O declínio dos CTT em números
Os custos caem, mas as receitas também. Os lucros afundam ano após ano e a empresa já foi obrigada a despedir trabalhadores e a cortar o dividendo. O próximo passo é um plano de reestruturação.
Com os lucros em queda livre desde que a privatização ficou concluída, resultado da quebra, ano após ano, do negócio principal, os CTT preparam-se para apresentar um plano de reestruturação. A empresa de correios vai ter de fazer um corte de custos “considerável”, para “ajustar a escala de operações às atuais necessidades”. Isto depois de já ter vindo a reduzir o número de trabalhadores nos últimos anos e de, em setembro, ter revisto em baixa o dividendo a distribuir pelos acionistas.
Custos caíram, mas receitas também
A alienação dos CTT por parte do Estado ficou totalmente concluída em setembro de 2014, com um encaixe superior a 900 milhões de euros para os cofres públicos. Desde então, a empresa até conseguiu reduzir os custos operacionais, mas as receitas têm vindo a cair quase ao mesmo ritmo.
No final de 2014, a empresa alcançava receitas de quase 718 milhões de euros, superiores às que tinha registado nos dois anos anteriores. Em 2015, as receitas ainda aumentaram, mas afundaram em 2016 para os 696 milhões de euros. Feitas as contas, as receitas caíram à volta de 3% entre 2014 e 2016. Olhando para os resultados do conjunto dos nove primeiros meses deste ano, tudo aponta para que a tendência negativa se mantenha este ano, ainda que de forma menos acentuada. No final de setembro, os CTT tinham reportado receitas de 518 milhões de euros, menos 0,2% do que há um ano.
O grande culpado desta quebra é o segmento de correios. Este nem é o segmento que apresenta maiores quebras, mas é o que representa a maior fatia das receitas dos CTT. No ano passado, as receitas provenientes do correio recuaram quase 4%, enquanto as dos segmentos de expresso e encomendas e de serviços financeiros caíram, respetivamente, 7,9% e 6% nesse ano.
Já este ano, há uma novidade na evolução das contas: o segmento de correios continua a perder terreno, mas a área de encomendas está a evoluir favoravelmente. No conjunto de janeiro a setembro, as receitas deste segmento subiram mais de 9%. Esta será, aliás, uma das áreas em que os CTT vão apostar em força, admitiu já o presidente executivo, Francisco Lacerda. “Estou certo que o setor vai crescer em termos de velocidade e de relevância. A razão que faz as pessoas enviar menos cartas, o digital, é a mesma razão que faz este negócio [de Express and Parcel] crescer”, disse no mês passado.
Ao mesmo tempo, a empresa tem conseguido reduzir os custos operacionais, mas não ao ritmo desejado. De 2014 para 2016, os custos caíram em 3,9%, ultrapassando os 605 milhões de euros no final do ano passado. A impedir uma redução mais acentuada dos custos operacionais estiveram, sobretudo, os gastos com pessoal, que aumentaram em quase 6% entre 2014 e 2016, fruto das rescisões que têm sido feitas e que obrigam a empresa a pagar indemnizações. Entre 2014 e o final do ano passado, o número de trabalhadores da empresa reduziu-se em 4%, para um total de 12.401.
Custos recuam 4%, receitas caem 3%
Há ainda que contar com o Banco CTT, que ainda não dá lucros e que, por isso, continua a pesar sobre as contas dos CTT. No ano passado, o banco reportou prejuízos de 21,4 milhões de euros, superiores aos 5,9 milhões que tinha registado em 2015, apesar de o número de clientes estar a aumentar. São sobretudo os gastos operacionais que estão a penalizar o banco (passaram de 7 milhões em 2015 para 26 milhões em 2016), o que se justifica com a abertura de novos balcões.
Lucros em queda livre
Consequência da quebra do negócio, os lucros têm vindo a cair todos os anos desde que os CTT foram privatizados. Entre 2012 e 2014, antes da privatização e dispersão em bolsa, a empresa de correios aumentou sempre os lucros, que totalizaram 77 milhões de euros no final de 2014. Desde então, a queda tem sido uma constante e deverá repetir-se este ano. A empresa reportou lucros de 61,9 milhões de euros em 2016, valor que correspondeu a uma quebra de 14%, e resultados líquidos de 19,5 milhões no conjunto de janeiro a setembro deste ano, uma queda de 57% relativamente a igual período do ano passado.
Lucros caíram 20% desde a privatização
Resultado: na última apresentação de resultados, relativos a setembro deste ano, a administração anunciou um corte do dividendo a distribuir pelos acionistas. A proposta é cortar o dividendo de 48 cêntimos por ação, um valor que tinha sido decidido no início deste ano, para 38 cêntimos por ação, uma redução de 20%.
Ações têm o pior desempenho da bolsa
Apesar do corte anunciado, o dividendo atribuído pelos CTT aos acionistas continua a ser o mais atrativo da bolsa nacional. Com o título a transacionar nos 3,49 euros (à cotação desta terça-feira), o dividendo de 38 cêntimos prometido pela administração apresenta-se com uma taxa de rentabilidade superior a 11%. No mês passado, quando as ações dos CTT negociavam nos 3,22 euros por ação, a rentabilidade era de 13%, o que correspondia ao maior dividend yield na bolsa de Lisboa.
Significa isto que os CTT oferecem o dividendo mais atrativo para os investidores, mas este não reflete as condições financeiras da empresa. Para além da quebra das receitas e lucros já mencionada anteriormente, as ações da empresa estão em crise e os CTT, ao mesmo tempo que oferecem o melhor dividendo, têm o título do PSI-20 com o pior desempenho deste ano. Desde o início deste ano, os CTT perderam quase metade do seu valor em bolsa, com as ações a desvalorizarem mais de 45%.
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