Considerada um dos hubs mais fervilhantes da Europa, Berlim atrai talento do mundo inteiro mas quer mais. Dentro das startups, 43% dos trabalhadores já são estrangeiros.
“É impossível recriar ou copiar Berlim. Mas podemos sempre aprender uns com os outros“. A frase, dita por Carl-Philipp Wackernagel, da Berlin Partner, é repetida várias vezes em diferentes formas durante os seis dias de visitas pela cidade. E se, em 2017, as novas empresas do Velho Continente conseguiram 16,1 mil milhões de euros de investimento (de acordo com o State of European Tech Report, da Atomico), só na primeira metade de 2017, investiram-se 1,58 mil milhões de euros em startups na Alemanha: 68% nasceram e vivem em Berlim. “Não há melhor sítio para captar dinheiro na Europa do que em Berlim”, garante.
Na cidade, a comunidade é enorme: mais de 50 aceleradoras e incubadoras, mais de uma centena de espaços de cowork e mais de 500 startups criadas por ano. Por isso, não é por acaso que empresas como a Siemens, a Pfizer, a Visa e a Microsoft têm pessoas dedicadas a startups — os startup guys — abertos a pitch: é em Berlim que agora recebem as novas ideias e que querem ser contactadas.
De acordo com os dados da Berlin Partner, na cidade vivem mais de um milhão de pessoas com menos de 30 anos. E é, regra geral, dessa massa de talento que se faz a maior parte do ecossistema empreendedor, em todo o mundo. Com uma vantagem: em Berlim, o custo de vida é muito inferior a outras cidades que vê como concorrentes: um quinto de Londres e metade de S. Francisco, a título de exemplo.
“Nas startups, o ambiente é o mais internacional possível: fala-se inglês, as equipas são internacionais e, em média, existe provavelmente um alemão por equipa fundadora“, explica Carl-Phillipp. Foi essa premissa que serviu de mote à campanha lançada pelo jornal Morgenpost. “É Berlim quando não sabemos se é um CEO ou um sem-abrigo”, explica sobre o anúncio e sobre a diversidade da cidade.
“Qual é a história de Berlim? Foi o ecossistema que se criou. Poor but sexy. Foi isso que atraiu as pessoas“, assinala Norbert Herdman, responsável pelo departamento dos Assuntos dos Comissários da Economia que pertence ao departamento do Senado para a Economia, Energia e Negócios de Berlim. “A maioria das startups pertence à área da tecnologia e inovação. O que quer dizer que algo se passa em Berlim”, assinala. Anualmente, são criadas na cidade mais de 40.000 novos negócios o que faz com que, se há dez anos a cidade contava com uma taxa de desemprego a rondar os 20%, agora fica-se pelos 3%.
“Em Berlim, o talento é o primeiro atrativo. É limitado, até agora. Por enquanto, não há assim tantos campeões mundiais a sair de Berlim. Acho que demora tempo e que o mais importante é termos talento”, explica Till Neatby, da startup de Berlim Marley Spoon.
Quando um ecossistema cabe numa revista
“A nossa missão, desde o primeiro dia, foi: informar, inspirar e servir de ligação à economia digital”, começa por dizer Frank Schmiechen, chefe de redação da revista GrunderSzene. Com uma equipa de 75 pessoas, a redação conta com 15 jornalistas. Os outros trabalhadores — cuja média de idades é de 31 anos — dividem-se por outras áreas de negócios ligadas ao marketing, eventos e à bolsa de emprego, as principais fontes de receita da empresa. O dono da revista é o Vertical Media, grupo de media alemão e que será o “único grupo de media que ganha mesmo dinheiro na Alemanha”, garante Frank.
Temos de integrar as startups estrangeiras e as suas culturas. E deixar esta aversão ao medo que, na Alemanha, é cultural.
As marcas do Vertical Media — incluindo a versão diária online da revista GrunderSzene — chegam aos leitores sobretudo através das redes sociais: o Facebook é a maior fonte de tráfego do site. “Faz parte do ADN da empresa fazer tudo do zero e, um dos fatores do nosso sucesso foi não estarmos estruturalmente ligados a nada”, acredita Frank.
Nascida como um negócio B2B, os empreendedores eram, no início, o objeto e os leitores da revista. “Tínhamos de crescer depressa, mas tínhamos de nos focar”, justifica Frank. Porquê? Porque, além de escrever sobre o ecossistema berlinense de startups, a GrunderSzene é, ela mesma, uma startup: começou como blog em 2006 e, em 2009, transformou-se em empresa que, em 2014, foi adquirida pela Axel Springer. Em 2016, além da revista anual da GrunderSzene em papel — que todos os anos publica um ranking com as maiores startups com base na Alemanha — com uma tiragem de 15.000 exemplares, o grupo criou outras duas marcas: uma dedicada à alimentação e outra, direcionada para a mobilidade. “Queríamos chegar às grandes empresas. Com as novas áreas, duplicámos as audiências”, explica Frank, sobre a estratégia do grupo. “Temos de integrar as startups estrangeiras e as suas culturas. E deixar esta aversão ao medo que, na Alemanha, é cultural”, explica. Onde é que eu já ouvi isto?
“É preciso promover uma cultura de startups na Alemanha. Elas vieram para ficar e são importantes para a economia”, explica Daniel Salgado-Moreno, partner manager da German Startup Association (GSA) — que fez parte da European Startup Network — concorda. Com cerca de 750 membros, a associação tenta defender os interesses e os direitos das startups junto de instituições governamentais a nível nacional e europeu.
“Representamos as startups e os seus interesses ao mais alto nível político e institucional”, explica o mexicano, a viver em Berlim há mais de três anos. A ONG faz anualmente estudos sobre startups e não nega a preponderância de Berlim sobre o resto do país: de acordo com dados da GSA, 35% das startups conseguem financiamento do Estado e, na maioria dos casos, não são financiadas por VC (Venture Capital). “Mas em Berlim é ao contrário”, explica Daniel. Outra característica que faz parte do ecossistema alemão é o facto de as empresas muitas vezes nem considerarem expansão para mercados externos. “Quase 80% das startups estão presentes no mercado alemão”, detalha. Com um modelo de sustentabilidade com base nas subscrições da comunidade — startups, fundos de capital de risco e grandes empresas como a KPMG ou a Google, entre outras.
“Trabalhamos os aspetos cool da cidade de cada vez que falamos com empresas internacionais“, explica Carl-Philipp Wackernagel, da Berlin Partner. A agência económica da cidade trabalha no desenvolvimento económico de Berlim, no sentido de atrair investimento. Essa estratégia é uma das razões para Berlim ter subido para o 7º lugar no ranking do Startup 2017 quando, nem sequer constava do ranking em 2011.
"Muitas fábricas fecharam depois da queda do muro e a cidade e a economia tiveram de reinventar-se para recriar a grande economia do centro da Alemanha.”
Carl-Phillipp acredita que uma das razões do sucesso de Berlim no nascimento e crescimento dentro do ecossistema europeu se deve à própria história da cidade. “Antes da reunificação, Berlim era uma cidade industrial e o muro fazia com que se desperdiçasse muito espaço mesmo no centro. Muitas fábricas fecharam depois da queda do muro e a cidade e a economia tiveram de reinventar-se para recriar a grande economia do centro da Alemanha”, analisa.
Com 16 anos de existência, a Bitkom é outro dos parceiros preferenciais das startups que decidem escolher Berlim para nascer e crescer. A instituição funciona como uma agência de lóbi junto dos decisores, de maneira a fazer com que o ecossistema empreendedor cresça de forma rápida e estrutural.
A agência organiza meetups dedicados aos cerca de 12.000 participantes ativos da comunidade: em 2017, os tópicos essenciais foram a transformação digital, educação e novas formas de trabalho, segurança e data privacy e eleições nacionais. Tudo porque, explica Christian Rietz, “as grandes empresas alemãs ainda não trabalham com startups”, de acordo com um estudo feito pela Bitkom que analisou 556 empresas com mais de 20 trabalhadores. “A nossa missão é tentar estabelecer um diálogo entre políticos e startups porque é importante fazer com que os políticos percebam que alguns tipos de inovação podem vir das startups”. “Há quatro anos que fazemos o Get Started by Bitkom, e acho que tem mudado a perceção dos políticos face ao ecossistema”, explica.
Do outro lado, o Governo que, recentemente, deu o primeiro passo antes da estratégia digital: “financiar negócios”. “O primeiro passo na estratégia foi, antes de pensar o digital, conseguir dar a possibilidade de as pessoas conseguirem cobrir os custos de vida de maneira a poderem trabalhar na ideia. Foi daí que nasceu o Exist Program“, explica. Mas, além desse, existem outros: o iTecGrunderfund, com capital dedicado à área tecnológica no qual o Estado assegura 40% a 50% e o resto é coberto por grandes empresas e o Invest, um coinvestimento entre o Estado e Business Angels.
Outra das alternativas de financiamento em fases embrionárias dos projetos é o KFW, o banco público alemão que, em cinco anos — e em conjunto com dinheiro federal e europeu — investiu dois mil milhões de euros em startups. Só que, garantem as responsáveis, esse investimento nunca poderá substituir o papel dos privados. “O dinheiro público não pode substituir o dinheiro privado“, explica Florentine Kessler-Grobe, da Unidade de Assuntos Económicos da Agenda Digital e Desenvolvimento Social, do Ministério da Economia alemão.
A aposta no setor digital começou com o documento Digital Strategy 2025 e com a Agenda Digital, “que não tem apenas em conta a transformação digital como a transformação de toda a economia”. Eventos como o Advisory Board (que junta investidores, empreendedores e outros representantes do ecossistema), as Startup Nights temáticas ou mesmo o projeto relacionado com os Startup Exchange Programs — com Israel e a Índia — foram decisões estratégicas tomadas ao mais alto nível para aproximar as dimensões empresarial e criativa da economia do país. “É um desafio convencer as pessoas a fundar um negócio quando temos tantas indústrias que atraem talento. E, às vezes, as grandes empresas não percebem porque é que têm de cooperar com as startups”, alerta Christina Schmidt-Holtmann, do departamento Agenda Digital, Economia Digital, Cimeira Digital.
Por isso, para aproximar os elementos do ecossistema, o Governo alemão decidiu também criar uma rede nacional agregadora de hubs. “Quando se trata de grandes negócios, Berlim não é bem o sítio para se estar, nem em termos de empresas como de universidades. Percebemos que seria uma rede a nível nacional”, diz Christina. Por isso, nessa altura cada região escolheu também uma área de especialização. “Em abril de 2017 foram escolhidos 12 hubs a nível nacional. Como principais objetivos, ligar as iniciativas regionais a um nível federal numa agência de Hubs para facilitar a comunicação, trocar experiências e fazer crescer a cooperação”, detalha.
“Às vezes é lento o processo, é feito passo a passo, mas vai-se fazendo”, assegura Florentine.
Quando venture capital tem ‘risco’ como tradução
O exemplo é simples: quando se traduz o termo ‘venture capital’ de inglês para alemão, a tradução equivale a “capital de risco”, o mesmo que em português. “É difícil convencer as pessoas que saem das universidades a trabalhar em startups. Tem tudo a ver com oportunidades”, explica fonte da BDI, a confederação da Indústria alemã.
“Muitas pessoas veem-nos como uma indústria muito tradicional e fechada, mas queremos ser associados e estreitar relações com startups”, esclarecem.
Na Alemanha, o setor da Indústria tem um papel fundamental na economia: de acordo com a BDI, a CIP alemã, a riqueza gerada pelos seus associados corresponde a 1/4 do PIB do país e, cerca de 1/3 do Produto Interno Bruto (PIB) alemão é gerado por indústria e serviços industriais associados. “Tentamos integrar os diferentes braços e perspetivas entre a indústria, a sociedade e a política”. A BDI integra cerca de 100.000 empresas, que estão inseridas nas 36 organizações de diferentes braços da indústria.
“Na indústria, precisamos sempre de inovar. Mas a indústria tradicional tem dificuldade em fazê-lo. Segundo o estudo ‘Germany 2030’, a separação entre ramos da indústria está a desaparecer. Há uns anos tínhamos quatro indústrias que faziam tudo. Mas passámos de vender carros para uma situação de mobilidade partilhada. E isso inclui uma mudança de modelo de negócio.”
Na indústria, precisamos sempre de inovar. Mas a indústria tradicional tem dificuldade em fazê-lo.
“Nada será excluído, tudo será incluído numa nova forma de montar o canal de distribuição. Isto também vai mudar muito rápido. E todas as partes são afetadas por este processo”, alerta fonte oficial da CIP alemã.
Organizadora de um evento anual, cada setembro, focado na digitalização da indústria, a ideia é que através destes encontros se possa “criar um projeto” para conectar com “outros países” e, quem sabe, “também em Portugal”, assinalam os responsáveis. O interesse? “Depende muito do braço da indústria e da concorrência, e da maneira como podem produzir-se resultados I+D inhouse. Tem tudo a ver com oportunidades”.
“As grandes empresas têm incubadoras e aceleradoras que lhes permitem colocar startups a trabalhar nos seus desafios”. É nessa relação, asseguram, que encontram uma solução de fitting perfeito. Em Portugal — assegura Alexandre Paulo, da Sanjotec –, “há muitos problemas com isto porque o investimento em startups não cobre hardware na maioria das vezes”.
Foi a pensar em revolucionar a indústria da comida em casa que nasceu a Marley Spoon, empresa de Berlim e uma das mais internacionais do momento. Fundada em 2014, passaram 100 dias entre a ideia e o site online, assim como as primeiras caixas com receitas e ingredientes entregues aos clientes de estreia. Poucos meses depois fechavam a primeira ronda de investimento de meio milhão de euros — uma quantia rara para a história tão curta da empresa — que permitiram alterações no site e novas contratações para a equipa.
“Três meses depois convencemos os investidores a investirem Series A e, em novembro, lançámos o negócio no Reino Unido”, recorda o fundador. Um ano depois, mudava tudo outra vez e, mais importante, o modelo de negócio: passou de um sistema de encomenda pontual para um programa de subscrição mensal. A encomenda dos menus é feita até cinco dias antes da entrega e, por enquanto só no mercado alemão, os subscritores têm dez receitas por semana. “Não somos os primeiros a fazer isto mas comida é um negócio vertical e com 99% offline. E está a mudar: ainda não há marcas de comida muito conhecidas mas há um enorme potencial”, garante Till Neatby.
Com a missão de “levar a cozinha fresca e saudável às pessoas e eliminar o desperdício”, os fundadores da empresa cedo perceberam que a estrutura tinha de basear-se em proatividade. “Quando uma empresa cresce tão depressa não há tempo para microgestão. Se é preciso trocar de cor o comando da televisão, alguém trata. Queremos manter as pessoas informadas para poderem tomar esse tipo de decisões”, esclarece o responsável, acrescentando que trabalhar numa startup é diferente. “Aqui podes construir algo, podes ter impacto”.
“Trabalhar numa startup permite crescer, há muito espaço para decidir, tomar iniciativas, etc.”, explica Sofia Dias, uma dos cinco portugueses a trabalhar na equipa da Marley Spoon.
Quando uma empresa cresce tão depressa não há tempo para microgestão. Se é preciso trocar de cor o comando da televisão, alguém trata. Queremos manter as pessoas informadas para poderem tomar esse tipo de decisões.
Com uma equipa de mais de 700 pessoas, 120 das quais no escritório de Berlim, a Marley Spoon divide-se em equipas criativas locais e oito centros de abastecimento em todo o mundo, que garantem a distribuição das caixas com ingredientes frescos e das receitas. E gente de mais de 40 nacionalidades diferentes. “Uma das coisas que aprendi foi que era muito importante saber que valores queríamos para a empresa desde o dia 1. Percebemos que era fundamental construir a melhor equipa e, não só contratar as melhores pessoas.”
Para assegurar esse objetivo, a Marley Spoon constitui, por cada recrutamento, aquilo a que chama um ‘comité de contratação’, segundo o qual qualquer pessoa pode ser um entrevistador. “Lá porque eu gosto de uma pessoa — e isso percebe-se em dois minutos — não quer dizer que essa pessoa seja boa para a empresa”, assinala Till. Além do salário, a direção assegura que qualquer trabalhador da empresa fica também com uma equity na startup.
Até agora, e desde a fundação, a empresa obteve 40 milhões de financiamento em rondas internacionais — Estados Unidos, Rússia e Índia — e cresce a uma velocidade de dois dígitos todos os anos.
Efeito Factory
Ainda em fase Beta, de testes, está o segundo edifício da Factory Berlin na cidade. “Berlim era o espaço perfeito para construir esta comunidade. Em 2011, os fundadores compraram uma ex-fábrica de cerveja. A primeira Factory era, no início, um coworking space mas o business model mudou um ano depois para o modelo de membership e agora somos uma plataforma e uma comunidade de inovação”, esclarece Catherine Bischoof, vice-presidente de estratégia do projeto fundado em Berlim em 2011.
“Um ano depois da sua criação, havia a necessidade de ter algo mais do que um modelo simples de coworking. Sobretudo porque a questão é que a comunidade começa a ser autónoma, começa a criar por si só eventos, encontros, etc.”, explica Catherine.
"Um ano depois da sua criação, havia a necessidade de ter algo mais do que um modelo simples de coworking.”
“As empresas da Alemanha precisam de fazer algo para deixarem de ‘perder o barco’. Queremos ajudar as empresas alemãs a chegarem lá: por isso, a nossa missão é digitalizar a economia alemã. No fim do dia, as pessoas são o core do que acontece de bom e de mau”, detalha a estratega do projeto que foi uma dos primeiras a dinamizar o ecossistema em Berlim.
“Não somos uma aceleradora, não somos uma incubadora. Somos uma plataforma”, avança.
Neste momento, a rede de membros da Factory Berlin conta com 2.000 pessoas, entre freelancers, startups e elementos corporate. “Isso permite-nos ter um mix de perfis diferentes. O membership é controlado, e o limite de ocupação depende da capacidade para ser um ‘muito bom espaço’. Porque uma das questões é: como comunidade usa o nosso edifício? O propósito é sempre ‘juntar as pessoas’ e cruzar a nova com a velha economia usando a Factory como plataforma”. Com 21.000 metros quadrados disponíveis em breve — depois do primeiro edifício, com 7.000 metros quadrados, a Factory Berlin prepara-se para inaugurar no primeiro semestre de 2018 o novo, com 14.000 metros quadrados — além de ser um espaço, a instituição apoia e alberga também projetos como a Code University, a primeira universidade privada de código e programação que arrancou o primeiro curso em outubro, com 88 alunos, a Next Big Thing, uma empresa que só cria conceitos e marcas na área de IoT (Internet of Things) e a New School, um programa de ensino alternativo para alunos na idade de frequentarem o liceu.
“As pessoas vêm para Berlim por causa de um lifestyle. Há poucos sítios no mundo onde as pessoas querem estar que não seja Berlim: pela qualidade de vida e espaço de transição, é um local que atrai talento”, justifica. “As pessoas que escolhem vir para aqui são pessoas que começam algo do zero”, diz. A mensalidade da adesão é de 250 euros/mês/membro que inclui uso do espaço, dos recursos e um canal de Slack com 2.000 membros, que “é uma rede de contactos notável”, explica a vice-presidente de estratégia.
Noutro extremo da cidade, o Holzmarkt que é como quem diz, o ‘mercado da madeira’. O projeto começou em 2004 quando, naquela zona este da cidade, havia muitos edifícios abandonados. Ano após ano, foram ‘nascendo’ no local negócios como um restaurante, um bar ‘de praia’, um teatro ao ar livre e uma sala de espectáculos. “Muitos investidores vieram, entretanto, reaver e investir nos edifícios numa parte da cidade que estava abandonada. Não tínhamos dinheiro para pagar pelo espaço, que pertencia à empresa municipal, mas ganhámos a concessão porque tínhamos uma oferta mais inteligente e interessante”, justifica o guia da visita ao espaço. “A mensagem é criar valor, não só para nós como para a comunidade. Aqui, criamos vida de bairro e uma dinâmica diferente”, acrescenta.
Nem só de Berlim vive o ‘ecossistema-Berlim’
Mas, se é na cidade que nascem e se promovem alguns dos casos de maior sucesso, é nos arredores de Berlim que há espaço suficiente para as startups crescerem. “Porque é que não fomos para Berlim? É forte em e-commerce, em B2C. Mas achámos que não teria valor acrescentado para a empresa estar num ambiente assim. Aqui tens empresas pequenas, uma comunidade mais familiar e mais foco em software. Estamos a trabalhar focados nas grandes empresas”, esclarece Marcel Etzel que, em fevereiro de 2013 decidiu basear a Apinauten, a sua startup, em Leipzig, a uma hora de comboio de Berlim.
Com uma equipa de 48 pessoas, o preço da renda do escritório e o valor mais acessível da mão-de-obra, assim como o tamanho “mais familiar” da comunidade são fatores de atração da empresa, que já conta com 39 clientes em países como a Polónia, Japão e Estados Unidos (as equipas das empresas perfazem um total de mais de 5.000 empregados que trabalham com a aplicação ApiOmat, que é “uma espécie de Facebook para as máquinas”). “É bastante fácil recrutar quando os estudantes saem da universidade porque somos uma real pure tecnology startup“, esclarece o fundador.
Também no Adlershof, o maior parque de ciência e tecnologia da Alemanha, a pouco mais de meia hora do centro da cidade, há condições de atração suficientes para garantir talento e crescimento. O espaço conta com jardim de infância, escolas, parques e jardins, e supermercados: uma autêntica comunidade à medida dos seus ‘moradores’. “Começou há 100 anos, com o desenvolvimento de tecnologia de aviões que permitiam grandes experiências e espetáculos aéreos que faziam as pessoas deslocar-se para a área”, começa por explicar Peer Ambrée, responsável pelo parque. O foco na tecnologia perdurou durante todos os anos de história, tendo criado um cluster especializado em áreas como a energia fotovoltaica, biotecnologia e ambiente, e microssistemas e materiais, entre outras.
"Se tens uma boa ideia, tu arranjas dinheiro. No problem.”
“Estamos em todas as fases de desenvolvimento das empresas, desde o business plan à fase de captação de financiamento”, esclarece sobre a estratégia, que tem como objetivo “apoiar as empresas através das nossas infraestruturas e evitar grandes investimentos destas nos primeiros anos de atividade”.
Além de laboratórios com tecnologia de ponta, o campus conta ainda com uma área de cowork — inaugurada a 1 de novembro deste ano — e com capacidade para 54 pessoas (20 lugares já estão ocupados). Um dos pontos essenciais de atração é o preço: 200 euros/cadeira/mês, abaixo do preço médio no centro da cidade. Com uma comunidade de quase 1.300 pessoas, no centro tecnológico estão instaladas cerca de 500 empresas e o último problema de quem lá se instala é o capital: também por isso, o centro criou o programa Gunder, que inclui bolsas mensais de 1.500 euros/fundador durante 12 meses, e disponível, na primeira edição, para 40 founders. “Se tens uma boa ideia, tu arranjas dinheiro. No problem“, explica Tobias Kirschnick, chefe do centro de inovação.
A jornalista viajou a convite da Embaixada da Alemanha em Portugal.
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