A entrada na universidade é o momento que marca a independência de muitos jovens. Para aqueles que saem de casa dos pais, é a primeira vez a viver sozinhos. Mas antes da festa, vem a procura.
Chega setembro e, com ele, o novo ano letivo. Enquanto para muitos isto significa comprar material escolar e abrir os livros acabadinhos de comprar, para outros significa pôr mãos — e pés à obra — e começar à procura de uma nova casa. Este é o caso dos universitários que, para seguirem a sua vocação ou o seu sonho, atravessam quilómetros de terra e até de oceano e esperam encontrar nessa nova localização um novo lar.
As técnicas são muitas, desde optar pelas tradicionais residências, passando pelos grupos do Facebook e pelas páginas oficiais das imobiliárias, terminando nas placas penduradas nas janelas. Mas, nos últimos tempos, parece difícil encontrar opções que preencham as medidas completas dos estudantes, com a oferta a ser limitada e os preços a subir. O ECO saiu à rua e acompanhou alguns estudantes no processo de procura de casa.
Encontrar casa é fácil, o problema é o preço
Mariana Tiago veio para Lisboa para estudar jornalismo. Ainda esteve indecisa em relação à escolha da faculdade, mas acabou por escolher a Nova. “Há aquela dúvida entre a teoria e a prática, mas baseei-me na empregabilidade e no prestígio da faculdade”, afirma, ao ECO, a caloira. No dia 9 de setembro descobriu que tinha entrado em Ciências da Comunicação e foi aí que, vinda de Reguengos de Monsaraz, iniciou a procura.
Sendo a primeira da sua família a optar por fazer o ensino superior em Lisboa, o orçamento adaptava-se ao que queria gastar e não às ofertas da cidade. Começou nos 200 euros com despesas, mas rapidamente se apercebeu que era um objetivo irrealista: “Procurava preço mais baixo, mas a oferta não era muita e era repetitiva, porque só encontrava casas baratas na periferia”, confessa.
"Quando não tinha foto, não confiava muito.”
Rita Gateira também veio de Évora para o curso de Gestão no ISEG, mas teve uma experiência diferente da sua conterrânea. Diz prontamente que procurar casa em Lisboa “até foi fácil”. Bastaram-lhe três semanas de pesquisa para encontrar um quarto “a bom preço” na Avenida da Liberdade, uma zona que diz saber ser “bem cara”. Como? Consultou vários sites, desde Uniplaces, Olx, Sapo… “até que a minha mãe descobriu o Bquarto, o site onde acabei por encontrar o sítio onde estou”, conta. O principal filtro para a escolha foram as fotos. “Quando não tinha foto, não confiava muito”, recorda a estudante.
No novo lar, ocupa um dos seis quartos. O seu, que “é pequenino mas é bom”, vai custar 270 euros por mês com as despesas incluídas. Duzentos euros vão ser cedidos pelos pais e os restantes 70 vão ser retirados de uma conta onde acumula as suas poupanças desde que era pequena. Excedeu assim em 20 euros o orçamento para alojamento, que tinha como limite os 250 euros.
Vencidos pelo cansaço
António Trovão é agora colega de faculdade e de curso da Rita. Cresceu em Leiria e já tem 19 anos, porque no ano anterior estudou na Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade Nova, na Caparica. “Encontrar casa lá em baixo é mais fácil, claramente!”, remata sem dúvidas. No último ano, António viveu “numa casa nova, nas zonas mais caras”. Este ano, foi vencido pelo cansaço.
“Comecei em julho e só em agosto é que consegui”. Não chegou a fazer visitas, porque o site Uniplaces não o permite. Agora vive em Entrecampos e paga 375 euros por mês — 25 euros acima do teto que tinha definido. Tem três colegas de casa que ainda não conhece, mas diz já estar habituado à dinâmica pela experiência do primeiro ano de faculdade. Quanto às condições da casa, apesar de a considerar “aceitável”, tem o mesmo defeito que vê em todas as casas de Lisboa: “São muito velhas”.
Ainda que o cansaço pudesse tomar conta de si, Mariana continuou a sua saga. À medida que a área de procura se circunscrevia à área da faculdade “as condições pioravam e os preços subiam”. De todos os quartos que procurou, lembra-se de casos particulares que revelam as condições que outros tantos encontram e têm de aceitar. “Vi quartos no sótão, outros em que o espaço era tão limitado que abria a porta e quase que batia na cama, parecia uma dispensa”, enumera Mariana. “E aquelas que só têm uma casa de banho para seis pessoas.”
"Vi quartos no sótão, outros em que o espaço era tão limitado que abria a porta e quase que batia na cama, parecia uma dispensa. E aquelas que só têm uma casa de banho para seis pessoas.”
Com o relógio em contagem decrescente para o início das aulas, o orçamento foi obrigado a alargar e Mariana acabou por escolher um quarto perto da faculdade, mas 140 euros acima o objetivo inicial. Vai apenas dividir casa com três pessoas e não vai ter de pagar as despesas — luz, água, gás e internet — à parte.
Viver em Lisboa custa mais 100 euros que viver no Porto
Se os novos alunos chegam com ideias de poupar o máximo possível nas despesas obrigatórias, como é o caso do alojamento, da alimentação e dos transportes, por vezes — e como foi o caso de Mariana — os esforços são inglórios. Segundo dados da Uniplaces, que analisou os custos básicos de viver nas duas maiores cidades do país, um estudante gasta 601 euros mensais, em média, para viver em Lisboa. Na cidade do Porto, a mesma vida custa cerca de 498 euros mensais.
A maior fatia das despesas é dedicada ao alojamento, com o custo médio mensal de um quarto em Lisboa a localizar-se nos 364 euros, enquanto no Porto este está nos 272 euros. As despesas com alimentação ocupam o segundo lugar no orçamento mensal dos estudantes do ensino superior, com estes a necessitarem de cerca de 210 euros em Lisboa e 204 euros no Porto, por mês.
Fonte: Uniplaces
As deslocações são o que sai mais barato. Tendo em conta os descontos para estudantes que entraram em vigor este ano letivo, que permitem poupar 25%, em Lisboa, o preço médio do passe é de 27 euros mensais. Na Invicta, esta despesa fica pelos 22 euros mensais.
Um estudo da mesma empresa aponta para que, em Lisboa, os estudantes prefiram a zona de Arroios, com a renda mensal a rondar os 338 euros, seguindo-se depois São Sebastião, em que um quarto vale em média 397 euros, e Alameda, com a média a 369 euros por mês. Curiosamente, nenhum dos três estudantes com quem o ECO falou optou por estas áreas. Na cidade Invicta, a zona mais procurada é a de Paranhos, onde as rendas custam em média 258 euros por mês. Bonfim e Cedofeita vêm depois, com rendas mensais a rondarem os 270 euros.
Depois da procura, as considerações finais
Em vídeo, e já na nova casa, Mariana Tiago deixou ao ECO as suas considerações finais acerca de encontrar casa em Lisboa. “A minha busca por quarto em Lisboa parece ter sido bastante simples, mas na verdade não foi…”, considera.
Ainda assim, parece que o pior já terá passado. Estes três jovens começam o novo ano letivo e a nova fase da sua vida esta segunda-feira. Para Mariana, as expectativas passam agora para a faculdade: “Estou com vontade de começar as aulas e de ver os professores. O curso vai ser bom”, garante, esperançosa, a futura jornalista.
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Nem só quem casa quer casa. Os novos universitários também
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