, só recuperou Graça Fonseca – que é mais amiga dele do que militante do partido.
- Por tudo isto, é certo que António Costa conseguiu, com esta remodelação, limpar o ambiente sem mudar nada de estrutural: na Saúde e Economia não vai haver nova política – só o respirar fundo que os novos protagonistas ajudam a ganhar; é claro que na Cultura a política já tinha mudado, porque Costa desautorizou o ministro cessante, percebendo que bastavam alguns milhões para recuperar um setor que é central para o PS; é claro que na Defesa a única dúvida que resta é se o Chefe de Estado-Maior do Exército sai já ou só em abril, no fim do seu mandato.
- A única dúvida que esta remodelação nos deixa é sobre o que vai acontecer na energia. Sendo evidente que Siza Vieira não podia assumir a pasta, por clara incompatibilidade, é também evidente que a saída da pasta para o Ministério do Ambiente não implicava a saída de Jorge Seguro Sanches, o secretário de Estado que tirou o sono (e uns milhões) à EDP. Será que esta remodelação traz gato escondido com rabo de fora?
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