Ser o melhor amigo de António Costa “tirou-me a identidade”
Diogo Lacerda Machado, administrador não executivo da TAP, fala sobre a sua amizade com António Costa e sobre o novo aeroporto, apelando a que a solução Portela+1, no Montijo, seja acelerada.
Ser o melhor amigo do primeiro-ministro tem os seus obstáculos. Que o diga Diogo Lacerda Machado. A participar no último dia do 43º Congresso Nacional da Associação Portuguesa das Agências de Viagens e Turismo (APAVT), à conversa com Pedro Costa Ferreira, presidente da associação, o administrador não executivo da TAP, apontado para esse cargo pelo Governo, admitiu que o facto de ser o melhor amigo do primeiro-ministro lhe retirou identidade e mérito do seu percurso profissional.
“O meu melhor amigo resolveu, numa espécie de desabafo a propósito de uma colaboração que eu prestava, perguntar: será que não posso pedir ao meu melhor amigo algumas coisas? Em certa medida, isso tirou-me a identidade e o mérito, coisa que se perdoa a quem é o nosso melhor amigo”, disse Lacerda Machado.
“Cá vivo, desde então, com a minha identidade dissimulada e com o mérito relativamente apagado“, acrescentou, ressalvando, no entanto, que vive “bem com isso”.
Privatização da ANA “condicionou desenvolvimento aeroportuário”
No congresso, Lacerda Machado aproveitou para falar também sobre o novo aeroporto. O administrador da TAP aponta que o aeroporto de Lisboa é hoje “um constrangimento” para o crescimento da TAP e para o desenvolvimento turístico do país, e há várias razões para isso. Desde logo, todas as projeções de crescimento que foram feitas nos últimos 40 anos pecaram por defeito. Por outro lado, os sucessivos impasses políticos impediram uma solução mais rápida para a construção de um segundo aeroporto. Mas uma coisa é certa: não tivesse a ANA sido privatizada o desenvolvimento aeroportuário não estaria tão condicionado.
“Se olharmos para os muitos estudos dos últimos 40 anos sobre tráfego aeroportuário, há uma única coisa absolutamente comum: enganamo-nos sempre por tremendo defeito nessas projeções. A realidade superou sempre imensamente essas projeções”, começou por dizer Diogo Lacerda Machado, no encerramento do 43º Congresso Nacional da Associação Portuguesa das Agências de Viagens e Turismo (APAVT), que este ano decorreu em Macau.
Resultado desses sucessivos erros de cálculo, “o aeroporto de Lisboa é hoje um constrangimento, designadamente um constrangimento da TAP“.
Não foi essa a única causa. “Sempre se falou de um novo aeroporto em Lisboa, desde a década de 1990. Durante 20 ou 25 anos, ficou claro que quem estava no Governo queria mesmo fazer um novo aeroporto e tinha estudos que bastassem para sustentar que tinha de se fazer esse aeroporto. Quem estava na oposição era contra. Mas sejamos justos: quem estava na oposição, quando mudava de lado, também mudava de posição”, apontou Lacerda Machado.
As políticas de desenvolvimento aeroportuário ficaram condicionadas por décadas com a privatização da ANA.
Mas, sobretudo, o processo de decisão foi “imensamente” condicionado quando a ANA – Aeroportos de Portugal, a empresa que faz a gestão dos aeroportos nacionais, foi comprada pela Vinci, no final de 2012. “As políticas de desenvolvimento aeroportuário ficaram condicionadas por décadas com a privatização da ANA”, considera o administrador da TAP.
Apesar de tudo, reconhece, o processo de construção de um novo aeroporto no Montijo está avançado. Ainda assim, Lacerda Machado questiona se esta nova infraestrutura será suficiente para dar resposta ao aumento da procura. “O Montijo é uma solução que, sendo próxima, talvez fosse bom ser mais próxima. Tenho esperança de que todos façamos alguma coisa para que, pelo menos, se acelere o processo de operacionalização do Montijo”, afirmou, acrescentando esperar que este aeroporto “sirva adequadamente durante algum tempo”.
A jornalista viajou a Macau a convite da Associação Portuguesa das Agências de Viagens e Turismo (APAVT).
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