Estratégia de Macron para as legislativas está nos ministros
Emmanuel Macron e o seu primeiro-ministro escolheram um gabinete que os reflete -- metade homens, metade mulheres; metade políticos, metade outsiders. E os franceses estão satisfeitos.
“As coisas são claras. O Presidente da República é Emmanuel Macron. Por isso, é à volta dele e do seu projeto que os franceses se reuniram para que o nosso país avance.” Foi assim que o primeiro-ministro Édouard Philippe, escolhido por Macron pouco depois de o independente de 38 anos ter tomado posse como novo Presidente francês, explicou na televisão France Inter a escolha eclética feita por si e pelo Chefe de Estado para o grupo de ministros — nove homens e nove mulheres, à la Justin Trudeau — que inclui membros de cinco partidos diferentes e ainda personalidades conhecidas da sociedade civil francesa que nunca tiveram vida política.
Mas por detrás das decisões feitas pelos novos Chefes de Estado e de Governo está também um outro objetivo: continuar a convencer os franceses de que o movimento criado por Emmanuel Macron, En Marche!, que virou La République en Marche (LREM) para as legislativas, merece o seu voto nas eleições que se aproximam em junho para definir a composição da Assembleia da República. Essa composição vai ser essencial para permitir a Macron pôr em prática o seu programa, e é por isso que a escolha do Governo também representa uma pluralidade de vozes e partidos.
É uma equipa que o jornal Le Monde, em editorial, apelidou de “transgressão + renovação + experiência”, uma combinação que, lê-se no artigo, “seria absurdo mudar” após ter sido tão bem sucedida nas eleições presidenciais, e “prepara habilmente as eleições legislativas decisivas de 11 e 18 de junho”. Quem pertence, afinal, a este Governo?
Escolhas que dão pistas aos eleitores
Para apaziguar a direita, já que se posicionou na campanha como um liberal económico, Emmanuel Macron fez duas escolhas que surpreenderam: Bruno Le Maire, que foi candidato à nomeação republicana para a presidência, vai ser ministro da Economia, e Gérald Darmanin, de 34 anos e com experiência como presidente da Câmara, vai ser ministro das Finanças. Uma escolha que, escreve o jornal europeu Politico, assinala para os franceses mas também para a Europa que “Macron leva a sério a contenção orçamental”.
As escolhas a partir do partido de direita Les Républicains, cujo próprio candidato à presidência François Fillon ficou para trás na primeira volta após se ter envolvido em escândalos jurídicos, não estão sozinhas. Macron e Philippe foram “pescar” a outros partidos — desde os socialistas aos centristas até à esquerda radical, assim como, claro, ao próprio movimento fundado pelo novo Chefe de Estado.
Mas o Governo também conta com um número igual de personagens da vida civil francesa. A ministra da Cultura é uma editora conhecida, a ministra da Saúde é uma reputada professora de medicina, uma campeã olímpica ficou com o pelouro do Desporto.
Uma das caras mais mediáticas do novo Governo é sem dúvida a de Nicolas Hulot. A antiga estrela de televisão transformou-se num ecologista reconhecido. Durante a campanha, Macron nem sempre se colocou como um candidato verde, deixando esse espaço para os mais encostados à esquerda Benoît Hamon e Jean-Luc Mélenchon. A seleção de Hulot para segurar o cargo da Ecologia torna o seu Governo — e o seu movimento — mais apelativo para os eleitores daqueles dois esquerdistas, muitos dos quais se terão abstido na segunda volta das presidenciais.
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A jogada satisfez os franceses
A composição do grupo de ministros escolhido por Édouard Philippe e Emmanuel Macron parece ter deixado os franceses satisfeitos. Entre os inquiridos pelo instituto de sondagens Elabe, 65% consideraram que a equipa era “uma renovação” em relação à política até então seguida, escreve o Les Échos.
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Cerca de seis em dez franceses inquiridos estavam satisfeitos com a composição do primeiro governo da presidência de Emmanuel Macron, e o inquérito, realizado esta quarta-feira após o anúncio das pessoas que integrariam a lista, mostra que apenas 33% não veem novidade nem renovação na equipa escolhida.
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