Brasil tem a maior representação na cimeira: são mais de 600 pessoas e 280 startups a usarem Portugal como porta de entrada para a expansão internacional.
Apaixonado pelo negócio, flexível nas horas de trabalho e cheio de vontade para conquistar o mundo. Assim se apresenta o Brasil na edição de 2022 da Web Summit. São 280 as startups e empresas tecnológicas a representaram o país com a maior participação de sempre na cimeira. Usar Portugal como porta de entrada para a expansão internacional é o principal objetivo.
O maior sinal de presença do Brasil na Web Summit está no pavilhão 3. Perto de uma das portas, podemos encontrar um espaço com 225 metros quadrados e dois pisos, onde não faltam apresentações no palco e reuniões privadas em salas independentes. A presença do país na cimeira resulta de uma parceria entre o serviço de apoio a pequenas e médias empresas (Sebrae) e a agência de investimento APEX (equivalente à AICEP).
“O Brasil é um mercado muito grande. Temos 22 mil startups no nosso país. Há setores onde somos muito fortes a nível tecnológico, como a agricultura, área financeira, educação e saúde. O que diferencia as startups brasileiras é a adaptabilidade às culturas e necessidades dos mercados. Também temos uma grande criatividade”, avalia ao ECO a responsável de competitividade da APEX, Clarissa Furtado.
Não muito longe dali encontramos a Dio, startup que corresponde às forças do Brasil. “Somos uma empresa de educação de recursos humanos. As pessoas estudam gratuitamente, independentemente da sua senioridade. Há cursos de tecnologia para que as pessoas se desenvolvam”, apresenta Iglá Generoso junto ao seu pequeno espaço de exibição. Para o responsável desta empresa, “o fundador brasileiro é muito apaixonado pelo seu negócio e transforma-se num workaholic na hora em que for preciso, não vê limites na sua criatividade e nas horas de trabalho. O empreendedor brasileiro é um guerreiro”.
O que diferencia as startups brasileiras é a adaptabilidade às culturas e necessidades dos mercados. Também temos uma grande criatividade
A Dio é apenas uma das 280 empresas que vieram na comitiva oficial do Brasil. Mais de 200 vieram por conta da Sebrae; as restantes 70 estão integradas numa missão de internacionalização da APEX. “A Web Summit é uma porta formidável. Os brasileiros estão a investir massivamente em inovação, ciência e tecnologia. Isso vai trazer uma melhoria da sociedade”, nota o presidente do Sebrae, Carlos Melles.
A Aghora, solução para gestão dos trabalhadores e do seu tempo, é uma das empresas que chegou a Portugal com apoio da agência de investimento na hora de pagar o bilhete. “Estamos aqui porque queremos internacionalizar a empresa. Por conta da facilidade da língua, estamos a fazer em Portugal a validação do produto, falando com outras empresas e culturas”, explica Ricardo Salto. Para este fundador, o Brasil destaca-se pelo “custo do produto”, já que, um euro vale cinco reais.
O “camaleão” brasileiro
Junto ao espaço do Brasil na Web Summit há um pequeno robô cinzento que não se cansa de fazer movimentos. É um dispositivo colaborativo da AiRobots, pronto para ser usado no comércio, em fábricas ou mesmo para fazer testes de diagnóstico à Covid-19 sem risco de contaminação. “Portugal tem uma grande proximidade cultural e linguística com o Brasil. Se abrirmos um escritório na Europa, pensamos em Portugal como base, pois é muito mais estratégico”, destaca a líder da empresa, Luma Boaventura.
Para a responsável, o fundador brasileiro “é alguém com muita criatividade” e que tem uma “flexibilidade gigantesca”. Além disso, “tem um jogo de cintura muito grande. Isso faz o brasileiro ser uma espécie de camaleão, capaz de caminhar em diversos mercados”.
Mais ligado às pessoas é o negócio da Directto, montra para empresas nascida na Amazónia para distribuição de alimentos e de outros bens com respeito pelo comércio ético. “Entrar no mercado português é um processo natural. Lisboa é um grande hub de inovação mundial. Aqui temos uma junção de qualidade de vida, uma população muito cosmopolita e a porta de entrada para a Europa. A cidade reúne todas as condições para estarmos num mercado global”, ambiciona Nei Oliveira, fundador desta empresa.
Startups agnósticas às eleições
A comitiva brasileira chega à Web Summit dias depois de as eleições terem dado a vitória a Lula da Silva. Para os fundadores e as entidades oficias, a vida continua. “A APEX é uma instituição técnica. Trabalhamos há 25 anos e temos uma atuação de médio e longo prazo. É uma estratégia que não muda“, refere Clarissa Furtado, da APEX. Do Sebrae, Carlos Salles nota que as mudanças no Brasil “são para somar” e que o serviço de apoio às empresas “são os braços e as pernas do Governo para implementação de políticas públicas”.
Luma Boaventura assume uma postura mais agnóstica e considera que o resultado das eleições “não muda nada. As indústrias continuam da mesma forma, com os investimentos que estavam propostos para este ano. Temos de seguir a vida independentemente da política, algo que o empreendedor aprende a fazer”.
A atitude é corroborada por Iglá Generoso: “a eleição não muda nada. Somos apartidários e trabalhamos com a filosofia de construir oportunidades.” Menos neutra é a postura de Nei Oliveira. “A eleição do Lula é muito favorável à bioeconomia da Amazónia. A tendência é que o Brasil assuma de novo o protagonismo da sustentabilidade.”
Resta saber que efeitos vai ter em Portugal a presença de uma comunidade brasileira tão significativa na Web Summit deste ano. E do que poderá resultar da expansão da cimeira tecnológica ao mercado brasileiro que, em maio de 2023, recebe a primeira edição da Web Summit. No que depender de Carlos Moedas, a cimeira permitirá reforçar a presença deste país em Portugal. “Espero que a Web Summit no Brasil ajude a atrair mais pessoas para cá e não o contrário”, referiu na quarta-feira o presidente da câmara de Lisboa.
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“Camaleão” brasileiro à conquista da Web Summit para entrar na Europa
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