BE diz que demissão de António Domingues “já só peca por tardia”

  • Lusa
  • 28 Novembro 2016

Mariana Mortágua diz que a demissão de António Domingues da presidência da Caixa Geral de Depósitos "já só peca por tardia" porque "quem não reconhece a lei não serve" para o banco público.

A deputada do BE Mariana Mortágua considerou hoje que a demissão de António Domingues da presidência da Caixa Geral de Depósitos “já só peca por tardia” porque “quem não reconhece a lei não serve” para o banco público.

“A demissão de António Domingues da presidência da administração da Caixa Geral de Depósitos já só peca por tardia. O inexplicável arrastamento deste processo ao longo de três meses foi prova de uma irresponsabilidade que agora se encerra”, disse Mariana Mortágua numa declaração na sede do BE, em Lisboa.

Na opinião da deputada bloquista, “quem não reconhece a lei não serve para a Caixa Geral de Depósitos”, defendendo que “quem se demite por não estar disposto às regras de transparência a que o cargo obriga, nunca esteve à altura de assumir esse cargo”.

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CGD: Principais datas da administração de António Domigues

  • Lusa
  • 27 Novembro 2016

Domingues entrou em agosto para a liderança do banco público. No final de outubro rebentou a polémica das declarações de património e a demissão chegou a 27 de novembro.

António Domingues passou pouco mais de três meses à frente do banco do Estado. Entrou em meados de agosto. A polémica do salário e da declaração de património rebentou em outubro e a saída aconteceu no final de novembro. Conheça as principais datas da administração da Caixa Geral de depósitos (CGD):

27 novembro – O presidente do conselho de administração da CGD, António Domingues, apresenta a demissão do cargo, anunciou o Ministério das Finanças em comunicado.

26 novembro – A Comissão Europeia confirmou ter-se reunido com o presidente da CGD para debater a recapitalização do banco quando este ainda não tinha sido nomeado para o cargo e pertencia aos quadros do BPI.

24 novembro – Os deputados do BE votaram ao lado do PSD e do CDS e viabilizaram uma proposta de alteração apresentada pelos sociais-democratas que obriga os administradores da CGD a apresentarem as declarações de rendimentos no Tribunal Constitucional (TC).

A alteração apresentada exige, na prática, que os administradores de instituições de crédito integradas no setor empresarial do Estado sejam abrangidos pelas normas constantes do Estatuto do Gestor Público (EGP).

20 novembro – O presidente do PS, Carlos César, afirmou que a administração da CGD tem de sair caso não cumpra o prazo para a entrega das declarações de património e de rendimentos no Tribunal Constitucional (TC).

17 novembro – O presidente da Associação Portuguesa de Bancos apelou ao fim do “ruído ensurdecedor” em torno da entrega das declarações de património dos gestores da CGD, considerando-o “profundamente negativo” para o setor.

9 novembro – O TC notificou os membros da administração da CGD para que entreguem as declarações de rendimentos.

8 novembro – O Ministério Público admitiu apreciar “a eventual omissão do dever” de entrega da declaração de rendimento e património no TC por parte dos gestores da CGD.

7 novembro – O secretário de Estado dos Assuntos Parlamentares, Pedro Nuno Santos, afirmou que os gestores da CGD “têm de apresentar a declaração de rendimentos” porque não houve qualquer alteração na lei sobre esta matéria.

5 novembro – O secretário-geral do PS afirmou desconhecer qualquer intenção da administração da CGD se demitir caso os seus membros sejam obrigados a entregar declarações de rendimentos e património no TC.

4 novembro – O Presidente da República considerou que os administradores da CGD estão obrigados a entregar a declaração de rendimentos, porque a lei que o estabelece “não foi revogada ou alterada” pelo recente decreto do Governo.

27 outubro – O primeiro-ministro invocou o princípio da separação de poderes, sobre polémica de os administradores da CGD terem ou não de entregar declarações de rendimentos no TC, embora frisando que todas as instituições têm deveres a cumprir.

26 outubro – O presidente da CGD, António Domingues, foi recebido pelo presidente da Assembleia da República, Ferro Rodrigues, numa altura em que são muitas as notícias relativas ao valor do salário do gestor.

O novo presidente do Conselho de Administração da CGD, António Domingues, iria ganhar 423 mil euros anuais e os vogais executivos auferir 337 mil euros por ano.

25 outubro – O Ministério das Finanças afirmou que “não foi lapso” a decisão de os administradores do banco público deixarem de estar sujeitos ao Estatuto do Gestor Público e não terem de apresentar a declaração de rendimentos ao Tribunal Constitucional.

“A ideia é a CGD [Caixa Geral de Depósitos] ser tratada como qualquer outro banco. Essa foi a razão para que fosse retirada do Estatuto do Gestor Público. Está sujeita a um conjunto de regras mais profundo, como estão todos os bancos. Não faz sentido estar sujeita às duas coisas. Não foi lapso. O escrutínio já é feito”, afirmou fonte oficial do gabinete liderado por Mário Centeno, a quem cabe a tutela do banco público.

1 setembro – Os membros da comissão executiva da CGD, que tomaram posse no dia 21 de agosto, já têm os pelouros definidos, com o presidente executivo, António Domingues, a ficar responsável, entre outros, pela direção de auditoria interna.

O novo líder da CGD ficou também responsável pelas seguintes unidades organizativas: secretaria-geral, direção de apoio à governação corporativa, direção de assuntos jurídicos, gabinete de estudos e gabinete de suporte à função de ‘compliance’.

Domingues tinha ainda a seu cargo quatro entidades domésticas do grupo, nomeadamente, o Caixa Banco de Investimento, o Caixa Capital, o Caixa Desenvolvimento e o Caixa Seguros e Saúde.

31 agosto – A nova equipa de gestão da CGD, liderada por António Domingues, entrou em funções.

29 agosto – O indigitado presidente da CGD, António Domingues, renunciou ao cargo de administrador na NOS, na sequência da sua nomeação para o banco estatal.

24 agosto – A Comissão Europeia chegou a um acordo de princípio com o Governo português para a recapitalização da CGD “em condições de mercado”, disse à Lusa um porta-voz do executivo comunitário.

17 agosto – O Banco Central Europeu aprovou os 11 nomes propostos pelo Governo para o Conselho de Administração da Caixa Geral de Depósitos, mas rejeitou outros oito por excederem o limite de cargos em órgãos sociais de outras sociedades.

13 agosto – O Banco Central Europeu autorizou os nomes dos administradores executivos da Caixa Geral de Depósitos que foram aceites pelo Governo, mas impede António Domingues de acumular a presidência da administração com o cargo de presidente-executivo.

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Trabalhadores da CGD: “Não pode haver um vazio no banco”

  • Lusa
  • 27 Novembro 2016

Os trabalhadores do banco estatal pedem que seja encontrada "rapidamente uma solução para este tipo de problema"

O coordenador da Comissão de Trabalhadores da Caixa Geral de Depósitos (CGD) alertou hoje que não pode haver um vazio no banco e pediu que seja encontrada rapidamente uma solução após a demissão do presidente do conselho de administração.

“Obviamente, estávamos com esperança de que o Dr. António Domingues pudesse levar a cabo esta tarefa. Entendemos também que temos de ter um conselho de administração, que não pode haver um vazio na Caixa e que é fundamental que a tutela delibere rapidamente uma solução para este tipo de problema”, afirmou à agência Lusa Jorge Canadelo.

O presidente do conselho de administração da Caixa Geral de Depósitos, António Domingues, apresentou a demissão do cargo, anunciou hoje o Ministério das Finanças em comunicado.

"Entendemos também que temos de ter um conselho de administração, que não pode haver um vazio na Caixa e que é fundamental que a tutela delibere rapidamente uma solução para este tipo de problema.”

Comissão de trabalhadores da CGD

“Entendemos que a decisão de nomear administradores para a Caixa cabe à tutela, assim como os esclarecimentos relativos sobre qual é o critério e porquê a nomeação desses administradores”, referiu o coordenador da Comissão de Trabalhadores, garantindo que quando tiver oportunidade irá inquirir o ministério das Finanças sobre esta matéria.

A este propósito, Jorge Canadelo relembrou que “há mais de três meses que a Comissão de Trabalhadores solicitou ao gabinete do sr. primeiro-ministro e à tutela da Caixa Geral de Depósitos – Ministério das Finanças – reuniões para que os trabalhadores dessem a sua opinião acerca desta matéria, situações que não ocorreram e não por culpa” da comissão.

À pergunta se ficou surpreendido com a demissão de António Domingues, o dirigente considerou que “muitas situações que têm sido criadas, nomeadamente este mediatismo é negativo não apenas para a Caixa, mas certamente atinge todos os seus oponentes”.

“E tem sido uma situação que praticamente todos os dias caem em cima da Caixa Geral de Depósitos. Há situações que se passam no setor bancário e noutras áreas de atividade que eu não vejo retratadas desta maneira”, apontou.

Para Jorge Canadelo, “realmente há uma pressão tão grande que é possível que a pessoa se tenha sentido, de alguma forma, incomodada ou que tenha atingido o seu limite”, mas isso só António Domingues “poderá dizer”.

“O nosso entendimento é que para nós é importante ter uma administração que leve para a frente os planos que tenham o objetivo de fortalecer a Caixa e beneficiar o país e todos os cidadãos”, acrescentou Jorge Jorge Canadelo.

Segundo o coordenador, a Comissão de Trabalhadores “sempre defendeu” que o essencial é “a recapitalização da Caixa Geral de Depósitos, de modo ao seu fortalecimento, a sua reestruturação no sentido de melhorar a sua eficácia e eficiência, de fazer com que os seus trabalhadores sejam racionalmente aproveitados e que desempenhem a tarefa, não apenas de um banco que é referência no setor bancário, mas também de um banco que é fundamental para o crescimento económico e para o suporte à economia nacional”.

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Domingues sai, mas vai definir o malparado

Nos últimos dias, o presidente cessante da Caixa reuniu-se com quadros do banco, do BCE e do Banco de Portugal para definir a política das imparidades em 2016.

António Domingues já apresentou a demissão de presidente da CGD, mas será ainda o responsável pela definição dos critérios e da estratégia de provisões do banco público, apurou o ECO. Ainda não há números, mas as provisões deverão ser superiores a mil milhões de euros em 2016.

António Domingues esteve ainda esta semana reunido com quadros da Caixa, do Banco Central Europeu e do Banco de Portugal para definir aquilo que será a política de registo de imparidades do banco público.

Ou seja, apesar de estar de saída, será Domingues a fechar um dos dossiers mais relevantes para a CGD, já que será da definição da política de imparidades que vai resultar o valor exato do dinheiro que o Estado vai injetar no banco público.

Na passado dia 18, quando comunicou as contas dos primeiros nove meses do ano, a Caixa confirmava que António Domingues e a sua equipa “têm em curso a reavaliação do valor dos ativos e de potenciais contingências da CGD e das necessidades de imparidades correspondentes, que por não estar concluída, não se encontra refletida nas contas agora divulgadas”. Este trabalho, segundo a imprensa, está a ser feito pela consultora Deloitte.

Isto significa que o impacto negativo do malparado será maioritariamente sentido nas contas do quarto trimestre. É precisamente para acomodar este impacto negativo das contas, e travar a erosão do capital, que o Estado anunciou que vai injetar 2,7 mil milhões de euros no banco do Estado, sendo que Mário Centeno já comunicou que esta operação só vai acontecer no próximo ano. Além disso, a Caixa vai beneficiar de uma transferência de ativos da Parcaixa e da transformação dos Cocos (capital contingente emprestado pelo Estado) em capital.

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Amado, Macedo e Tavares. Os candidatos à CGD?

António Domingues demitiu-se. A renúncia só produzirá efeitos no final do mês de dezembro, mas já esta semana serão apresentados nomes para o suceder. Saiba quem pode estar na calha.

António Domingues apresentou a demissão. Vai abandonar as funções no final do ano, mas bem antes disso o Governo vai apresentar o plano B para comandar a Caixa Geral de Depósitos (CGD). E vários têm sido os nomes apontados para substituir Domingues no comando do banco estatal. Paulo Macedo é um dos três.

Muito brevemente, será designada, para apreciação por parte do Single Supervisory Mechanism, uma personalidade para o exercício de funções como Presidente do CA da CGD, que dê continuidade aos planos de negócios e de recapitalização já aprovados”, diz o comunicado do Ministério das Finanças. Essa personalidade pode ser conhecida já esta semana.

Paulo Macedo apresenta-se como um dos principais candidatos. O nome do ex-ministro e antigo vice-presidente do Banco Comercial Português (BCP) foi um dos nomes apontado como solução alternativa a Domingues caso este viesse a sair da liderança da CGD por não entregar a declaração de rendimentos, como agora se confirmou.

"Muito brevemente, será designada, para apreciação por parte do Single Supervisory Mechanism, uma personalidade para o exercício de funções como Presidente do CA da CGD, que dê continuidade aos planos de negócios e de recapitalização já aprovados.”

Ministério das Finanças

Macedo tem experiência acumulada de vários anos no BCP. E é um nome que recolhe grande aceitação junto do Governo, embora o Executivo tivesse outros planos para o ex-governante. O Público notou recentemente que António Costa preferia que Paulo Macedo fosse um dos próximos vice-governadores do Banco de Portugal. Mas sem Domingues, pode ser a aposta para a CGD.

Além de Macedo, outro nome do BCP foi apontado para o banco do Estado. Nuno Amado, o presidente executivo do maior banco privado português foi outro dos nomes apontados à CGD. Amado defendeu recentemente a existência de um banco público, voltando atrás na visão que tinha no passado. “No enquadramento que hoje temos, acho que devemos manter um banco público. Não era este o meu entendimento, mas agora é”, disse.

Outro nome apontado à CGD foi o de Carlos Tavares. Tanto Macedo como Tavares foram dois nomes que estiveram a circular nos corredores políticos e da banca como eventuais sucessores de Domingues. Contudo, à data em que foram apontados, fonte próxima de Tavares disse à SIC que o futuro ex-presidente da CMVM não foi contactado por ninguém para ir para a CGD.

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Fillon é o candidato da direita francesa às presidenciais de 2017

O ex-primeiro francês François Fillon é o grande vencedor. Alain Juppé já reconheceu a derrota.

François Fillon é o candidato de direita francesa nas eleições presidenciais de abril do próximo ano. A vitória do ex-primeiro ministro francês François Fillon era já apontada como certa, por uma sondagem da Reuters que dava ao candidato 61% dos votos contra 39% de Alain Juppé. Numa altura em que estão contados mais de metade dos votos Fillon arrecadava 68% dos votos enquanto que Juppé se ficava apenas pelos 32%.

Fillon foi primeiro-ministro durante a presidência de Nicolas Sarkozy, que acabou por surpreendentemente expulsar da corrida, durante a primeira volta das primárias. Aliás Sarkozy terá sido mesmo o primeiro a felicitar o vencedor. Alain Juppé, também ele ex-primeiro-ministro francês durante a presidência de Jacques Chirac, já reconheceu a derrota afirmando que Fillon teve uma “grande vitória”.

Já Fillon prometeu durante o discurso da vitória ir “ao encontro de todos os que têm orgulho de ser franceses“. Uma declaração vista como uma aproximação aos eleitores que poderão estar inclinados a votar na candidata da Frente Nacional às presidências, Marine Le Pen.

Nas eleições que decorreram este domingo votaram cerca de 4,5 milhões de eleitores, um número que supera a participação da primeira volta.

Fillon de 62 anos de idade, apresenta um programa ultraliberal na economia e conservador nas questões da sociedade, como a pouca flexibilidade para com os imigrantes muçulmanos, a defesa da família, da língua francesa e a preservação da identidade. Católico assumido, a vitória de Fillon é vista como uma viragem à direita.

Os candidatos já confirmados na corrida às presidências francesas são para já François Bayrou do Movimento Democrático, Nicolas Dupont Aignan da França de Pé, Yannick Jadot dos Verdes, Jean- Luc Mélenchon do Partido de Esquerda, Nathalie Artnaud da Luta Operária e Philippe Poutou do Novo Partido Anticapitalista.

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“Domingues sentiu-se ofendido” pela nova lei

O comentador da SIC Marques Mendes diz que foi a aprovação da nova lei pelo BE e pela direita que levou à queda da administração da Caixa.

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Foi ele que há precisamente cinco semanas chamou a atenção para aquela que viria a ser uma das maiores polémicas a envolver uma administração da Caixa Geral de Depósitos (CGD) e que culminou hoje com a demissão do presidente António Domingues.

Marques Mendes, no seu comentário na SIC, veio explicar a razão pela qual a gestão de António Domingues bateu com a porta. Diz o comentador que o presidente da CGD “sentiu-se ofendido pela aprovação da nova lei” e que “manifestou vontade de sair na quinta-feira e formalizou essa vontade na sexta-feira”.

E que lei é esta? Na quinta-feira, na discussão do Orçamento do Estado na especialidade, o Bloco de Esquerda votou ao lado do PSD e do CDS para aprovar uma proposta dos social-democratas que obriga os gestores a entregarem as declarações de rendimento e de património junto do Tribunal Constitucional (TC).

A nova lei obriga “os membros do órgão de administração de instituições de crédito integradas no setor empresarial do Estado e qualificadas como ‘entidades supervisionadas significativas’” a ficarem sujeitos a vários artigos do Estatuto do Gestor Público e à Lei de 1983, o que na prática implica que António Domingues e sua equipa tivessem mesmo de entregar as suas declarações de património junto do TC.

A proposta do PSD estabeleceu que o regime aprovado “aplica-se aos mandatos em curso”.

Marques Mendes diz que foi por causa da intenção manifestada por António Domingues na quinta-feira que o Governo pediu a repetição da votação dessa lei na sexta-feira, mas com resultados semelhantes. E que a saída não foi comunicada logo na sexta-feira porque desde então até hoje “houve várias tentativas para ele recuar”. Sem sucesso.

Porque é que há uma semana Mendes dizia que Domingues ficava? O comentador da SIC diz que há uma semana “ainda passava pela cabeça de António Domingues que, mesmo entregando no TC, as declarações poderiam ficar confidenciais”. Um cenário que foi por água abaixo com a aprovação da nova lei.

Marques Mendes revela que a questão da entrega da declarações ao TC “era mais séria do que a dos salários”, e que “a dada altura o braço de ferro tornou-se insustentável”.

“Por aquilo que sei, se algum dia houver uma comissão de inquérito para analisar isto, muita gente saía mal na fotografia. Mas acho que não vai haver”, vaticina o comentador.

Marques Mendes refere que quer o Governo, quer António Domingues estiveram mal neste processo. O até agora presidente da CGD “andou mal porque levou uma eternidade a clarificar posições. Deixou criar à volta dele um clima de tal forma insustentável para ele, para a Caixa e para a vida pública em geral”. Já o Governo “andou mal porque não devia ter feito a promessa” de que os novos gestores ficariam a salvo de entregar as suas declarações no TC.

E agora? “Esperemos que o assunto se resolva com rapidez. A CGD precisa de paz. Precisa de escolher alguém profissional, desligado da vida partidária” e Marques Mendes conclui que o processo de substituição da nova administração “não vai afetar de forma nenhuma a capitalização da CGD”.

 

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António Domingues demite-se. E agora?

António Domingues apresentou a demissão depois de semanas de impasse por causa da entrega da declaração de património no Tribunal Constitucional.

António Domingues apresentou a demissão da presidência da Caixa Geral de Depósitos (CGD) depois de semanas de impasse por causa da entrega da declaração de património no Tribunal Constitucional (TC).

A renúncia ao cargo acontece a poucos dias do fim do prazo para a obrigatoriedade de apresentar a declaração de rendimentos e património junto do TC.

A notícia já foi confirmada pelo ministério das Finanças que afirma ter aceite a demissão.

  • O Governo foi informado pelo Presidente do Conselho Fiscal da CGD da renúncia apresentada pelo Presidente do Conselho de Administração, António Domingues. Renúncia essa que o Governo lamenta. A renúncia só produzirá efeitos no final do mês de dezembro. Muito brevemente, será designada, para apreciação por parte do Single Supervisory Mechanism, uma personalidade para o exercício de funções como Presidente do Conselho de Administração da CGD, que dê continuidade aos planos de negócios e de recapitalização já aprovados.

A saída de António Domingues, que parecia ter sido afastada nos últimos dias, segue-se ao anúncio do governo de que a recapitalização da CGD estava adiada para 2017. O Governo adiou a injeção de capitais públicos na CGD para primeiro terminar o apuramento das imparidades e registá-las nas contas de 2016, garantiu, há dias, Ricardo Mourinho Félix, secretário de Estado do Tesouro e Finanças. O governante frisou ainda, nessa data, que “todas as instituições estão informadas deste processo”, leia-se a Comissão Europeia e o BCE.

“Domingues sentiu-se ofendido” pela nova lei

Marques Mendes, que há precisamente cinco semanas chamou a atenção para aquela que viria a ser uma das maiores polémicas a envolver uma administração da CGD e que culminou agora com a demissão do presidente António Domingues, já veio avançar com uma possível razão para a demissão. Diz o comentador da SIC que o presidente da CGD “sentiu-se ofendido pela aprovação da nova lei” e que “manifestou vontade de sair na quinta-feira e formalizou essa vontade na sexta-feira”.

Na quinta-feira, na discussão do Orçamento do Estado na especialidade, o Bloco de Esquerda votou ao lado do PSD e do CDS para aprovar uma proposta dos social-democratas que obriga os gestores a entregarem as declarações de rendimento e de património junto do TC.

A nova lei obriga “os membros do órgão de administração de instituições de crédito integradas no setor empresarial do Estado e qualificadas como ‘entidades supervisionadas significativas’” a ficarem sujeitos a vários artigos do Estatuto do Gestor Público e à Lei de 1983, o que na prática implica que António Domingues e sua equipa tivessem mesmo de entregar as suas declarações de património junto do TC.

No banco até Dezembro e com as imparidades arrumadas

António Domingues sai em dezembro, e além do plano de recapitalização aprovado por Bruxelas, deverá também deixar fechado uma das pastas mais sensíveis do atual momento da CGD: as imparidades.

O ECO sabe que António Domingues esteve ainda esta semana reunido com quadros da Caixa, do Banco Central Europeu e do Banco de Portugal para definir aquilo que será a política de registo de imparidades do banco público.

Ou seja, apesar de estar de saída, será Domingues a fechar um dos dossiers mais relevantes para a CGD, já que será da definição da política de imparidades que vai resultar o valor exato do dinheiro que o Estado vai injetar no banco público.

O Estado anunciou que vai injetar 2,7 mil milhões de euros no banco, sendo que Mário Centeno já comunicou que esta operação só vai acontecer no próximo ano. Além disso, a Caixa vai beneficiar de uma transferência de ativos da Parcaixa e da transformação dos Cocos (capital contingente emprestado pelo Estado) em capital.

E agora?

“Esperemos que o assunto se resolva com rapidez. A CGD precisa de paz. Precisa de escolher alguém profissional, desligado da vida partidária”, afirmou Marques Mendes na SIC, concluindo que o processo de substituição da nova administração “não vai afetar de forma nenhuma a capitalização da CGD”.

Agora quem será escolhido para o lugar de Domingues? Paulo Macedo apresenta-se como um dos principais candidatos. O nome do ex-ministro e antigo vice-presidente do Banco Comercial Português foi um dos nomes apontado como solução alternativa a Domingues caso este viesse a sair da liderança da CGD por não entregar a declaração de rendimentos, como agora se confirmou.


Além de Macedo, outro nome do BCP foi apontado para o banco do Estado. Nuno Amado, o presidente executivo do maior banco privado português foi outro dos nomes apontados à CGD. Amado defendeu recentemente a existência de um banco público, voltando atrás na visão que tinha no passado. “No enquadramento que hoje temos, acho que devemos manter um banco público. Não era este o meu entendimento, mas agora é”, disse.

Outro nome apontado para a liderança da CGD foi o de Carlos Tavares. Tanto Macedo como Tavares foram dois nomes que estiveram a circular nos corredores políticos e da banca como eventuais sucessores de Domingues. Contudo, à data em que foram apontados, fonte próxima de Tavares disse à SIC que o futuro ex-presidente da CMVM não foi contactado por ninguém para ir para o banco do Estado.

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Marcelo: Estabilização do sistema financeiro é uma “prioridade nacional”

  • Lusa
  • 27 Novembro 2016

O Presidente da República defende que estabilizar o sistema financeiro "é uma prioridade nacional". Marcelo discursava, no Porto, na entrega do prémio Manuel António da Mota.

O Presidente da República defendeu hoje que é uma “prioridade nacional” estabilizar e consolidar o “sistema financeiro português”, apelando à determinação para que a economia possa garantir crescimento e emprego.

“É uma prioridade nacional a estabilização e a consolidação do sistema financeiro português”, declarou hoje Marcelo Rebelo de Sousa, no seu discurso no Palácio da Bolsa, no Porto, onde presidiu à entrega do Prémio Manuel António da Mota, que este ano distinguiu a Raríssimas – Associação Nacional de Deficiências Mentais e Raras.

Marcelo Rebelo de Sousa assumiu, todavia, que criar essa estabilização e consolidação do sistema financeiro português era um processo complicado.

“É difícil”, reconheceu, apontando que quando menos se espera, “surgem obstáculos”.

“Aparecem contratempos, os mais inesperados? Aparecem”, pergunta e respondeu o Presidente da República, enumerando que esses contratempos podem aparecer “uns dias de manhã”, “outros dias à tarde”, “outros à noite”, ou “à noitinha”.

Marcelo Rebelo de Sousa avisa ainda que o importa é que no dia seguinte é preciso “acordar e continuar o caminho, com determinação, sabendo exatamente que é uma prioridade nacional”, porque, assevera, “não há economia que possa garantir crescimento e emprego e, por isso, justiça social, senão tiver uma capacidade de financiamento que sustente esses imperativos e que passa pelo sistema financeiro”.

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Líbia não vai reduzir produção de petróleo como pretende a OPEP

  • Lusa
  • 27 Novembro 2016

A Líbia não quer reduzir a produção de petróleo como pretende a OPEP alegando que a situação no país é "instável e perigosa" pelo que é "impensável reduzir num futuro próximo" a produção de crude.

A Líbia não vai reduzir a produção de petróleo para os níveis previsto pela Organização dos Países Exportadores de Petróleo (OPEP), anunciou hoje a Companhia Nacional de Petróleo (NOC) do país.

A situação da economia Líbia “é instável e perigosa”, disse num comunicado o diretor da NOC, Mustafah Sanalla, pelo que “é impensável reduzir num futuro próximo” a produção de crude para os níveis previstos pela OPEP.

A OPEP quer diminuir a sua produção de petróleo entre 32,5 milhões a 33 milhões de barris por dia e alcançar um acordo com outros países produtores do cartel para estimular uma subida dos preços, que estão baixos, o que se deve a um excesso da oferta em relação à procura, facto que se verifica desde meados de 2014.

Três países que pertencem à OPEP, Irão, Líbia e Nigéria, foram autorizados a “produzir em níveis máximos”, refere-se no comunicado.

Mas a dificuldade em diminuir os preços do petróleo a nível mundial, devido ao excesso de oferta nos mercados internacionais, está a aumentar a pressão para que estes países reduzam as suas quotas de produção.

Na quarta-feira, na reunião da OPEP que se realizará em Viena, a organização poderá reduzir a produção de petróleo para os níveis previstos distribuindo por igual as quotas de todos os países.

A Líbia produz atualmente cerca de 600.000 barris por dia e quer duplicar a sua produção em 2017.

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O legado económico de Fidel Castro

O que é a economia cubana? O planeamento central falhou e a morte de Fidel pode sedimentar mudanças já iniciadas com Raúl Castro. Mas falta a Democracia. UM ENSAIO de Mário Amorim Lopes.

Tinha 14 anos, embora jurasse ser dois anos mais novo. Empunhou a caneta e escreveu uma carta ao então Presidente dos Estados Unidos da América, Franklin Delano Roosevelt, com um pedido insólito: queria uma nota de 10 dólares. Nunca tinha visto uma, e gostaria de a ter. «O seu amigo, Fidel Castro» — rematou. Indelevelmente, este pedido marcaria o legado de Fidel Castro. A Cuba revolucionária e socialista havia de se comportar como um ‘mendincante’, ora suplicando pela ajuda da União Soviética, ora suplicando pelos favores da Venezuela, desta forma suprindo as suas necessidades económicas.

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Os 10 dólares que Fidel pediu a FDR são hoje o salário médio mensal de um operário cubano. Um médico, mais desafogado, ganha 20. Os supermercados, à semelhança de quase todos os sectores da economia, são controlados pelo Estado. A distribuição de alimentos é, a par com tudo o resto, considerada um sector estratégico pelo governo cubano. Como tal, tem de ter uma presença forte do Estado. O resultado é o de sempre. Postas e repostas as necessidades, um agregado familiar de quatro pessoas tem direito a 1 Kg de arroz por mês e uma pasta de dentes de três em três meses. Ninguém passa fome, mas também não há festins e banquetes. Os excessos do capitalismo estão vedados em Cuba.

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Cuba nos anos 50, antes da revolução

Mas nem sempre foi assim. Até aos anos 50, Cuba era um país rico, pelo menos em comparação com os restantes países da América Latina. Mesmo quando ajustado à bitola dos países ocidentais, Cuba, não sendo um portento económico, comparava bem com Portugal ou com Espanha, tinha a mesma riqueza per capita do que Itália e era mais rica do que o Japão.

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Fonte: Maddison project database

Uma economia essencialmente agrária, Cuba dependia da produção e exportação de açúcar e de tabaco, importando produtos manufacturados (têxteis e calçado), comida, maquinaria, e combustíveis e minerais, necessidades expectáveis numa ilha com poucos recursos.

Com o final da 2ª Grande Guerra e o atenuar do belicismo, um período de acalmia generalizada levou uma vaga de turistas americanos a explorar as potencialidades de uma ilha rodeada por mar a 26 graus centígrados. Com casinos e resorts de luxo repletos de norte-americanos, Cuba era uma espécie de Las Vegas nas caraíbas. A expansão do turismo reforçava o crescimento de Cuba, projectando a imagem de sonho americano insular que embevecia alguns yankees. Até que se implantou o socialismo.

A ciência económica não permite grande experimentação, no sentido em que não é possível comandar pessoas, empresas e instituições, obrigando-as a fazer algo, para que posteriormente possamos observar e quantificar os efeitos. Daí que tenhamos de recorrer a modelos simples. Um desses modelos é o de Robinson Crusoe, o sem pária que naufraga e vive durante 30 anos numa ilha. Esta novela de Daniel Defoe permite construir simples paralelos, e explicar, com recurso a analogias simples, alguns conceitos económicos basilares. Por exemplo, a escolha entre trabalho e lazer, que na versão Crusoe corresponde à escolha entre apanhar cocos ou descansar. Quanto mais descansar menos tempo terá para apanhar cocos, e vice-versa.

A história, contudo, ainda que em prejuízo de muitos cubanos, permitiu-nos uma gigantesca experiência económica e social: o socialismo numa ilha. A revolução cubana e a deposição do ditador Fulgencio Batista permitiram aos cientistas sociais observar quais os efeitos de uma economia regida pelos princípios socialistas.

Ademais, à ditadura de Batista suceder-se-ia uma outra ditadura, pelo que Fidel tinha pleno poder para planear a economia. Não havia, portanto, desculpa de que a democracia, o Parlamento — «uma brincadeira burguesa», como Álvaro Cunhal o apelidou — ou quaisquer outras instituições se iriam colocar no caminho da revolução, no caminho do socialismo.

Mais surpreendente ainda, a história também nos respondeu à questão a que o contrafactual obriga: o que teria acontecido a Cuba caso esta não tivesse abandonado a economia de mercado. Existe uma outra ilha das Caraíbas, Porto Rico, um território sem personalidade jurídica pertencente aos Estados Unidos da América, que é muito semelhante a Cuba.

Embora com uma população menor, Cuba e Porto Rico partiam de bases económicas e sociais muito similares. O momento de viragem ocorre em 1959, quando Fidel Castro, coadjuvado pelo seu segundo em comando, Che Guevara, irrompem por Havana, depondo então a ditadura de Batista. Seguiu-se a expropriação e nacionalização de todas as empresas, grandes e pequenas. O país expulsou todas as ordens religiosas, em particular a católica, e declarou-se ateísta. As escolas privadas foram banidas, os meios de produção foram nacionalizados. «Eliminaremos qualquer manifestação de actividade privada», proclamou Fidel Castro. Cuba instituía assim os pilares do socialismo.

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Fonte: Maddison project database.

A evolução não podia ser mais díspar. Enquanto Porto Rico vê a sua riqueza crescer, seguindo a tendência, aliás, registada no resto do mundo, Cuba permaneceria estagnada durante décadas.

Não obstante a evolução muito favorável de outros indicadores de desenvolvimento humano e social, como foi o caso dos níveis de literacia, da mortalidade infantil ou da expectativa de vida, Cuba tornou-se incapaz de produzir riqueza suficiente para elevar os níveis de qualidade de vida material.

A estatização de todos os sectores asfixiou a economia, a inovação e o progresso. Porto Rico ultrapassa Cuba em todos os indicadores socioeconómicos, excepto em indicadores de saúde, como a esperança média de vida e a mortalidade infantil, em que ainda se encontra à frente de Porto Rico. De facto, a grande aposta na saúde produziu resultados, mas de pouco mais Cuba se pode orgulhar.

Fidel, que se tornou marxista mais por conveniência do que por convicção (ao contrário de Che Guevara e de Raul Castro, que eram ideologicamente muito marcados), não ignorou a situação. A falta de recursos, fruto da estagnação da economia cubana, exigiam medidas. O governo cubano aproveitou então o inimigo comum com a União Soviética: os EUA. Este ódio de Fidel para com os EUA contrastava com a admiração de adolescente, que o faz endereçar a carta a FDR ou o levaria de lua de mel para Miami. No caso da União Soviética, Cuba era pivô na influência ideológica e revolucionária sobre a América Latina, servindo como simulacro da experiência comunista.

Começam então, por volta dos anos 60, as avultadas transferências da União Soviética para Cuba, assim como a importação de açúcar a preços bem acima do preço de mercado. A União Soviética ganhava influência na América Latina, Cuba ganhava meios para subsistir. Mais tarde, a União Soviética havia de instalar mísseis nucleares na ilha, que logo depois seriam retirados após intensas negociações da União Soviética com os EUA.

Em 1962, Nikita Khrushchev escreve a Fidel Castro, recusando usar as armas nucleares contra os EUA, pois isso daria início «a uma grande guerra termonuclear». «Dear Comrade Fidel Castro, I find your proposal to be wrong,» — retorquiu Khrushchev — «even though I understand your reasons». Com a ajuda financeira e económica da União Soviética, vinha também algum bom senso.

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Cuba em 2015. A arquitetura e infraestruturas pouco se alteraram face a 1959.

Quando procuramos aferir as causas para a estagnação de Cuba, muitos encontram no embargo económico americano o bode expiatório que explica o retrocesso. Independentemente do impacto económico, que não é certamente negligenciável, como são aliás todas as medidas proteccionistas, não deixa de ser irónico que o projecto socialista precise das importações de um país capitalista para prosperar. Esta é, ainda que economicamente frágil, uma explicação política conveniente para esconder a origem dos problemas: o falhanço do planeamento central.

Não por acaso, o projecto socialista começa a falir em todos os países onde foi implementado, e não apenas em Cuba. Isso teve um grande impacto na economia cubana. Com a queda do muro de Berlim, em 1989, e a dissolução da União Soviética dois anos depois, Cuba perdeu as importantes transferências que recebia.

Como consequência, a economia encolheu cerca de 35%, tendo-se seguido um período de racionamento ainda mais agudo do que já era normal em Cuba. Para além das limitações na alimentação, Castro sugeriu que as pessoas andassem de bicicleta para pouparem gasolina.

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Cubanos fogem de Cuba em direção à Flórida, EUA.

Ao mesmo tempo, países da dissoluta União Soviética, fustigados que estavam pelo jugo comunista, abrem-se ao mundo. Implementam uma economia de mercado, fomentam um sector privado, remontam as suas instituições e implantam um Estado de Direito. Em menos de 10 anos ultrapassam Cuba em quase todos os indicadores económicos. Em bom rigor, ultrapassam Cuba, mas também Portugal. Em PIB per capita, a Estónia e a Lituânia ultrapassaram-nos em 2013, uma década depois de países de uma outra ex-federação socialista, a Jugoslávia, nos terem ultrapassado, como foi o caso da Eslovénia em 2005.

Enquanto isto acontecia, Cuba voltava a suplicar por mais ajuda, desta feita à Venezuela. Chavez prontamente aceitou, enviando para Cuba mais de 100 mil barris de petróleo por dia. Em troca, Cuba enviaria dezenas de milhares de médicos para Venezuela, numa versão moderna de trabalho forçado. Parte do salário dos médicos era cativado pelo Governo, e estes estavam obrigados a retornar a Cuba sempre que assim fosse exigido.

Com a descida do preço de petróleo após a crise financeira e a degradação da economia venezuelana diminuía a ajuda a Cuba. E quando acaba o dinheiro dos outros, acaba-se o socialismo, já havia vaticinado Margaret Thatcher. «Ou mudamos de caminho, ou afundamo-nos» — constatava Raúl Castro, em 2008, perante a falência do socialismo. Uma experiência controlada de planeamento central a la Robinson Crusoe havia falhado — mais uma —, e Cuba estava condenada à miséria. E é precisamente Raúl Castro que inicia, em 2010, um programa de reformas económicas em Cuba, que timidamente vão abrindo a economia cubana ao sector privado.

Esta mudança não é inédita. Após a morte de Mao Tse-tsung, o líder comunista da República Popular da China, o seu braço direito, Deng Xiaoping, encetou uma série de contra-reformas económicas que regrediram o modelo económico socialista reinante na China. Abriu os mercados à iniciativa privada, permitiu a aquisição dos campos agrícolas e a privatização dos meios de produção. Instituiu, embora de uma forma muito particular e sempre dependente da supremacia do Partido Comunista Chinês, uma economia de mercado.

O crescimento da China foi notável. Deu efectivamente um grande passo em frente, tal como Mao Tse-tsung havia sonhado, mas sem as dezenas de milhões de mortos, privados de comida, a que a experiência comunista de Mao condenou. Em 2018, projecta-se que ultrapasse os EUA no tamanho da sua economia.

Também não era novidade em Cuba. Logo após a dissolução da União Soviética e a severa crise que isso gerou em Cuba, Fidel abriu um pouco a economia ao investimento directo estrangeiro, em particular ao Espanhol, permitindo a construção de hotéis turísticos e a vinda de mais turistas. Reverteu, contudo, assim que a economia recuperou, impedindo a criação de novos hotéis ou resorts turísticos.

O bom senso económico era sempre preterido em nome de políticas altamente ideológicas, pese embora o seu historial de maus resultados. Ao dogma ideológico do socialismo pouco parecem interessar os resultados.

Embora os dados estatísticos não sejam fiáveis, pois são fornecidos por um governo ditatorial, que nunca teve despudor em abafar os media, silenciar e executar dissidentes políticos (segundo Miguel A. Faria em Cuba in Revolution: Escape from a Lost Paradise, estima-se que Fidel tenha mandado executar entre 30 e 40 mil pessoas desde 1959 nos pelotões de fuzilamento), a percepção de quem visita Cuba é a de que as reformas de Raul vieram trazer algum alívio a uma economia estagnada.

Com efeito, Marino Murillo, um dos economistas que Raul Castro colocou à frente do plano de reformas, começava a falar da «criação de valor», da necessidade da «sinalização dos preços» e de «factores de mercado». «A vida mostrou que o Estado não pode fazer tudo» — disse. A vida, uns quantos países falidos e muita miséria, em boa verdade.

Entre muitas outras medidas (foram aprovadas 313 no Congresso do Partido Comunista, em 2011), o Estado entregou 1.5 milhões de hectares de terra a agricultores e cooperativas, que agora ocupam 70% do território arável. Cerca de 400 mil cubanos podem agora ter um negócio particular, incluindo o seu próprio restaurante. Podem também comprar e vender casas e carros, e podem ainda aceder à internet, embora o preço de $4.50/hora, metade do salário mensal de um operário, limite muito quem o pode fazer.

Ao todo, foi definida uma lista de 181 actividades que podem ser desempenhadas por ‘cuenta propria’, fora do espartilho do Estado. Ao mesmo tempo, Raul Castro disse que iria dispensar 1.1 milhões de trabalhadores do sector público.

Do ponto de vista macroeconómico, as reformas passaram também por fundir as duas moedas oficiais, que criavam um perverso mercado negro, assim como reduzir o défice orçamental e o défice da balança de pagamentos, isto é, a posição de Cuba face ao exterior.

Curiosamente, a desigualdade de rendimentos tem aumentado. Alguns afortunados recebem remessas de familiares que vivem no estrangeiro. Os que trabalham no turismo saem também beneficiados, especialmente quando recebem as gorjetas em moeda estrangeira (são proibidas). A desigualdade aumentou, não porque alguns tenham ficado mais pobres, mas porque outros têm ficado mais ricos. O aumento das desigualdades nem sempre é, como estes exemplos atestam, negativo.

A morte de Fidel Castro pode sedimentar um ponto de viragem, que já vinha sendo traçado desde a crescente influência do seu irmão no governo. Raul Castro está consciente de que o progresso económico de Cuba depende da existência de uma economia de mercado, de um sector privado, de famílias e empresas, de indivíduos e empreendedores, de inovadores e de inovação.

Muito foi feito, muito continua por fazer. É possível abrir um pequeno negócio, mas não existem fornecedores e distribuidores que vendam as matérias-primas necessárias. A regulação e a taxação têm como objectivo criar empresas bonsai, que nunca poderão beneficiar de economias de escala. Muitos preços continuam fixados, impedindo a devida coordenação entre a procura (consumidores) e a oferta (produção). Existe ainda muito receio quanto ao investimento estrangeiro.

Contudo, a Cuba não deverá bastar o progresso económico. A liberdade económica carece também de liberdade individual e de direitos civis, como a liberdade de circulação, a liberdade religiosa, a liberdade de expressão. Propriedades que apenas as instituições de um sistema democrático conseguem conferir. Se com a morte de Fidel se pode enterrar também o socialismo, que com ela nasça uma Cuba Livre. A bem dos cubanos, a bem de um mundo aberto e livre, e a bem de todos nós.

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Dagong: Próximo passo é reforçar a competitividade interna

  • Lusa
  • 27 Novembro 2016

A maior agência chinesa de 'rating' considera que as reformas orçamentais são precisas mas o próximo passo para Portugal é reforçar a competitividade interna.

O presidente da Dagong, a maior agência chinesa de ‘rating’, considera que as regras orçamentais europeias a que Portugal está obrigado “são necessárias”, mas defende que “o próximo passo” deve ser “desenvolver os fatores internos de competitividade“.

“De facto, Portugal esteve numa situação difícil quanto à dívida pública e acho que as regras orçamentais da Europa são necessárias nestas situações. Mas acho que o próximo passo para Portugal é pensar em como aumentar a competitividade interna”, afirmou o líder da Dagong Global Credit Rating Group, Guan Jianzhong, em entrevista à Lusa.

Para Guan Jianzhong, a questão chave para Portugal é o país perceber “como reforçar os fatores internos da economia, especialmente nas formas de criar crescimento, de desenvolver a competitividade central de Portugal como economia“.

"Acho que isto vai ser um grande teste para os líderes em Portugal. O ambiente interno em Portugal é robusto, mas é mesmo na questão da competitividade que têm de apostar”

Guan Jianzhong

Presidente da Dagong

“Acho que isto vai ser um grande teste para os líderes em Portugal. O ambiente interno em Portugal é robusto, mas é mesmo na questão da competitividade que têm de apostar”, considerou, acrescentando que as medidas que têm sido adotadas pelo Governo socialista de António Costa lhe dão “esperança quanto à recuperação da economia”.

Questionado sobre se Portugal não deveria potenciar a competitividade externa e as exportações, o presidente da Dagong reiterou que “a questão central é qual é a competitividade de Portugal internamente”.

Sublinhando que “a abertura do mercado é um pré-requisito” para o crescimento, mas que “não vai resolver os problemas, Jianzhong defendeu que deve “promover a inovação na economia como sendo um novo elemento interno” de crescimento.

Atualmente, a Dagong classifica Portugal com ‘BB’, uma nota considerada lixo, mas a um nível da escala de investimento, sendo esta avaliação feita apenas com base na informação que é pública, uma vez que se trata de um ‘rating’ (nota) não solicitado.

O presidente da Dagong disse que “há sinais de melhoria” a nível macroeconómico em Portugal e que “estes sinais positivos têm de ser tidos em conta no ‘rating’ de Portugal no longo prazo“, mas alertou para a necessidade de “olhar também para o desempenho orçamental”.

É preciso olhar para a receita do Governo e também para o pagamento da dívida pública. Isso também vai ser tido em conta na nossa avaliação”, afirmou Guan Jianzhong, acrescentando que as políticas “que o Governo tem estado a pensar (…) são sinais positivos para a economia” e que o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) “comprova isso mesmo”.

Já quanto ao sistema financeiro, o presidente da Dagong entende que este “é um instrumento para o crescimento“, admitindo que é “uma das maiores preocupações” para a agência de ‘rating’ que dirige.

Sublinhando que o executivo tem “planos importantes para a economia”, Guan Jianzhong alerta que, “sem um sistema financeiro robusto, a implementação destas medidas vai ser difícil”.

Segundo o presidente da Dagong, as empresas chinesas estão disponíveis para investir e não estão à procura de setores específicos, até porque a China tem “uma diversidade grande de investidores”.

"A questão é os projetos disponíveis em Portugal. Vocês têm de ter bons projetos, investimentos onde se possa investir e também é preciso resolver o problema da assimetria da informação”

Guan Jianzhong

Presidente da Dagong

“A questão é os projetos disponíveis em Portugal. Vocês têm de ter bons projetos, investimentos onde se possa investir e também é preciso resolver o problema da assimetria da informação”, recomendou Jianzhong, acrescentando que é necessário garantir que os investidores têm acesso a “informação credível“.

Sublinhando que esta situação “não é só em Portugal, é em toda a Europa”, e apontando que o problema é que “a informação não está sempre disponível e que, por vezes, a informação que os investidores querem ver não tem uma fonte credível”, o líder da agência de ‘rating’ chinesa diz que “a Dagong pode ter um papel e ser uma ponte entre a China e Portugal no financiamento destes projetos”

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