Como a Fosun concretizou a vontade de comprar parte do BCP
O interesse foi revelado em julho, mas até a compra de uma parte do BCP se concretizar foi preciso satisfazer um conjunto de condições. Nuno Amado mostrou-se otimista deste o início.
O interesse da Fosun em ser dona de uma parte do BCP foi revelado no verão de 2016, precisamente um dia depois de o banco ter revelado prejuízos de perto de 200 milhões de euros no primeiro semestre deste ano. Desde então, Nuno Amado e a administração do banco concentraram-se em cumprir todas as condições impostas pelos investidores chineses para que a operação se concretizasse.
29 de julho de 2016 tinha sido um dia difícil para o BCP. O banco tinha anunciado um prejuízo de 197,3 milhões de euros na primeira metade do ano, um resultado que comparava com os 240,7 milhões de euros de lucros que tinham sido registados no primeiro semestre de 2015. Nuno Amado, presidente do BCP, explicou então que os resultados estavam afetados por efeitos extraordinários — como por exemplo o reforço das imparidades de crédito — e que descontados estes impactos, a comparação homóloga até passava a ser favorável, um lucro de 56,2 milhões de euros contra um prejuízo de 21,2 milhões na primeira metade de 2015. Mas não foram estes valores mais favoráveis que marcaram as notícias. Além disso, a necessidade de devolver ainda 750 milhões de euros de CoCo’s ao Estado deixava uma nuvem negra sobre o banco.
No dia seguinte, contudo, o caminho do BCP ganhou um novo fôlego. A Fosun, dona da Fidelidade e da Luz Saúde em Portugal e um dos investidores que se tinha já destacado por estar entre os interessados na primeira tentativa de venda do Novo Banco, revelou, através de uma carta enviada ao BCP, que estava interessada em entrar no capital do banco para ficar com 16,7% da instituição.
Desde então, a comissão executiva do BCP entrou numa maratona de negociações com vista a satisfazer as condições colocadas pelos investidores chineses:
- Garantias de que o banco não seria surpreendido por contribuições extraordinárias para o Fundo de Resolução;
- Não obrigação de reconhecimento contabilístico imediato de obrigações futuras de contribuição para este mesmo Fundo;
- Concretização de um processo de fusão de ações (reverse stock split) em que cada 75 títulos passam a corresponder a uma ação;
- Garantir que tem direito a escolher administradores para o board do banco;
- Desblindagem dos estatutos dos 20% para os 30%.
A estas condições haveria que juntar uma aprovação das autoridades de supervisão, neste caso, o Banco Central Europeu.
Logo no mesmo dia, o BCP reconheceu o “interesse estratégico” deste investimento da Fosun, sublinhando o “potencial de cooperação e desenvolvimento setorial e geográfico” que representava. A comissão executiva, liderada por Nuno Amado, prometeu “proceder de forma célere e cuidada” para apresentar uma recomendação ao conselho de administração do banco.
A 14 de setembro os acionistas do BCP deram luz verde às negociações com a Fosun. A manifestação de interesse foi considerada “credível e não hostil”. Cerca de duas semanas depois, Nuno Amado diria à Bloomberg que estava otimista quanto às negociações: “Espero que sejam bem-sucedidas e não vejo razões para que não o sejam. É um processo que está em curso.” Mais 15 dias volvidos, e o Dinheiro Vivo deu de uma nova ronda negocial de Nuno Amado com a Fosun. O presidente do BCP foi à China para acertar detalhes com os investidores.
"Este alinhamento de condições e de interesses de diversas intenções está a ser negociado. Estamos no bom sentido, mas não concluímos. Houve uma suspensão da assembleia por essa razão.”
Passo a passo, os requisitos da Fosun estava a ser cumpridos e para 9 de novembro estava prevista a decisão dos acionistas sobre a alteração da blindagem dos estatutos de 20% para 30%. Contudo, esta alteração acabou por ser adiada. Nuno Amado justificou: estão a ser discutidos um conjunto de “alinhamento de condições, interesses e situações de diversas entidades, para que se possa tomar uma decisão.”
O banqueiro aproveitou no entanto para dizer que as negociações estavam no bom caminho, esperando que até dia 21 de novembro houvesse “condições para se alterar a blindagem de 20% para 30%”. Ainda não será desta, a reunião de amanha foi adiada, mas não deverá passar do próximo mês.
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