O que fazer com alguém irracional e sentimental? Dê-lhe um Nudge
A ideia de que os humanos nem sempre são racionais (e que, ainda assim, é possível antecipar-lhes o comportamento) rendeu um Nobel da Economia a Richard H. Thaler, o pai da economia comportamental.
Pouco passaria das quatro da manhã em New Jersey quando o economista norte-americano Richard H. Thaler recebeu um telefonema — do outro lado, o secretário-geral da Royal Swedish Academy of Sciences. Desconhece-se o conteúdo da conversa, mas a conclusão é agora bem conhecida: dentro de uma hora, Thaler seria oficialmente laureado com o Nobel da Economia e automaticamente catapultado para o estrelato mundial.
Richard H. Thaler não é propriamente desconhecido no mundo da economia. É considerado um dos pais da “economia comportamental”, uma ciência que olha para os agentes económicos — as pessoas — da forma como estes realmente são: por vezes irracionais, sentimentais até, ao invés de puramente racionais, egoístas ou mesmo materialistas, como foi standard na maioria das teorias económicas do século XX.
Este economista trouxe humanidade às ciências económicas. E, na conferência de imprensa que decorreu esta segunda-feira, um dos responsáveis da academia reconheceu isso mesmo: Richard H. Thaler “tornou a economia mais humana”, disse, assumindo-o como “um pioneiro em integrar psicologia e economia” na mesma equação. Graças às suas “contribuições para a economia comportamental”, a academia não teve dúvidas em escolhê-lo como o vencedor do Prémio do Banco da Suécia para as Ciências Económicas em Memória de Alfred Nobel, vulgo Nobel da Economia.
Quem é Richard H. Thaler?
Trata-se de um investigador, economista e professor de 72 anos, que leciona na Universidade de Chicago praticamente desde 1995. É ainda coautor da popular obra Nudge, cuja melhor tradução para português será qualquer coisa como “empurrãozinho”. O livro, escrito com Cass Sustein, foi publicado em 2008 e cedo alcançou o sucesso, convencendo o público e a crítica. Aborda como as organizações podem ajudar as pessoas a tomarem melhores decisões através da prática do nudging: influenciar o comportamento humano num melhor sentido, sem recurso à coação, a banimentos ou a outro tipo de obrigação, mas com recurso a pequenos estímulos.
O termo não era novo, mas Thaler teve muita culpa em o trazer ao mundo mainstream. Numa chamada telefónica durante a conferência de imprensa, uma hora depois de ter sido acordado pelo secretário-geral da academia, explicou que “para se fazer boa economia, não se pode esquecer que as pessoas são humanas”.
Para se fazer boa economia, não se pode esquecer que as pessoas são humanas.
Outro campo de relevo no seu trabalho inclui a ideia de que as pessoas dão mais valor a um mesmo item se o possuírem. É o caso de uma ação de uma empresa, como foi explicado na conferência. Se o seu valor de mercado estiver a cair, um investidor humano tem tendência em não a vender e esperar que essa ação recupere o seu valor.
Como explica o The New York Times [acesso condicionado], Thaler tem ainda o mérito de pôr os economistas a olharem para as pessoas da forma como elas são: humanas, sujeitas a inúmeras variáveis. Mas não se limitou a apontar para a irracionalidade dos humanos. Mostrou que as pessoas, que são os agentes económicos, afastam-se da racionalidade de forma consistente — ou seja, por outras palavras, continua a ser possível antecipar o seu comportamento.
A par disso, descobriu que uma dessas variáveis, que molda profundamente as decisões tomadas por pessoas, é a noção de justo e não justo. Uma loja de chapéus-de-chuva pode não aumentar demasiadamente os preços no período de chuva por saber que, provavelmente, as pessoas irão preferir andar à chuva do que recorrerem a uma loja careira.
Em entrevista à revista Exame em 2009, recuperada agora pelo Expresso [acesso condicionado], disse: “Não somos infinitamente inteligentes, nem possuímos um autodomínio perfeito. Somos mais parecidos com Homer Simpson do que com Albert Einstein.”
Não somos infinitamente inteligentes, nem possuímos um autodomínio perfeito. Somos mais parecidos com Homer Simpson do que com Albert Einstein.
É com todo este trabalho que Richard H. Thaler conquista o prémio Nobel da Economia, carimbado pelo Banco da Suécia. O valor do prémio rondará o milhão de euros, ou nove milhões de coroas suecas. Na conferência de imprensa, foi questionado sobre como iria gastar o dinheiro. Respondeu, entre risos: “É uma questão divertida. Vou tentar gastá-lo da maneira mais irracional possível.”
E o que faz Thaler nos tempos livres? No seu perfil na Universidade de Chicago, assume-se como interessado em golfe e bom vinho. É ainda um utilizador bastante ativo no Twitter, onde partilha ideias sobre diferentes temas da sociedade e da economia. Por exemplo, em meados de setembro, quando Londres decidiu não renovar a licença da Uber, o Nobel da Economia escreveu num comentário a um tweet contra a decisão: “Concordo. Vou sentir falta da Uber lá. Mas é por isso que é mau para os negócios ter uma filosofia empresarial de mostrar o dedo do meio.”
Tweet from @R_Thaler
Richard H. Thaler tornou-se esta segunda-feira o 79.º laureado com o Nobel da Economia em 49 edições. O prémio existe desde 1968 e, apesar do nome, não é atribuído pela Fundação Nobel, como é o caso dos prémios nas áreas da Literatura ou da Paz.
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