Nem só de Ronaldos vive a exportação nacional
A indústria do desporto está em destaque na 12.ª edição do Portugal Exportador, com a internacionalização das empresas em debate. A cooperação, a flexibilidade e os apoios são peças chave.
“Sob o céu azul português sem nuvens, em campos verdes imaculados, é grande a pressão para produzir a próxima exportação multimilionária”, escrevia a Bloomberg em julho deste ano. A atenção era dada à industria da formação de futebolistas, que conseguiu constituir um mercado de 5.000 milhões de dólares. Cristiano Ronaldo, Ederson e até José Mourinho são destacados pela agência como os produtos desta indústria. Mas há mais para além dos profissionais.
Segundo dados da Aicep, apresentados no painel “Desporto: Um negócio exportador”, a indústria do desporto representa 1,2% do Valor Acrescentado Bruto (VAB) do país, comparativamente a outros países, como é o caso da Áustria, em que esta indústria perfaz os 4% do VAB. Assim, não só a formação de profissionais, como também a produção de equipamentos desportivos têm de dar um passo à frente.
Para a Aicep, representada no painel por Luísa Lino, o caminho passa pelo envolvimento de todas as partes nos processos de desenvolvimento, como forma de tirar partido das oportunidades que o país dá. “Há muita matéria-prima para desenvolver, excelentes cientistas que andam a viajar pelo mundo, excelente conhecimento, excelentes empresas”, aponta Luísa Lino. “É importante envolver os atletas no desenvolvimento de novos produtos, trabalhar em rede com as universidades, laboratórios e empresas, apostar nas novas tecnologias”.
Ainda assim, há já casos de sucesso no nosso país, com empresas a aproveitarem o potencial nacional e os apoios disponíveis para crescer neste meio.
Fatos de banho, caneleiras e software de scouting
A pisarem o palco para apresentar os seus casos de sucesso estiveram Hélder Rosendo, diretor da PR Têxteis, Madalena Albuquerque, responsável pelo marketing da SAK Project e Pedro Fraga, presidente executivo da F3M.
A PR Têxteis, já com 35 anos de existência, canaliza cerca de 90% da sua produção para os mercados externos, por entre marcas próprias e produção para terceiros. Especializada em têxteis para utilização no desporto, como fatos para natação, ciclismo e atletismo, é um dos fornecedores mais antigos da Adidas. “Estamos já em provas para os fatos de banho que vão estar em competição nos Jogos Olímpicos”, garante Hélder Rosendo na 12.ª edição do Portugal Exportador.
Por outro lado, a SAK Project define como missão “dar proteção, conforto e inspiração” aos atletas, através da produção de caneleiras personalizáveis, com materiais de qualidade superior. Após ter visto este mercado como um nicho, em que os profissionais tinham dificuldades em encontrar produtos sem ter de os adaptar. “Porque é que todos evitavam usar, porque é que as cortavam e as colavam”, acrescenta Madalena Albuquerque. Assim, após terem trabalhado em conjunto com os atletas, criou um produto forte, canalizando 64% das vendas totais para os mercados externos.
No campo do software, o exemplo de sucesso dado foi o da F3M, uma empresa bracarense que tem como aposta principal uma plataforma de scouting que conta já com 10 mil utilizadores em cerca de uma centena de mercados.
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O segredo do negócio? Flexibilidade e apoios comunitários
Num formato de mesa redonda, com abertura ao debate com o público, estes empresários destacaram como fatores essenciais ao salto para a exportação a flexibilidade e os fundos comunitários. Hélder Rosendo considera que é preciso “perceber onde se consegue ir buscar o dinheiro para investir e ter juízo” na medida em que todos os negócios têm de estar prontos para as mudanças de planos. “Há um investimento considerável e as empresas têm de ponderar”, acautela o gestor.
A ponderação é também sublinhada por Madalena Albuquerque, que relembra que antes de pensar nos apoios é preciso ter em conta todos os fatores. “Ao nível dos apoios e do financiamento, é preciso referir que os apoios chegam a posteriori“, alerta a marketeer, considerando que no caso de uma startup é necessário “criar um músculo financeiro” antes de apostar nos fundos comunitários. “É preciso ter a perceção de que as coisas levam tempo, a criação de marca e a chegada aos mercados leva tempo”, conclui.
Os fundos comunitários também mereceram uma atenção especial no painel, com Alexandre Andrade da Deloitte a apontar o Portugal 2020 e o Código Fiscal dos Investimentos como uma oportunidade para as empresas conseguirem garantir “um duplo financiamento”, com caracteriza. Ainda assim, e para a consultora, o plano de internacionalização de uma empresa não pode partir do financiamento, mas sim do planeamento. “Na prática, não devemos ir automaticamente à procura das fontes de financiamento. Temos de pensar antes se é a nossa ideia é diferenciadora e inovadora, colocá-la em papel a ideia e só depois pensar no financiamento”, enumera o consultor. A atenção aos desvios e aos imprevistos é também sublinhado por Andrade, com este a afirmar que só assim se conseguem fintar os riscos.
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