Os motoristas de matérias perigosas avisaram que vão avançar para greve a 23 de maio. Alguns condutores já foram atestar o carro para garantirem um depósito cheio.
A manhã foi mais atarefada do que o esperado para Paulo Freitas. O posto de abastecimento onde trabalha abriu às 7h00, como habitual, mas, uma hora depois, a enchente que viu já era fora do normal. O pré-aviso de greve dos motoristas de matérias perigosas, apesar de ter data marcada para daqui a duas semanas, fez soar os alarmes e alguns lisboetas aproveitaram as primeiras horas da manhã para garantir que o depósito estava cheio.
“Estava tudo doido, começou tudo a vir atestar”, conta Paulo, num momento de descanso. Depois da última greve dos motoristas ter parado o país, e motivado uma corrida às bombas, ninguém quer ficar apeado. Neste posto de rua, em Campo de Ourique, foram vendidos 500 litros, só de Galp Frota, no dia anterior ao aviso. Nesta quinta-feira, às 11h30 da manhã, já tinham sido despachados de mil litros, revela.
Apesar do ritmo por vezes constante, com carros a entrar e a sair, uns a seguir aos outros, a fila na rua Correia Teles nunca foi demorada. Um dos clientes, Hugo Mesquita, não tem dúvidas de que vai tomar precauções antes de o momento chegar. “Preciso do carro para trabalhar, tenho de encher o depósito antes”, aponta. Na última greve, também atestou o depósito com antecedência e agora acompanha “com cuidado” o desenrolar das negociações. Na fila para pagar, Helena também esteve atenta às notícias e quis evitar surpresas. “É o máximo que posso fazer”, justifica, já com depósito cheio.
“É melhor prevenir do que remediar.” É assim que Graça Júlio explica a sua ida à bomba nesta quinta-feira. Mesmo sabendo que ainda faltam uns bons dias para a paralisação, Graça quer garantir que fica com o deposito cheio, porque “nas vésperas é capaz de haver muita gente”. “Da última vez fui apanhada de surpresa, de maneira a que nem saí de casa porque não tinha gasolina”, conta ainda Graça.
Este parece ser um fator determinante para a atitude dos portugueses: garantir que desta vez a paralisação não será uma surpresa. Este posto de abastecimento recebe um carregamento de combustível uma vez por semana, às segundas-feiras, e por isso é que, em abril, quando não receberam o gasóleo devido à greve dos motoristas, o combustível acabou rapidamente. “Se soubéssemos com antecedência tínhamos abastecido no domingo”, e já não havia problema, adianta Paulo.
Fé nas negociações
Mas nem todos ficaram alerta. João Mendes é um dos condutores que se mostra despreocupado. “Da última vez também não fui a correr por gasolina no carro”, recorda. O condutor diz que não tem por hábito “ir atrás das confusões”, mas também confia que, com as negociações, a situação se possa resolver. “Até lá ainda há muito tempo, não há necessidade para alarmes”, reitera.
O Ministério das Infraestruturas e da Habitação está em contacto com Associação Nacional de Transportes Públicos de Mercadorias e o Sindicato Nacional de Motoristas de Matérias Perigosas, e garante que “continuará os esforços para que as partes se entendam e a greve seja desconvocada”, referiu fonte oficial do ministério ao ECO.
Aos ouvidos de Mafalda ainda não chegaram as notícias. “Ouvi algo vagamente, mas não liguei”, reflete, enquanto espera para atestar o carro. Na verdade, diz, só ficará preocupada com a greve se tiver uma viagem marcada perto desse dia. “Aqui em Lisboa, se não tiver gasolina, ando a pé”, desdramatiza. Não é a única que deixa o trabalho para os pés, sendo que, para outro dos clientes de Paulo, os sapatos serão o seu veículo se o combustível faltar.
Um taxista de passagem pela bomba anuncia que “quando acabar o gasóleo não há táxi para ninguém”. Verdade seja dita que, quando os motoristas de matérias perigosas pararam, muitos setores do país foram afetados. No que toca a meios de transporte, apenas os ciclistas e os condutores de motores elétricos é que ficaram, e vão continuar a estar, completamente descansados, sendo que até o metro admitiu a possibilidade de ser afetado.
Mas, desta vez, o país poderá estar mais preparado. Paulo Freitas está convencido que será possível resolver este impasse, mas mesmo que os motoristas avancem para a greve, “os postos já estão prevenidos”. Além disso, também não apanha a Páscoa, período de férias por excelência, timing que exacerbou o efeito da última vez.
A Associação Portuguesa de Empresas Petrolíferas diz que vai, tal como já fez na anterior paralisação, reforçar os abastecimentos dos postos. “Já foi acautelada na última situação de greve”, sendo que agora voltarão a ser atestadas as “bombas” no sentido de evitar situações de disrupção. Mesmo assim, está apreensiva perante a perspetiva de “perturbação” que esta nova greve poderá trazer.
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“É melhor prevenir do que remediar.” Portugueses já estão a atestar em antecipação à greve
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