Cavaco apela à responsabilidade dos líderes europeus, 25 anos depois de Maastricht
O ex-Presidente da República apela à responsabilidade dos líderes europeus, admitindo recear a ignorância de alguns em relação “às consequências dramáticas” de uma rutura da união monetária.
O ex-Presidente da República Cavaco Silva apela à responsabilidade dos líderes europeus, admitindo recear, no 25º aniversário da assinatura do Tratado de Maastricht, a ignorância de alguns em relação “às consequências dramáticas” de uma rutura da união monetária.
Numa declaração escrita enviada à agência Lusa a propósito da passagem dos 25 anos da assinatura do Tratado de Maastricht, Cavaco Silva diz tratar-se de “um dos mais importantes marcos da história da construção europeia”, defendendo que, um quarto de século depois, “as liberdades que são timbre da União devem ser defendidas e proclamadas pelo conjunto das nações europeias, cientes de que a União as faz mais fortes”.
“Espero que os líderes europeus estejam à altura das suas responsabilidades e correspondam, dessa forma, às expectativas dos cidadãos. Receio, no entanto, a ignorância de alguns deles em relação às consequências dramáticas que uma rutura da união monetária teria na vida dos cidadãos”, sublinha Cavaco Silva, que, a 07 de fevereiro de 1992, presidiu à cerimónia de assinatura do Tratado de Maastricht na qualidade de presidente do Conselho da União Europeia.
Espero que os líderes europeus estejam à altura das suas responsabilidades e correspondam, dessa forma, às expectativas dos cidadãos. Receio, no entanto, a ignorância de alguns deles em relação às consequências dramáticas que uma rutura da união monetária teria na vida dos cidadãos.
Recordando que, nessa cerimónia, alertou para o facto de o tratado que iria ser assinado representar “o começo de um novo ciclo” e não “uma etapa final”, Cavaco Silva, que em 1992 desempenhava também o cargo de primeiro-ministro, faz uma retrospetiva das negociações “particularmente duras” então levadas a cabo, com “momentos de tensão e de grande incerteza” quanto à possibilidade de se chegar a um acordo.
Mas, lembra, “na Cimeira de Maastricht, a 9 e 10 de dezembro de 1991, o espírito de solidariedade da construção europeia prevaleceu sobre as divergências”.
“O Tratado da União Europeia, como passou a designar-se, congregou pela primeira vez as vertentes económica, monetária e política. A grande novidade foi a instituição da união monetária, que viria a tornar-se uma realidade na vida dos cidadãos europeus em janeiro de 1999 com a criação da moeda única. Um passo de gigante do processo de integração europeia. Uma verdadeira revolução”, relata o antigo Presidente da República.
Portugal, conta, conseguiu naquela negociação a criação de um novo fundo de coesão para financiar projetos nas áreas do ambiente e das redes transeuropeias, para além do reforço dos fundos estruturais.
“Num tempo em que a ‘espuma dos dias’ ocupa grande parte da atenção, é difícil recordar a transformação que Portugal sofreu desde a nossa adesão às Comunidades, em 1986”, sublinha.
Considerando que Maastricht foi determinante neste processo, “mesmo que não tenham sido evitadas novas crises, seja por políticas erradas seguidas pelos diferentes Estados, seja por deficiente supervisão por parte das instituições europeias”, Cavaco Silva reconhece, contudo, que “não se avançou devidamente, como estava previsto, na coordenação das políticas económicas dos Estados-Membros”.
“Considero um erro assacar às insuficiências de Maastricht e ao euro a responsabilidade pela crise com que os países da União Europeia se vêm defrontando nos últimos anos. Como afirmei em 1992, o Tratado não era um fim, mas o começo de um novo ciclo”, escreve o antigo Presidente da República.
Considero um erro assacar às insuficiências de Maastricht e ao Euro a responsabilidade pela crise com que os países da União Europeia se vêm defrontando nos últimos anos. Como afirmei em 1992, o Tratado não era um fim, mas o começo de um novo ciclo.
Pois, acrescenta, “as dificuldades não terminaram, nem vão terminar” e os “desafios adiante são muitos e as incertezas parecem avolumar-se”, com a crise dos refugiados, a falta de crescimento, o terrorismo, os novos protecionismos, o ‘Brexit’ ou as alterações climáticas.
“Mas é importante recordar sempre que a Europa nunca teve tanto tempo de paz e de prosperidade como este que conhecemos nas últimas seis décadas. Cabe por isso aos líderes de hoje permanecerem firmes na defesa dos ideais europeus – os valores de uma sociedade tolerante e humanista, onde cada um possa viver em segurança e respeito mútuo”, defende.
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