As reações às três demissões no Governo
O PSD questionou o timing e o CDS disse que tinha razão há um ano. À esquerda, o PCP desvalorizou o tema, mas o Bloco de Esquerda pediu "uma resposta rápida" ao problema.
A demissão dos três secretários de Estado apanhou de surpresa a atualidade política. Um ano depois de o escândalo ter sido revelado acontecem as demissões: este domingo os secretários de Estado da Internacionalização, dos Assuntos Fiscais e da Indústria pediram a exoneração de funções por causa das viagens para assistir a jogos do Euro2016 e o primeiro-ministro aceitou. No próprio dia, a direita atacou. Um dia depois, a esquerda reagiu, mas em tom diferente: o PCP desvalorizou a situação, remetendo-a para António Costa, mas o Bloco de Esquerda pediu uma solução “rápida” para a questão. Esta segunda-feira o Ministério Público confirmou que Rocha Andrade, João Vasconcelos e Jorge Costa Oliveira vão ser constituídos arguidos.
O caso remonta a agosto de 2016 e ao Campeonato Europeu de Futebol. Três secretários de Estado viajaram de Falcon de Bragança para Lyon, para assistir à meia-final do Euro 2016, a convite da Galp, uma das empresas patrocinadoras da seleção nacional. No mesmo mês, a Procuradoria-Geral da República (PGR) confirmou que tinham sido realizadas buscas tanto na Galp como numa agência de viagens, no âmbito da investigação às deslocações ao Europeu de Futebol de França pagas pela gasolineira a três membros do Governo. Para moralizar a questão foi criado um código de conduta, mas isso não impediu que a Justiça continuasse a avançar com o caso e este domingo, um ano depois, as demissões no Executivo vão-se sucedendo à medida que são conhecidos os arguidos.
PCP: Responsabilidade é de António Costa
O deputado António Filipe reagiu esta segunda-feira, no Parlamento, às demissões de Rocha Andrade, João Vasconcelos e Jorge Costa Oliveira. O dirigente do PCP disse, em declarações transmitidas pela SIC Notícias, que “a questão da composição do Governo é da exclusiva responsabilidade do primeiro-ministro“. Para o Partido Comunista Português o importante é que as conversações continuam “seja quais forem os membros do Governo”. António Filipe quer que “seja dada expressão à vontade de mudança que o eleitorado manifestou”, continuando por isso as mudanças ao nível da legislação laboral e da soberania, afastando-se das políticas de direita.
BE: “País precisa de uma resposta” rápida à saída dos secretários de Estado
“O país precisa de uma resposta mais cedo e não mais tarde”, afirmou Catarina Martins esta segunda-feira, numa visita a uma escola no Porto. Em declarações aos jornalistas transmitidas pela RTP3, a líder do Bloco de Esquerda não comentou os motivos que levaram à demissão de Jorge Costa Oliveira, Fernando Rocha Andrade e João Vasconcelos, sublinhando que “o país aguarda que o primeiro-ministro anuncie qual é a solução do Governo, como vai ficar o Governo, se vai haver uma remodelação”. Sobre a situação, o BE mantém o que disse no ano passado: “É eticamente reprovável qualquer confusão entre o exercício de uma função pública e aquilo que são negócios privados”.
PEV: Demissões não põem em causa OE
“O PEV entende que as referidas demissões não põem minimamente em causa as negociações do PEV com o Governo para o próximo Orçamento de Estado“, afirma o partido que também apoia o Governo na Assembleia da República. Em comunicado enviado às redações, Os Verdes priorizam as “opções políticas” do Executivo, pedindo que se continue o “rumo de propostas que promovam melhores condições de vida aos portugueses”. O PEV diz que as demissões “fazem sentido”.
CDS: “A realidade veio dar uma lição ao primeiro-ministro”
O líder parlamentar do CDS-PP, Nuno Magalhães, declarou este domingo: “Há quase um ano o CDS disse que estes secretários de Estado”, da Internacionalização, dos Assuntos Fiscais e da Indústria, “não tinham condições políticas objetivas para permanecer”. “Um ano depois o CDS teve razão, foi o primeiro a dizê-lo e com um ano de atraso a realidade veio dar uma lição ao primeiro-ministro”, defendeu Magalhães.
O líder parlamentar do CDS-PP considerou “inevitável” que a remodelação governamental vá mais longe e abranja os “casos mais graves” dos ministros da Defesa e da Administração Interna, não por uma “questão de oportunidade” mas “por uma questão de necessidade”.
PSD: Porquê este timing?
Carlos Abreu Amorim, deputado do PSD, questionou o timing das demissões este domingo: “De facto não compreendemos o que se alterou desde há um ano a esta parte”, afirmou aos jornalistas em declarações transmitidas pela RTP3. “A situação aconteceu há um ano. (..) Não compreendemos porque se escolheu o dia de hoje para estas demissões, se foi algum focus group ou alguma técnica de marketing político”, disse, fazendo alusão aos focus group desenvolvidos pelo Partido Socialista para avaliar a popularidade do Governo, do partido e das políticas.
Já o eurodeputado Paulo Rangel, por sua vez, disse que o primeiro-ministro António Costa atuou “ao retardador” no caso da exoneração de três secretários de Estado e disse esperar que o mesmo suceda com o Ministério da Administração Interna. “A verdade é que o Governo funciona ao retardador e penso que isto vai acontecer também com o Ministério da Administração Interna, seguramente que, mais dia, menos dia, vamos ter notícia sobre esta demissão, se não for agora já em pacote”, afirmou Rangel, referindo ser “altamente questionável do ponto de vista ético e deontológico que o secretário de Estado que é responsável pelos Assuntos Fiscais, e que tinha dado um regime próprio à Galp, fosse convidado da Galp”.
O ex-líder do PSD, Marques Mendes, considerou, este domingo, no seu comentário na SIC, que estas demissões são “um rombo para o Governo”, já que os secretários de Estado da Internacionalização, dos Assuntos Fiscais e da Indústria “estão em postos chave” e são “três pessoas altamente ligadas ao primeiro-ministro”.
(Atualizado às 14h43 com a reação do PEV)
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