Estados Unidos já não são uma democracia completa – e a culpa não é de Trump
Em 2016, os Estados Unidos da América passaram a ser uma democracia com falhas. Do crescimento do populismo ao afastamento político, Trump não foi a causa, mas a consequência.
América, terra dos livres e lar dos bravos? Se calhar já não é assim. Os Estados Unidos deixaram, em 2016, a categoria de países completamente democráticos para ser agora uma democracia com falhas. E a culpa não é de Trump, mas sim da erosão da confiança na classe política.
Quem é o diz é um estudo levado a cabo pelo departamento de inteligência do The Economist, que todos os anos elabora um ranking de países relativamente à sua adesão aos valores democráticos — como, por exemplo, o processo eleitoral e o reconhecimento de liberdades civis.
Em dez anos, os Estados Unidos desceram 0,24 pontos percentuais no ranking, o suficiente para deixarem de ser uma democracia completa. E quais são as diferenças entre esta e a democracia com falhas? Fraquezas em aspetos mais específicos como a governação, a cultura política e os níveis de participação política.
Donald Trump só beneficiou com estes fatores — tal como os que defendiam o Brexit ou a dos movimentos de extrema-direita pela Europa fora. Os Estados Unidos já davam sinais de que isto poderia acontecer, com o seu sistema político tradicional a falhar, um aumento da distância entre as elites e o eleitorado e o crescimento dos partidos populistas.
Portugal, a democracia quase completa
O nosso país aparece no 28º lugar desta lista, com os três lugares acima a serem ocupados pelo Botswana, pela Costa Rica e pela Coreia do Sul. Embora seja quase irrepreensível no que toca ao processo eleitoral e ao pluralismo, tendo somado 9,58 de 10 pontos, Portugal fica muito mais atrás em fatores como o funcionamento do Governo e a participação política. No total, contabiliza uma pontuação de 7,86 pontos — suficiente para a categoria de democracia com falhas.
Nos lugares cimeiros da lista encontram-se a Noruega, com 9,53 pontos — a atingir o máximo em quatro das cinco categorias –, a Islândia com 9,50 pontos e a Suécia com 9,39 pontos.
A democracia está em crise. Porquê?
O relatório afirma que 2016 foi um ano de “recessão democrática global”, com as democracias envoltas em ceticismo, falta de confiança e crescente distância entre eleitores e eleitos. É difícil para o departamento de inteligência do The Economist apontar apenas uma justificação para esta crise democrática, mas a organização afirma que um dos principais culpados foi o crash de 2008 e a crise financeira que se seguiu — e que teve efeitos nefastos, não só na economia como, e principalmente, no dia-a-dia das pessoas.
Neste momento, apenas 30% dos americanos nascidos depois da Primeira Guerra Mundial acham que é importante viver-se em democracia, 19% confiam sempre ou quase sempre no Governo para tomarem a decisão correta.
É também dado bastante destaque à Venezuela, que se apresenta no 107º lugar e é considerado um regime híbrido. Em 2015 encontrava-se no 99º lugar, mas a resposta do governo à perda de maioria no parlamento e a crescente degradação das condições da população foi o principal motivo desta descida.
Editado por Mariana de Araújo Barbosa (mariana.barbosa@eco.pt)
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