Portugal perde efeitos especiais em 2018. Magia ruma a Malta
André Lourenço, fundador do evento internacional de efeitos especiais e multimédia que vai na 5.ª edição, antecipa saída de Portugal. Próximo destino? Tudo indica que Malta.
O Trojan Horse was a Unicorn (THU), o maior evento do mundo de animação 3D e arte digital, prepara-se para sair de Portugal. Cinco anos depois do primeiro dia de sempre, André Lourenço, fundador do festival, diz que a decisão de sair do país é quase certa. “Tudo indica que sim”, diz, em entrevista ao ECO.
“Tudo indica que sim. Malta ainda não está decidido, mas tudo indica que sim. Vamos ver ainda mas é muito mais forte“, assegura. E porquê? André explica: é uma questão de mentalidade. “Eles percebem, entendem que temos necessidades muito próprias para fazer crescer e montar este projeto noutra dimensão. E percebem o investimento e a ajuda necessária global para fazer isto acontecer”, esclarece o português.
Depois de criar o evento, há cinco anos, com menos de uma centena de assistentes, o Trojan Horse cresceu e multiplicou-se em tempo e em espaço. Este ano, a 5ª edição — que se prolonga até 23 de setembro — reúne 900 participantes vindos de cerca de 70 países do mundo, segundo dados da organização.
Isto [o THU] cresceu muito, já não posso ser nacionalista, pensar em Troia. Está na altura de dar o pulo.
A saída de Portugal — ao que tudo indica, rumo a Malta — é consequência desse crescimento. E também da falta de sensibilização para o tema, em Portugal. “Nunca poderei queixar-me do trabalho brutal que tem sido feito por todas estas pessoas ao longo dos anos, no terreno. Todos têm sido fantásticos. Mas efetivamente isto cresceu muito, já não posso ser nacionalista, pensar em Troia. Está na altura de dar o pulo. Ainda vamos falar com o Governo mas, à partida, não vejo que as coisas mudem muito nos próximos dois meses”. Assim, a decisão será tomada até final de novembro.
Adeus ou até já?
A organização do evento parece decidida mas as despedidas começaram ainda em 2015. Na altura, logo após o encerramento da 3ª edição, André Lourenço justificava a decisão com a “falta de apoio” do Governo nacional. “O THU nunca teve grande projeção em Portugal, as pessoas não entendem a nossa área, e assumem-nos como um festival de cinema. Não percebem, de todo, o impacto da nossa indústria e acima de tudo do nosso projeto, o THU”, dizia André Lourenço, em entrevista ao Dinheiro Vivo. Prova desse desinteresse seria, já nessa altura, a falta de respostas aos pedidos da organização no sentido de obterem apoio para um evento de 600 mil euros, 40% dos quais cobertos pela bilheteira.
Cinco anos depois da criação do evento, o THU continua a contar essencialmente com o apoio de patrocinadores internacionais, ainda que o Turismo de Portugal esteja entre os sponsors do evento. Na comemoração do 5.º aniversário, o fundador do THU faz um balanço “extremamente positivo”. “Estão 900 pessoas na sala, tínhamos muitas mais para vir mas não foi possível, a reação é espetacular. Sentiste-te na tribo?”, questiona.
Considerado o maior evento do mundo da sua classe, André trouxe a Portugal nos últimos cinco anos o embaixador e sócio Scott Ross (trabalhou com George Lucas e cofundou a Digital Domain, uma das empresas de referência na indústria publicitária), Andrew Jones (vencedor do Óscar para Efeitos Visuais com o filme Avatar e responsável pelos efeitos visuais de Titanic), Syd Mead (criador do universo de ficção de Blade Runner), Sven Martin (responsável pelos efeitos visuais da série Game of Thrones) e Paul Briggs, autor do filme de animação Frozen.
Este ano, além dos convidados internacionais da indústria a que se dedica o festival — os painéis incluem Terryl Whitlatch (Guerra das Estrelas, Homens de Negro e Jumanji, Cephas Howard da LEGO e Erick Oh, da equipa com um Óscar pelo filme À Procura de Nemo —, André e a equipa receberam a visita de sete elementos do Governo de Malta. “Tanto o evento como a aceleradora devem ir para Malta. Trata-se de um investimento grande, e as pessoas assustam-se. Só depois de vires cá é que tens a dimensão do que estamos aqui a montar. Isto não tem nada a ver com um festival normal. Malta é um país pequeno mas quer investir, nós [Portugal] não temos essa perceção. Eles vieram com sete pessoas, eu nunca me reuni com sete pessoas do Governo em Portugal. Todos eles das áreas específicas: economia, indústria, inovação. Falaram com toda a gente da indústria, fizeram um vídeo em que perguntaram porque é que queriam o evento a acontecer no país. É algo que percebes que, efetivamente, é uma vontade”.
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