Brexit: Empresas portuguesas deixaram cair 30% dos investimentos
Cerca de 30% dos investimentos que as empresas portuguesas previam fazer no Reino Unido acabaram por não ocorrer, revela um estudo da Câmara de Comércio Portuguesa no Reino Unido.
O Brexit já está a ter impactos negativos junto das empresas portuguesas. Um estudo da Câmara de Comércio Portuguesa no Reino Unido revela que 19,44% dos inquiridos, sócios da instituição, já suspenderam ou adiaram decisões de investimento ou expansão na sequência do resultado do referendo que ditou a saída do Reino Unido da União Europeia.
A estes há ainda que acrescentar 11,11% que admitem que o pretendem fazer no futuro. Ou seja, “30% de investimentos que estavam previstos acabaram por não ocorrer na economia britânica”, sublinhou Bernardo Ivo Cruz, o presidente da Câmara.
Já 30,56% das empresas inquiridas respondem que não suspenderam investimentos, mas estão a analisar essa possibilidade. Este é um dos principais resultados do inquérito que a Câmara de Comércio Portuguesa no Reino Unido fez junto dos seus 138 associados e que teve como ponto de partida fazer as mesmas questões que tinham sido colocadas em março, antes da votação. Curiosamente aumentou a percentagem de empresas que considera “não estar certa” de que os seus negócios estejam preparados para a saída do Reino Unido da UE — passou de 41,51% para 47,22%.
30% dos investimentos previstos não aconteceram
Uma saída que a maior parte das empresas portuguesas prefere que seja ‘soft’ — 55,56% consideram que o ‘soft’ é mais vantajoso para os seus negócios. Nenhuma empresa defende o ‘hard’ Brexit, ou seja, uma saída sem negociação e que implicará o fim abrupto das contribuições do Reino Unido para a UE, “o que poderá ser um problema para os países da adesão”, sublinhou Stephen Hammond. O deputado britânico, que é também presidente da Comissão Parlamentar de Amizade Reino Unido/Portugal do Parlamento britânico, defendeu que o “Reino Unido pode ter interesse em manter as contribuições de forma a pagar o seu acesso ao mercado único”, numa conferência em Sintra sobre o Brexit e os desafios/oportunidades que representa para as empresas portuguesas.
Stephen Hammond confia no “pragmatismo” britânico no momento de negociar a saída — depois de o Parlamento ratificar a decisão do referendo e se iniciar as negociações do artigo 50. “O Governo está a caminhar numa corda bamba”, disse porque é difícil agradar todas as vozes dentro do Partido Trabalhista, responder à oposição e conseguir um equilíbrio negocial com Bruxelas. Entretanto, o jornal britânico The Times adiantou um memorando interno que parece revelar que o Governo de Theresa May não tem plano para o Brexit e tem centenas de projetos a decorrer e uma carência de milhares de novos funcionários para dar conta do trabalho.
Também a Comissão tem pela frente um exercício difícil porque, se por um lado não pode ostracizar o Reino Unido já que precisa, mais do que nunca, deste parceiro da NATO — sobretudo num contexto de eleição de Donald Trump para Presidente dos Estados Unidos e de alteração das relações com a Rússia e com Vladimir Putin, lembrou Basílio Horta –, por outro não pode ser branda numa negociação que poderá encorajar outros países europeus a seguir o mesmo rumo. Em 2017 há eleições em França e na Alemanha, com o fantasma da extrema-direita a pairar. E já em dezembro deste ano, o referendo em Itália poderá resultar numa demissão de Matteo Renzi e a ascensão do MoVimento populista 5 Estrelas (M5S) de Beppe Grillo.
Empresas preferiam que o Reino Unido não saísse
A maioria das empresas portuguesas reconhece que o Brexit vai afetar os seus negócios. Se, por um lado, houve uma diminuição daqueles que acreditam que o impacto será grande — passou de 37,74% dos inquiridos em março para 27,78% em novembro –, por outro houve um incremento de 5,71 pontos percentuais naqueles que consideram que o impacto será médio (47,22% em novembro).
Mesmo depois da decisão do Supremo Tribunal e das vozes dissonantes no Parlamento ninguém acredita que o resultado do referendo possa voltar atrás. Ainda assim, a grande maioria das empresas portuguesas inquiridas considera que seria importante para os seus negócios que o Reino Unido permanecesse na União.
As empresas lamentam ainda a falta de clareza neste dossier — 83,33% considera que a falta de clareza afeta significativamente ou de alguma forma os seus negócios. Um ponto que é reconhecido pelo próprio ministro britânico das Finanças, Philip Hammond. “Os negócios gostam de segurança e esse é um dos desafios que enfrentamos nos próximos dois anos. Vamos enfrentar um nível sem precedentes de incerteza e esse é um dos fatores que levaram a que muitos comentadores vaticinassem que haverá um abrandamento do crescimento económico”, disse numa entrevista à televisão ITV.
E à derradeira questão “o seu negócio está preparado se, de facto, Reino Unido sair da União Europeia?”, 63,89% dizem não estar preparados ou não ter a certeza se estão. Ainda assim, uma melhoria face a março, quando a percentagem estava nos 75,47%.
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