Rui Rio (parte I). Uma leitura guiada para conhecer as prioridades do novo líder do PSD
Quem é o Rui Rio do primeiro dia de congresso do PSD? O diretor do ECO, António Costa, faz uma leitura guiada à primeira intervenção do novo líder do PSD.
No dia em que Pedro Passos Coelho se despediu dos militantes do PSD – uma ‘distinção’ inédita para um líder cessante – , Rui Rio tinha uma primeira oportunidade para criar uma primeira boa impressão. Não desiludiu os militantes, mas os congressos têm destas coisas, são lugares sagrados para reunir as tropas, vindas de todos os cantos do país. Mas não surpreendeu. Levou a lição estudada, mediu as palavras, afirmou a rejeição do Bloco Central, mas a disponibilidade para acordos com o PS, e neste primeiro ‘Rio, parte I’, não resistiu as reformas de que tanto gosta, a justiça e o sistema político. Sem esquecer a comunicação social, claro. Vamos fazer uma visita guiada a um discurso de 18 páginas A4.
A clarificação
- O mais importante de todos, a principal dúvida, dentro e fora do congresso, era a relativa a um potencial Bloco Central. E, aí, Rui Rio foi claro como a água. “Não é, aliás, fácil de entender a lógica das declarações de dirigentes do PS e dos outros dois partidos da extrema-esquerda, quando se apressam a referir que a coligação parlamentar está segura e que não há qualquer hipótese de um Bloco Central. Perdem tempo com o que não existe nem existirá. Perdem tempo com o sexo dos anjos”. Disponibilidade para acordos, sim. Para o Bloco Central, não.
A crítica
- Rui Rio não deixou equívocos sobre a avaliação que faz da governação, e da própria geringonça enquanto modelo de governo. “Quando, na governação à vista, o governo cede à sua clientela, os parceiros da coligação parlamentar garantem a dita segurança (…) Pode até a redução do défice público de 2017 para 2018 se limitar a 0,1% ou 0,2% do PIB – que é praticamente o mesmo que nada – que só isso basta para os parceiros de coligação, de imediato, assumirem um discurso de oposição”.
- O líder do PSD tem um objetivo claro: Encostar o PS à extrema-esquerda, esse é o ângulo de ataque político de Rio. “O PSD apresentar-se-á aos portugueses como uma alternativa forte e credível a esta governação presa à extrema-esquerda. Uma governação que, ao abrigo de uma conjuntura económica favorável, vau conseguindo esconder toscamente as deficiências estruturais que quotidianamente se agravam”.
- “Um governo que não aproveita um ciclo económico positivo para robustecer o futuro e preparar o país para os ciclos negativos, é um governo que governa mal! Governa mal, mesmo quando parece que governa bem”, diz Rio.
A ética
- Foi pela ética que Rio começou. E que esteve no seu discurso desde o primeiro dia em que se candidatou. É certo que Rio juntou, à sua volta, militantes e operacionais cuja ética, no mínimo, merece ser questionável, mas isso não o impediu de abrir o combate por aí. E logo para dentro do partido, o que não surpreende. “Vamos ser realistas. Houve quem falhasse. Houve quem se tivesse afastado dos valores éticos que todos professamos, mas não podemos confundir a árvore com a floresta”.
A unidade
- Todos lhe pediam a capacidade de unir. Unir os que estiveram com Pedro Passos Coelho e os que estiveram com Santana Lopes com o seu próprio projeto. E valha a verdade, Rio fez por isso. No discurso, elogiou Passos sem reservas, e o papel que teve na liderança de um governo de salvação nacional. Mas também o combate com Santana Lopes, que convidou para presidir ao Conselho Nacional do partido, e todos os que com ele tiveram “de forma digna e sincera”.
A ideologia
- Afinal, o que é o PSD? Rui Rio não tem dúvidas: é um partido que tem de regressar à sua matriz social-democrata. Foi talvez aqui a única crítica que se pode perceber de Rio em relação à governação de Pedro Passos Coelho. Velada, indireta, mas estava lá.
- Mais. Com Rio, o PSD sabe ao que vai e de onde vem. Fica a promessa, ou a crítica. “Iremos sempre fazer uma evolução em harmonia com a nossa história – sem ferir os nossos princípios de sempre, sem confrontos geracionais, sem sobressaltos ideológicos e sem ruturas desnecessárias”. Pedro, ainda estás aí?, terá perguntado para si mesmo.
A dúvida
- É conhecido o gosto particular de Rui Rio com a justiça e com a reforma do regime. E não poderia escapar a este primeiro discurso como líder. Mas se falou muito, disse pouco e acrescentou ainda menos em relação ao que já lhe tínhamos ouvido. “Temos de combate a politização da justiça, assim como temos de evitar a judicialização da política”. É uma firmação de encher o olho, mas sem exemplos, fica por perceber onde quer chegar. E o que quer fazer para o evitar. “Há zonas de fronteira que temos de clarificar e marcar muito bem”. Haverá, mas quais?
- A comunicação social, claro, também lá esteve. E quem ouviu Rui Rio terá ficado com a ideia de que o grande problema da justiça não é a corrupção e os que se apropriam do dinheiro dos outros, não é a destruição de instituições e dos seus valores, mas é da violação do segredo de justiça. “Quantas vezes, ao abrigo de uma suposta liberdade, não se agridem os direitos dos mais vulneráveis? Quantas vezes (…) cidadãos não viram impunemente a sua condenação a ser feita na comunicação social, em vez dos tribunais, que é o lugar certo e legal para se fazerem os julgamentos no momento próprio?”, pergunta Rio.
O primeiro discurso de Rui Rio foi, sobretudo, para dentro do partido. Deu pistas de análise, linhas de atuação, mas será necessário esperar pelo “Rio, parte II”, no encerramento do congresso, para fazer a bissetriz do que vai ser o novo PSD com um novo líder.
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