Candidato do PS francês veio estudar “Brinquebalante” de Costa
Fraco nas sondagens, Benoît Hamon quer uma aliança à esquerda, e vai reunir com Costa e os partidos da esquerda para melhor perceber como o modelo pode funcionar.
Benoît Hamon continua a ficar para trás nas sondagens das eleições presidenciais francesas, mas o candidato do Partido Socialista francês está a pesar hipóteses que possam ajudá-lo a vencer. Se as previsões atuais não veem Hamon a chegar à segunda volta, o candidato prepara-se para experimentar uma solução à portuguesa. Hamon já estendeu a mão a dois partidos mais à esquerda para criar uma aliança, e encontra-se esta sexta e sábado em Portugal, para reunir com os partidos do arco governativo, ou da “Briquebalante“, a alternativa francesa à alcunha “Geringonça” que tem sido usada para falar do acordo parlamentar entre o PS, o Bloco de Esquerda, o PCP e Os Verdes.
O jornal francês Libération exemplifica as razões que poderiam trazer Benoît Hamon a Portugal: É “um país onde os socialistas governam com o apoio da esquerda radical e dos comunistas”, onde o Governo “tira os cidadãos da austeridade e aplica o seu programa à letra ao mesmo tempo que reduz o défice e a dívida”. Portugal pode, assim, ser um modelo político para o que Hamon pretende fazer em França: juntar-se a Jean-Luc Mélenchon, da esquerda radical e com apoiantes comunistas, e ao ecologista Yannick Jadot.
Já em agosto do ano passado, poucos dias depois de anunciar a sua candidatura às primárias francesas, Benoît Hamon elogiava a solução portuguesa num discurso em Paris, no subúrbio de Saint-Denis. “O falhanço do Syriza na Grécia no seu braço de ferro com a Europa é o do seu isolamento no coração de uma esquerda europeia fragmentada. Falhanço também em Espanha onde a esquerda, apesar de ser maioritária nas urnas, não foi capaz de encontrar o compromisso que lhe permitira governar. Mas não nos fiquemos por estas derrotas”, afirmou Hamon. “A aliança das esquerdas em Portugal sob a égide do primeiro-ministro Costa mostra-nos o caminho”.
Esta sexta-feira à tarde, Hamon começa a visita a Portugal pelo Liceu Francês de Lisboa. Depois, encontra-se com os partidos da esquerda e com a UGT, e só no sábado se encontrará com António Costa, por volta das 16h00. Costa, segundo disse o deputado socialista Pascal Cherki que tem preparado a viagem de Hamon a Lisboa, “esvaziou a sua agenda para receber o candidato”.
Em termos ideológicos, a proximidade entre Benoît Hamon e os seus vizinhos à esquerda Jean-Luc Mélenchon e Yannick Jadot pode mesmo ser maior do que entre o PS, o Bloco e o PCP em Portugal. Tanto Hamon como Mélenchon pretendem uma União Europeia com maior poder para os cidadãos, uma revisão das leis constitucionais para criar uma democracia mais participativa, um maior investimento na energia verde e a legalização da canábis e da eutanásia. Hamon já estendeu a mão, dizendo num discurso de campanha que todos “os que se reveem na ecologia política”, e sublinhando em especial Jean-Luc Mélenchon e Yannick Jadot, constituíssem juntos “uma maioria governamental coerente e durável, para o progresso social, ecológico e democrático”. Mélenchon também já se mostrou aberto a este tipo de parceria, embora nada esteja ainda formalizado.
O Libération aproveita para sublinhar, no seu artigo sobre a visita de Hamon a Portugal, que não só os socialistas franceses veem com bons olhos uma solução portuguesa, também os portugueses devem ter interesse nisso. “Os portugueses querem a vitória de Hamon em maio, isso interessa-lhes a nível local e à escala europeia”, afirmou Pascal Cherki ao jornal, que destaca que “os países da Europa do Sul (Espanha, Itália, Portugal) não guardam boas memórias do mandato de François Hollande, em quem depositavam esperanças de uma reorientação da Europa”.
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