A maioria dos portugueses ouvidos pelo ECO nota já uma subida de preços dos alimentos, nomeadamente da fruta e legumes, e não sente alívio no preço dos combustíveis. Temem perder poder de compra.
Nos últimos tempos, muito se tem falado sobre a inflação. Além disso, novo ano é sinónimo de aumentos de preços em vários produtos e serviços. O ECO foi procurar saber perto de uma superfície comercial na zona de Campo de Ourique, em Lisboa, se os portugueses já sentem este “peso” na carteira. A maioria nota já uma subida de preços dos alimentos, nomeadamente da fruta e dos legumes, e não sente alívio no preço dos combustíveis, apesar de o Governo ter prolongado a redução do ISP.
“O salário aumentou 5% e certas coisas estão a aumentar até 50%”, lamenta Sabrina Camarão, ao ECO, sinalizando que o café foi um dos produtos em que sentiu o maior aumento. “Aumentou quase 20 cêntimos. [Antes] custava 71 cêntimos e agora foi para 89 cêntimos“. “Para mim é um aumento muito grande”, sinaliza a empregada doméstica.
A opinião é partilhada por Maria, que contrapõe que este aumento já “se começava a sentir” em dezembro e em janeiro, sobretudo “na fruta e nos legumes“. “Sempre que vou ao supermercado tenho que andar a ver em desespero que as coisas todas aumentam. Parece que mensalmente se nota que há diferença nos preços”, afirma a funcionária pública.
Também Elisabete Oliveira e Joaquim Silva sentem “e de que maneira”, o aumento de preços nas frutas e nos legumes, mas também noutros produtos, como a carne, peixe, arroz, massa ou batata, elencam. “É tudo um pouco, pelo menos no meu bolso tem sido”, sublinha, a técnica auxiliar em geriatria, acrescentando que “antigamente com pouco dinheiro que seja, com 40 euros” trazia mais coisas e que atualmente traz “metade do saco pelo mesmo valor”.
Em Portugal, a taxa de inflação acelerou 3,3% em janeiro, o valor mais elevado desde fevereiro de 2012 (3,6%) e após se ter fixado em 2,7% em dezembro, de acordo com os dados do Instituto Nacional de Estatística (INE). Este valor é, contudo, inferior ao da Zona Euro, onde a taxa de inflação registou, em janeiro, um novo máximo de 5,1%, segundo uma estimativa rápida do Eurostat.
Face a esta “escalada”, a presidente do Banco Central Europeu (BCE) já veio sinalizar que há uma “preocupação unânime” com os “elevados níveis” de inflação que se registaram na Zona Euro em dezembro e em janeiro, que apanhou de “surpresa” os banqueiros centrais do euro. No entanto, Lagarde rejeitou antecipar se mantém a previsão de que os juros não vão subir este ano.
Esta tendência de subida de preços está a ser impulsionada pelos preços da energia e pela escassez de produtos e matérias-primas. E, como tal, os portugueses também já sentem este aumento nestes setores. Ao ECO, António Camelo sinaliza que já sente o peso na “fatura” no “gasóleo, na gasolina e em alguns materiais de construção”, com os quais tem mais contacto devido à sua profissão. “Quando encho o carro não tem nada a ver com o preço com que costumava pôr. É mesmo um grande aumento”, corrobora também Joana Coelho, que acrescenta que começou a sentir a diferença “há uns três ou quatro meses”. “Ontem, por exemplo, enchi o carro e tive uma diferença de 20 euros face àquilo que costumava pagar”, sinaliza a produtora de moda.
Há quem mude os hábitos de consumo
Para combater o aumento de preços, sobretudo na alimentação, os portugueses ouvidos pelo ECO admitem que estão a fazer algumas alterações aos seus hábitos de consumo, optando por marcas de distribuição, as chamadas “marcas brancas”, ou até comprar em menor quantidade. “Ando sempre à procura do mais barato, desde que tenha o mínimo de qualidade”, refere a funcionária pública, acrescentando que também tenta procurar os supermercados que acabam por ter uma oferta melhor e mais em conta”. Já Elisabete Oliveira e Sabrina Camarão confessam que já antes optavam por “marcas brancas”, mas que em face do aumento de preços têm feito “uma remodelação”, comprando apenas aquilo que vão consumir.
Com o aumento de preços, os portugueses ouvidos pelo ECO temem perder o poder de compra, dado que consideram que os seus salários ou pensões não vão acompanhar a inflação. “O poder de compra vai piorar porque alguns aumentos que dão nas pensões são poucos e são absorvidos pelos aumentos dos preços“, lamenta António Pedro, de 70 anos. E há também já quem preveja “cortes” noutras despesas para equilibrar as contas. “Vou ter que diminuir noutras coisas: viagens, saídas com a minha filha no fim de semana não vou poder fazer”, confessa Sabrina Camarão.
Neste sentido, somam-se os apelos para que o Governo tome medidas para conter o aumento de preços, nomeadamente através da concessão de apoios ao setor “da agricultura e da pesca”. No caso dos combustíveis há quem considere que o prolongamento da redução extraordinária do ISP em dois cêntimos na gasolina sem chumbo e em um cêntimo no gasóleo é manifestamente insuficiente. Mas com a maioria absoluta do PS há quem seja mais pessimista: “O Governo continua o mesmo, [portanto] vai fazer o que fez anteriormente”, atira, António Camelo.
Quanto a uma eventual perda de rendimentos ou até do emprego devido à pandemia, a maioria dos portugueses ouvidos pelo ECO admitem que não sentiram qualquer impacto. Ainda assim, André Oliveira, que trabalha como produtor cultural, uma das áreas mais afetadas pela pandemia, admite alguma perda de rendimentos. “Na minha área, as coisas estão um pouco mais paradas e, portanto, como não há tanta atividade não há tanto retorno”, sublinha, acrescentando que, no entanto, a “estrutura familiar” tem-lhe permitido minimizar o impacto da perda de rendimentos.
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Preços da fruta, legumes e combustíveis já fazem “mossa” na carteira dos portugueses
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