Altice: Comprar, comprar… pagar 50 mil milhões mais tarde
Basta contar com os cinco maiores investimentos da Altice nos últimos dois anos para alcançar valores de milhares de milhões. Enquanto isso, a dívida cresce. E lucros? É preciso crescer, primeiro.
O nome Altice passou a marcar presença assídua nos noticiários portugueses quando, no final de 2014, avançou para a compra da PT Portugal aos brasileiros da Oi. Em junho de 2015, o negócio estava fechado. E a Altice desembolsava mais de sete mil milhões de euros para ficar com a dona da Meo. Foi o pontapé de saída para uma cruzada de investimento que se mantém até hoje e que, em dois anos, ultrapassou os 30 mil milhões de euros. Mas a dívida já vai em 50 mil milhões.
As compras
Basta contar com os cinco maiores investimentos feitos pela Altice ao longo dos últimos dois anos para alcançar valores na ordem dos milhares de milhões. Depois de fechada a compra da PT Portugal, a empresa de Patrick Drahi e Armando Pereira avançou para o mercado norte-americano, com a compra da Suddenlink e, pouco depois, da Cablevision.
Este ano, ficou-se por negócios mais modestos: comprou a startup de publicidade Teads e, por cá, prepara-se para ficar com a Media Capital, dona da TVI, entre outros negócios de media. Feitas as contas, a Altice já investiu 31,4 mil milhões em aquisições nos últimos dois anos. A estratégia é geralmente a mesma: acumular dívida agora, colher os frutos no futuro, com dispersões de capital e com lucros.
Portugal Telecom
O negócio foi oficialmente anunciado a 2 de novembro de 2014 e concluído a 2 de junho de 2015. A Altice comprou a Portugal Telecom à Oi, deixando de fora alguns ativos, como os negócios da operadora portuguesa em África, a dívida da Rioforte e a participação maioritária na própria Oi. Ao todo, a Altice pagou 7,4 mil milhões de euros, contando com a dívida da PT. Limpo de dívida, o negócio ficou avaliado em 5,78 mil milhões. Antes da conclusão da compra, a Autoridade da Concorrência obrigou a PT a vender a Cabovisão e a ONI ao fundo Apax França.
Suddenlink
Foi a primeira investida da Altice no mercado norte-americano. A empresa pagou 7,9 mil milhões de euros para ficar com a operadora regional Suddenlink, negócio que ficou concluído em dezembro de 2015 e que era o primeiro sinal intenção de Patrick Drahi de construir um império de telecomunicações por cabo nos Estados Unidos. Por essa altura, o grande alvo da Altice era a Time Warner, que viria a ser comprada pela AT&T em 2016.
Cablevision
Foi a alternativa à Time Warner. Depois da aposta na Suddenlink, a Altice desembolsou 15,4 mil milhões de euros para ficar com a Cablevision, a quarta maior operadora por cabo dos Estados Unidos. O apetite de Patrick Drahi pelo mercado norte-americano não deverá estar saciado. Na apresentação deste negócio, o dono da Altice disse que a operação coloca a operadora “numa boa posição para mais expansão”.
Teads
Já este ano, a Altice apostou no mundo das startups, ao comprar Teads por 285 milhões de euros, uma empresa de publicidade online que conta com uma audiência de 1,2 mil milhões de espetadores por todo o mundo. “Esta aquisição é mais uma componente crucial da estratégia global de publicidade da Altice”, informou a empresa, aquando do anúncio da compra. Continuou assim o plano de transformar a Altice numa empresa global.
Media Capital
O anúncio formal das negociações foi feito no final de junho e a operação ficou fechada na semana passada. A Altice comprou a participação de 94,69% que a Prisa detinha na Media Capital por 440 milhões de euros, numa operação que ainda está sujeita à avaliação das autoridades portuguesas e espanholas. Lançou ainda uma oferta pública de aquisição para tentar ficar com o restante capital do grupo de media português.
A dívida
? 50,701 mil milhões de euros ?
É este o valor da dívida líquida acumulada pelo grupo Altice: 50,701 mil milhões de euros. O valor está na última apresentação de resultados, relativos ao primeiro trimestre de 2017. A maioria da dívida, 15,353 mil milhões, é acumulada pela Altice France, a filial francesa pela qual o grupo detém a operadora SFR. Segue-se a norte-americana Cablevision, da Altice USA, com uma dívida líquida de 13,493 mil milhões de euros.
A Altice regista um rácio de dívida líquida face ao EBITDA de 7,64, muito superior à média do mercado (acima das quatro vezes). Na prática, significa que, mantendo o cenário constante, a Altice levaria mais de sete anos a pagar a dívida que hoje acumula. É apenas um dado indicativo, pois nada se mantém constante. Principalmente durante sete anos. Qualquer subida de juros por parte dos bancos centrais, fazendo subir o preço do dinheiro, pesaria seriamente nas contas da multinacional.
Os investidores, esses, parecem tranquilos. A empresa tem vindo a renegociar partes dessa dívida e a refinanciar-se junto de investidores institucionais. Além do mais, nos Estados Unidos, a Altice USA entrou recentemente em bolsa, recorrendo assim ao mercado de capitais como forma de angariação de capital. E os números impressionam: A entrada em bolsa permitiu à Altice angariar 1,9 mil milhões de dólares naquele que foi o segundo maior IPO do ano em Wall Street, a seguir à rede social Snapchat. Tratou-se ainda do maior IPO do século no setor das telecomunicações norte-americano.
Quanto a lucros, por agora nem vê-los. O grupo Altice apresentou prejuízos de 138,3 milhões de euros entre janeiro e março e fechou 2016 a perder 1,56 mil milhões de euros, um recorde para a empresa de Patrick Drahi e Armando Pereira. Ainda assim, o EBITDA, os lucros antes de juros, impostos, depreciações e amortizações fixou-se no final de 2016 nos 8,09 mil milhões de euros.
A estratégia da Altice dita prejuízos ao final do ano, e deixa de fora o pagamento de dividendos aos acionistas. Para já, a empresa dá “prioridade às aquisições que acrescentem valor e investimentos na sua infraestrutura ou portefólio de direitos”. “No futuro, a companhia tenciona ter em conta a relevância de pagar dividendos”, lê-se num comunicado de setembro de 2016, mediante o seu pagamento ordinário ou extraordinário, ou através de recompras de ações, se isso “for adequado”.
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