Banco de Portugal prevê o maior crescimento desde o ano 2000
O Banco de Portugal reviu em forte alta as previsões de crescimento para 2017, apontando para os 2,5%. Taxa de desemprego deverá recuar para 7% em 2019.
Será preciso recuar ao ano 2000 para encontrar um ritmo de crescimento mais elevado do que aquele que o Banco de Portugal está a prever para este ano, para a economia portuguesa. Numa revisão em alta das suas previsões — aliás, a mais alta de que há memória — o Banco de Portugal aponta para um aumento de 2,5% do PIB. Também a taxa de desemprego terá um comportamento positivo, devendo recuar para 7% em 2019. Os números constam do Boletim Económico de junho, divulgado esta quarta-feira.
Se as projeções do Banco de Portugal se confirmarem, a economia nacional vai reiniciar o processo de convergência real com a zona euro, que tinha sido interrompido no final dos anos 2000. A organização liderada por Carlos Costa reviu em alta as previsões de crescimento para todo o horizonte de projeção.
BdP espera mais crescimento em Portugal
Fonte: Banco de Portugal, Boletim Económico junho 2017
A revisão da previsão de crescimento para 2017 — que, a verificar-se, iguala o registado em 2007 — feita pelo banco central reflete sobretudo os fortes resultados do primeiro trimestre deste ano. Logo nos primeiros três meses, Portugal cresceu bastante acima da área do euro, com o contributo forte do investimento — destaca-se a construção e as máquinas e equipamentos — e das exportações.
No que toca às exportações, o crescimento foi generalizado por mercado e por tipo de bens, com Angola a deixar de registar um contributo negativo e a passar a ajudar ao PIB português. Ao mesmo tempo, também as vendas para Espanha cresceram significativamente, dando um contributo relevante.
No segmento dos serviços os ganhos no turismo são igualmente assinaláveis. Aliás, vale a pena dizer que, a preços constantes, as receitas das exportações de turismo aumentaram 60% face a 2008.
O perfil de crescimento projetado para Portugal é consistente com a manutenção de equilíbrios macroeconómicos fundamentais, com uma recuperação sustentada da economia portuguesa e com o reinício do processo de convergência real com a área do euro.
Mas também os transportes contribuíram positivamente. E a ajudar a empurrar as exportações totais está também uma revisão em alta da procura externa na ordem das cinco décimas para este ano.
O desempenho no PIB entre janeiro e março foi uma surpresa positiva, que tem vindo a motivar a revisão em alta das projeções. As últimas previsões oficiais do Executivo são as do Programa de Estabilidade, apresentado em abril deste ano, mas estão já muito aquém do que tem vindo a ser antecipado por vários institutos para 2017. O próprio Executivo já assumiu que o crescimento deverá ficar em torno de 2%.
Ainda assim, a divergência na tendência do crescimento mantém-se: enquanto o Banco de Portugal continua a antever uma desaceleração do crescimento, o Governo projeta um aumento do ritmo do PIB.
Banco de Portugal versus Governo
Fonte: Banco de Portugal, Boletim Económico junho 2017 e Ministério das Finanças (Programa de Estabilidade)
Desemprego recua para 7% em 2019
Outra notícia positiva do Boletim Económico de junho diz respeito ao comportamento do mercado de trabalho. O crescimento do emprego já foi um dos contributos fundamentais para o aumento do PIB no primeiro trimestre de 2017, mas deverá continuar a evoluir positivamente.
Desta forma, a taxa de desemprego deverá recuar este ano para 9,4%, continuando a diminuir até atingir 7% em 2019. Esta projeção é bem mais positiva do que a que tinha sido apresentada em março.
Taxa de desemprego recua mais depressa
Fonte: Banco de Portugal, Boletim Económico junho 2017
Mas há mais mensagens positivas: para além de uma economia que acelera e onde o mercado de trabalho melhora, o Banco de Portugal nota que o perfil do crescimento é saudável: “É consistente com a manutenção de equilíbrios macroeconómicos fundamentais, com uma recuperação sustentada da economia portuguesa e com o reinício do processo de convergência real com a área do euro.”
Os números acompanham esta análise qualitativa: a economia como um todo mantém capacidade de financiamento e a previsão para o excedente das balanças corrente e de capital, e de bens e serviços melhora. Ou seja, a recuperação do crescimento não deverá empurrar a economia portuguesa novamente para os défices externos, na medida em que as empresas portuguesas conseguiram redirecionar os seus recursos do mercado doméstico para os setores de bens transacionáveis. Em 2019 o Banco de Portugal espera que as exportações pesem 47% do PIB.
Como vamos crescer tanto em 2017?
As exportações serão a componente que mais contribuirá para o crescimento da atividade económica. O Banco de Portugal antevê um aumento de 9,6% este ano, o que permitirá um contributo positivo para a subida do PIB de 1,8 pontos percentuais. Em 2018 e 2019 os crescimentos continuam, mas a um ritmo menor: 6,8% e 4,8%.
O consumo privado estará a um nível ligeiramente superior ao de 2008, com o consumo de bens não duradouros a acelerar, devido à melhoria do mercado de trabalho, ao aumento do salário mínimo e a algum efeito ainda da reposição dos rendimentos dos funcionários públicos. Já em 2018 e 2019, o crescimento não será tão expressivo porque a evolução do emprego será mais contida, com aumentos salariais também mais limitados.
Olhando para o investimento, o Banco de Portugal prevê um crescimento fortíssimo para 2017, ajudado pela recuperação do investimento público (que no ano passado tinha caído mais de 30%). A formação bruta de capital fixo deverá aumentar 8,8% em 2017, continuando a crescer acima de 5% tanto em 2018, como em 2019.
O investimento residencial terá uma recuperação forte, explicada pela compra de habitação por não residentes e para o turismo. Este segmento do investimento deverá agora estabilizar, depois do forte ajustamento verificado no passado, em torno dos 3%. Já no que toca ao investimento empresarial, a evolução será melhor do que a verificada em 2016. Deverá aumentar 7,6%, depois de já ter crescido 7%. Nos próximos dois anos manter-se-á acima de 6%. A suportar a confiança dos empresários estão as expectativas positivas da procura global, condições de financiamento estáveis e a necessidade de renovar stocks.
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