“Turismo da desgraça” ainda persiste em Pedrógão Grande
"Todas as semanas perguntam pela estrada". Qual? A 236-1, uma estrada que ficou na memória dos portugueses após os incêndios de 17 de junho.
O chamado “turismo da desgraça” ainda persiste pela zona de Pedrógão Grande, mas com muito menos frequência do que nas primeiras semanas e meses após o incêndio de 17 de junho. Na estrada 236-1, seis meses depois daqueles fogos que mataram 66 pessoas, já não há imagens de carros calcinados na estrada ou à beira dela, antes um tapete novo de alcatrão nos locais onde os veículos arderam. Apesar disso, nas bombas de gasolina de Castanheira de Pera, ainda se ouve a pergunta: ‘Onde fica a estrada 236-1?’.
“Todas as semanas perguntam pela estrada”, conta Francisco Calado, que trabalha no posto de abastecimento. A uns bons quilómetros dali, já em Figueiró dos Vinhos, no café Retiro IC8, o movimento é pouco e as perguntas de pessoas de fora em torno da estrada e do incêndio já quase que não se ouvem, conta Manuela da Conceição.
No entanto, pelo café que as chamas rodearam, as conversas dos locais ainda giram em torno dos fogos. “Falam do que aconteceu e de como as coisas ficaram“, disse Manuela à agência Lusa. As perguntas em torno dos fogos ainda surgem, mas “de forma mais residual”, explica Renato Antunes, gerente do restaurante da aldeia de xisto de Casal de São Simão. Sempre que “há espaço para conversa”, o primeiro assunto é em torno do fogo.
“Ainda temos gente que vem e é a primeira coisa que pergunta. Querem ouvir a história”, afirma Renato, que admite que muitas vezes tenta “cortar a conversa e dizer que isso já passou, que agora é para ir para a frente”. Para o gerente do restaurante, “é cansativo estar a repetir” a história e voltar a ver uma espécie de “minifilme” do que se passou.
“No verão, era mais frequente. Iam à praia e a outros locais e era mais comum passarem pela estrada”, refere o ex-administrador da Praia das Rocas, em Castanheira de Pera, José Pais, sublinhando que a dimensão do que ardeu para quem entra no IC8 em direção a Pedrógão Grande “impressiona”. Também em Vila Facaia, num café ao lado da igreja, perguntas pela estrada 236-1 continuam a ser ouvidas, assim como indicações para Nodeirinho, uma das aldeias mais mediatizadas aquando do incêndio, onde várias pessoas se salvaram dentro de um tanque de água.
“Ainda hoje perguntam pela estrada e por Nodeirinho e Pobrais”, conta à Lusa Vanessa Varejão, que trabalha no café. Normalmente, explica, quem pergunta traz ajuda para as pessoas. Se no início, vinham carrinhas carregadas de bens materiais, hoje vêm oferecer a sua mão-de-obra para pequenas replantações ou reconstruções. “Já não é com a mesma regularidade. Na primeira semana após o incêndio foi desgastante. Estavam constantemente a perguntar pela estrada”, sublinha Vanessa.
Apesar de agora o ambiente ser mais calmo, também Vanessa diz que já chega de perguntas. “Sinceramente, cansa. Isto nunca se vai esquecer, mas estão sempre a falar da mesma coisa, sempre a relembrar o que se passou e as pessoas não precisam de perguntas para se relembrarem. É impossível esquecer”, sublinha a jovem de 27 anos.
Turismo mantém tendência de crescimento no Centro
Seis meses depois do incêndio de Pedrógão Grande, o número de turistas no centro do país regista “um aumento consistente”, tendência reforçada pelo lançamento de campanhas de promoção do destino, refere o presidente da Turismo Centro.
Segundo os dados mais recentes do INE (Instituto Nacional de Estatística), a região do Centro de Portugal foi a que mais cresceu em todo o país na procura turística durante outubro, tendo sido registado um aumento de 20,4% no total de dormidas em hotelaria, em comparação com o mesmo mês de 2016.
“Este é um resultado extremamente positivo, tendo em conta que outubro foi o mês em que aconteceram os incêndios que voltaram a dizimar muitos concelhos da região, sendo um sinal de que os visitantes, portugueses ou estrangeiros, continuam a apaixonar-se pela região, apesar da tragédia que a afetou”, disse à Lusa o presidente da Entidade Regional de Turismo.
Uma análise aos números do INE permite concluir, no entanto, que são os estrangeiros quem lidera as visitas ao Centro. Entre outubro de 2016 e outubro de 2017, as dormidas de estrangeiros aumentaram 36,4%, para 311.000 (tinham sido 228.026 em outubro de 2016). Comparativamente, a média nacional de crescimento de dormidas de estrangeiros foi de 6,5%.
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