CGD: Os casos que marcaram a audição de Armando Vara
A "pressão" de Sócrates, Vale do Lobo, a OPA da Sonae à PT. A audição de Vara foi marcada por uma série de polémicas. Saiba o que se disse na última audição antes da interrupção dos trabalhos.
A audição de Armando Vara na comissão parlamentar de inquérito (CPI) à gestão da Caixa Geral de Depósitos (CGD) foi a última antes de os trabalho serem interrompidos até ao início do mês de maio. Durante a sessão de perguntas e respostas dos deputados ao ex-administrador do banco público, voltaram à tona muitas das polémicas que têm marcado frequentemente a agenda desta comissão. Desde a “pressão” que Sócrates exerceu na CGD, a projetos como Vale do Lobo ou La Seda até à chamada “guerra” no BCP. Fique a conhecer as principais polémicas desta audição.
Sócrates: Não falou ou não se lembra?
Quando foi a vez de Luís Campos e Cunha ir ao Parlamento falar sobre a gestão da CGD, o antigo ministro das Finanças revelou que, desde que assumiu funções no Governo Sócrates, o primeiro-ministro o pressionou para demitir a administração da CGD. E que tinham sido sugeridos os nomes de Carlos Santos Ferreira e Armando Vara. Mas afinal Vara falou, ou não, com alguém do Governo sobre o banco público? Foi com esta pergunta que começou uma das polémicas nesta audição. “Não sei o que é que o faz pensar que falei com ele.” Foi assim que Vara respondeu a João Almeida, deputado do CDS — o partido que pediu de forma potestativa esta audição.
Mas, logo a seguir, o ex-administrador disse “não me lembro de ter falado com Sócrates sobre a CGD”, em resposta a Hugo Soares, do PSD. Afinal, não falou ou não se lembra? Perguntaram. “Respondi ‘não’ a João Almeida e respondi ‘não’ a Hugo Soares” e “tenho a certeza de que nunca falei com ele [Sócrates]”, diz Armando Vara. “Na minha memória não está nada da Caixa com o engenheiro Sócrates”, acrescentou. Mas esta resposta não satisfez o deputado social-democrata, que pediu o envio das respostas para o Ministério Público.
Vale do Lobo e La Seda: eram ou não PIN?
Os projetos Vale do Lobo e La Seda têm sido um tema recorrente na CPI à gestão da Caixa. Estas apostas foram feitas porque, de acordo com Vara, eram importantes para a Caixa. Relevantes ao ponto de terem o carimbo de Projetos de Interesse Nacional (PIN)? “Vale de Lobo Não. La Seda… não tenho a certeza”, diz Vara. Mas João Almeida confirma: o projeto espanhol também era PIN.
Mas estes projetos levaram a CGD a registar imparidades elevadas, uma vez que os empréstimos cedidos não foram devolvidos. Segundo o deputado centrista, “azar dos azares, não só os projetos acumulam imparidades, com os gestores respondem agora por uma série de questões. Isso é uma coincidência?”, pergunta. No caso de Vale do Lobo ainda há esperança, realça Vara, dizendo que a Caixa ainda vai conseguir recuperar o dinheiro neste projeto, porque os ativos estão sempre valorizar.
O ex-gestor esclarece também que até 2013, o projeto de Vale do Lobo pagou à CGD cerca de 100 milhões do total do empréstimo que tinha sido concedido, explica. “Foi um dossiê bem pensado, que fizemos questão que ficasse só com a Caixa quando havia outros bancos interessados”.
No resort Vale do Lobo, a Caixa colocou 197 milhões em empréstimos e, enquanto acionista, investiu cerca de 30 milhões. E os promotores? Cerca de dez milhões de euros, diz Vara. Já sobre a La Seda, a postura foi a mesma: “se a Caixa se envolveu foi porque era viável”.
CGD participou na “guerra” no BCP?
Não, disse Armando Vara aos deputados. “A Caixa não participou na guerra no banco privado. Conseguimos — Vara foi vice-presidente do BCP — que os acionistas estivessem unidos no apoio à administração [liderada, à data, por Paulo Teixeira Pinto]. E a forma como votaram, foi a prova de que estávamos a fazer um trabalho sério”, defendeu na CPI.
Vara esclareceu que a ida para o BCP “foi um grande desafio” e não um “golpe do Governo” para dominar o banco privado, como foi dito na altura. Esta polémica também ganhou força quando Carlos Santos Ferreira foi à comissão. Na altura, o ex-presidente da Caixa disse que passou vários anos a ouvir falar do “assalto ao BCP” e lamentou não se ter explicado logo. O mesmo presidente (ainda da CGD na altura) que convidou Vara para ir para o BCP, como explicou o ex-administrador. “Santos Ferreira disse: Eu vou para este cargo [presidente do conselho de administração] e preciso que me acompanhe.”
Ainda sobre o BCP, Miguel Tiago quis explicações sobre a intervenção ou tratamento dado no interior da Caixa no caso do financiamento de acionistas ou potenciais acionistas do BCP, aceitando como colateral as próprias ações que estavam a ser adquiridas. Armando Vara explicou que “chegámos rapidamente à conclusão que a participação” da Caixa no BCP “não fazia sentido”. Mas decidiram não reduzir para menos de 2% — participação qualificada — a pedido do então presidente do BCP, Teixeira Pinto.
“Ele entendia que a participação da Caixa era como um seguro de vida para qualquer tentativa de OPA. Era um sinal para qualquer banco exterior não se atrever.” Foi esta, segundo Vara, a justificação do BCP.
OPA à PT. Afinal o que é que aconteceu?
Quando a Sonae lançou a oferta pública de aquisição (OPA) à Portugal Telecom em 2006, Armando Vara era o administrador que representava a CGD na operadora. Esta operação acabou por ser chumbada pelos acionistas da PT. Mas afinal o que aconteceu? Esta foi uma das questões colocadas pelos vários partidos, da esquerda à direita.
Moisés Ferreira disse que o Banco Espírito Santo “usava a PT como ‘porquinho mealheiro’”. Por isso, era importante perceber se a posição da Caixa na OPA foi por ordem do Governo ou não. Relembra que Santos Ferreira disse que a Caixa não existia para defender posições estratégicas, mas para fazer dinheiro. Sobre isto, Vara disse que a decisão foi tomada pela Caixa. E que no período em que esteve no banco público foi quando “houve menos intervenção” no banco.
Por isso, a OPA da Sonae à PT não avançou porque as consultoras disseram na altura que a oferta não atingiu o valor pretendido, afirmou Vara. E não por pressão do Governo.
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