Como os locais: Xangai como destino

  • ECO
  • 11 Dezembro 2017

A gastronomia e a diversidade cultural de Xangai surpreenderam estes dois jovens portugueses, que de lá ainda não quiseram sair.

São cerca de 10.730 quilómetros que separam o Estoril de Xangai, distância que João Calvário percorreu vai fazer seis anos em janeiro próximo, naquele que foi o seu primeiro voo intercontinental. O que o esperava do outro lado do mundo? Primeiro, um negócio próspero de cachorros quentes gourmet. Depois, a imersão naquilo a que gosta de chamar de “china style”. Já lá vamos.

João, 33 anos, despediu-se do Departamento de Alimentos e Bebidas da Escola Superior de Hotelaria e Turismo, no Estoril, e dos serviços de catering para casamentos onde trabalhava como chef aos fins de semana com um sorriso nos lábios e um brilho no olhar, cheio de curiosidade, para rumar a Xangai. A oportunidade de mudar de país, e de vida surgiu mediante um convite de um amigo de infância. “Já não o via desde que éramos muito pequenos, mas as nossas mães ainda estavam em contacto e fizeram a ligação”, conta em entrevista ao ECO. O projeto que ia abraçar, em conjunto com esse amigo e um outro sócio, todos portugueses, dava pelo nome de Scioko, um restaurante de cachorros quentes gourmet que ajudou a fazer crescer e a consolidar durante um ano.

A enorme paixão que João tem pela área em que trabalha e por tudo o que envolva comida é percetível logo nos primeiros minutos da nossa conversa, que se desenrola via email, WhatsApp e Facebook. “É que a net aqui é fraca e além disso nem tudo funciona sempre bem”, explica. A decisão de ir para Xangai foi fácil de tomar, uma vez que “só pensava em todas as iguarias asiáticas que poderia experimentar e que só tinha visto em filmes, livros ou televisão”, explica-nos o chef.

Experiências não faltaram nos primeiros tempos a viver nesta cidade da China. “O primeiro ano foi um pouco confuso porque a cultura é muito diferente daquilo a que estamos habituados. O tempo, a comida, a interação com as pessoas… até uma simples ida ao supermercado se torna uma dor de cabeça, ao tentar comprar um champô e outros itens mais básicos, quando não há nada escrito para além de carateres!”, recorda João. Dificuldades estas que se apressa a desvalorizar, já que “os smartphones e a internet aparecem sempre para salvar o dia!”.

Quando lhe perguntamos o que mais gosta em Xangai, a resposta é rápida: “o facto de ser uma cidade da China, mas que não é a realidade da China de uma forma geral. É um sítio especial, com influência de múltiplas culturas.” E, claro, a comida, sempre a comida. “Em Xangai consigo comer de tudo, desde um petisco local, que custa 50 cêntimos, até beber um gin tónico no 92º andar, com vista para a cidade e para o famoso bairro do Bund, a olhar para os míticos arranha-céus”, descreve.

É este ADN marcado, lado a lado com um modernismo internacional, vivido a um ritmo frenético, e por vezes quase absurdo, que faz do “china style” uma experiência sem paralelismo. “É difícil de explicar. É tudo a correr, é tudo para ontem e para já. Os bancos estão abertos todos os dias, os correios funcionam todos os dias, tudo o que se encomenda online é entregue quase no dia seguinte e é possível comprar tudo, mesmo tudo, online! Não há desculpa para as coisas não acontecerem”, conta João.

Hoje João é diretor de R&D e de produção da Frostimo, marca que degenerou do negócio de restauração que o levou até àquela cidade chinesa, o Scioko, e presta serviços de consultoria na área de F&B para outras empresas. Já não vive fisicamente em Xangai, mas é lá que está parte do seu coração ou a sua “cara-metade”, como nos revelou. João conheceu Valeria Boyko, de nacionalidade russa e sua companheira há cinco anos, por intermédio de uma amiga portuguesa e neste momento vivem em cidades diferentes, à distância de um voo de cerca de três horas. “Agora vivo em Zhuhai e vou a casa (Xangai) no mínimo uma vez por mês”, conta ao ECO.

Xangai parece ser um poço de oportunidades, tanto no amor como em ofertas de emprego. Pelo menos foi essa a sensação que teve Ana Fernandes, 30 anos, quando recebeu não uma, mas três propostas para ir trabalhar para esta cidade chinesa. A verdade é que, quando isso aconteceu, esta portuguesa já tratava a Ásia por ‘tu’. “Xangai surgiu depois de um estágio em Macau, através do INOV Contacto” e de uma “viagem de dois meses pelo sudeste asiático”, conta ao ECO, em entrevista via email. “Regressei a Portugal sem nenhum plano definido e comecei a procurar alternativas por todo o mundo. Tendo tido três ofertas de trabalho de Xangai, achei que Xangai seria uma opção. Já tinha visitado a cidade durante a minha estadia em Macau e tinha gostado imenso. Então, porque não Xangai?!”, perguntou-se Ana. E acabou por aceitar uma das ofertas, tendo-se mudado para a cidade no início de 2012.

Esta mestre em Arquitetura de Interiores, que nunca chegou a trabalhar em Portugal, por ter emigrado praticamente assim que terminou a universidade, procurou desde cedo um desafio internacional. Depois do estágio de seis meses em Macau, “queria algo mais internacional”, recorda. Daí a decisão de voltar para o outro lado do mundo ter sido “muito rápida”, com total apoio da família.

Apesar de já ambientada à cultura chinesa, são muitas as histórias que Ana guarda da estadia em Xangai desde então, sobretudo relacionadas com o idioma. É que em Macau, Ana trabalhara essencialmente em português. “Quando não se fala uma única palavra de mandarim, é uma aventura viver na China. Agora que já sei falar um pouco, tudo se torna mais fácil”, revela ao ECO.

Se no caso do João a curiosidade gastronómica é um misto de paixão e ossos do ofício, para Ana a comida foi das melhores surpresas com que se deparou na adaptação à cultura chinesa. “A cozinha chinesa é tão vasta e de sabores tão diferentes, mas tão bons que nos primeiros meses engordei 4kg, algo que nunca que tinha acontecido!”, confessa.

O ritmo da cidade e a diversidade de culturas são destaques recorrentes quando se pergunta o que Xangai tem de melhor, sempre em contraponto com a agitação de uma grande cidade. Com Ana não é diferente. “Hoje posso ir jantar a um restaurante italiano e amanhã assistir a um espetáculo de jazz, e no fim de semana ir a um spa coreano. A cidade não para, sinto que nem tenho tempo para fazer tudo aquilo que Xangai oferece”, afirma. Por outro lado, o stress de uma cidade com mais de 24 milhões de habitantes “às vezes cansa” e atrai a “necessidade de escapar nem que seja por uns dias”, admite Ana.

Sítios a não perder na cidade:

  • O Bund e Lujiazui, que ficam separados pelo rio Huang Pu, com uma incrível vista de ambos os lados: a zona financeira da cidade, com alguns dos edifícios mais altos do mundo, e o outro lado onde predomina a arquitetura de influência europeia.
  • O parque central de People Square, “onde podes encontrar as famílias a ‘vender’ os filhos e filhas solteiros para encontrar uma cara-metade que seja do seu agrado”, conta João.
  • “Não é um local, mas uma experiência imperdível: andar de metro num dia de semana a partir das 17h30, hora de ponta!”, partilha João.
  • French Concession, “para um passeio a pé por uma das zonas mais bonitas e tranquilas da cidade, onde as torres são poucas e as ruas são emolduradas por grandes árvores. Podemos encontrar aqui imensos edifícios de inspiração arquitetónica europeia. Bons restaurantes e estúdios de design não faltam! Durante a primavera, é para mim a zona mais bonita de Xangai”, diz Ana.
  • O Vue Bar, no topo de um hotel, com vista para a cidade e para as duas margens do rio.

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