Imobiliárias ganham milhões com loucura no negócio das casas
Muitas compras, muitas vendas e mais negócio. Fomos ver as contas da Remax, ERA, KW e outras imobiliárias vocacionadas para o segmento de luxo e há crescimentos que chegam a 100%.
O imobiliário nacional está ao rubro. Muitas compras, muitas vendas… e preços cada vez mais altos. Uma “loucura” que está a catapultar o negócio das principais imobiliárias, com negócios de vários milhões de euros. É o reflexo da melhoria da economia, mas também da maior facilidade de acesso ao financiamento junto da banca. E, claro, do chamariz que são as casas portuguesas para muitos estrangeiros.
Remax, ERA e KW (ainda não existem dados para a Century 21), mas também imobiliárias vocacionadas para o segmento de luxo, como a Quintela & Penalva Real Estate, são unânimes: 2017 foi o um bom ano. Transações atrás de transações, que levaram o volume de negócios disparar. A Remax realizou negócios avaliados em 3,3 mil milhões, a ERA chegou aos 1,55 mil milhões e a KW cresceu até aos 1,2 mil milhões.
Enquanto a líder de mercado revela que o volume de transações face ao ano de 2016 cresceu 17%, a KW, liderada por Eduardo Garcia e Costa, por exemplo, conseguiu mesmo duplicar o volume de realizadas no último ano. O mercado está a “crescer na ordem dos 20%”, salientou. Ainda não há dados oficiais para o total do ano, mas no final dos primeiros nove meses já tinham sido registadas 110 mil transações.
E há razões para este ritmo acelerado de crescimento do negócio das imobiliárias, sendo um deles o desempenho positivo da economia nacional que acaba por fazer aumentar a confiança dos consumidores. “A estabilização politica e económica nacional, a par da estabilização dos preços do setor imobiliário foram, a nosso entender, as duas grandes razões que justificaram o crescimento do setor ao longo de todo o ano”, diz Beatriz Rubio, a CEO da Remax, ao ECO. “Os bons indicadores da economia devolveram aos investidores elevados níveis de confiança e de poder de compra”, rematou.
"A estabilização politica e económica nacional, a par da estabilização dos preços do setor imobiliário foram, a nosso entender, as duas grandes razões que justificaram o crescimento do setor ao longo de todo o ano.”
Mas há outro que é fundamental para o imobiliário: “maior acesso ao crédito“, salienta. A banca abriu a torneira. No ano passado, os bancos nacionais disponibilizaram mais de oito mil milhões de euros em empréstimos para a compra de casa, apresentado spreads cada vez mais baixos – num contexto de juros historicamente reduzidos. Trata-se do nível de concessão mais elevado dos últimos sete anos.
Portugueses, mas muitos estrangeiros
Do total de transações imobiliárias realizadas pela Remax, 87% foram da responsabilidade de clientes portugueses. No entanto, a imobiliária explica que o interesse por clientes brasileiros tem vindo a aumentar, “sendo a nacionalidade que mais negociou com a consultora, destronando os franceses (líderes em 2016) e os chineses (líderes em 2015)”, lê-se no comunicado.
Num segmento diferente — de luxo –, a imobiliária Quintela & Penalva Real Estate revela a mesma experiência. Os 142 milhões de euros das transações feitas no ano de 2017 chegaram de 33 nacionalidades diferentes, segundo dados da consultora. Dessas nacionalidades, a portuguesa teve um peso de 60%, cabendo apenas 40% aos investidores estrangeiros. Ainda assim, no top 3 dos países que mais investiram no mercado imobiliário português, o Brasil continua a liderar, seguido da Suécia e da França.
"Acreditamos que a presença dos investidores estrangeiros se irá manter nos tempos próximos, e que o mercado continuará com margem para crescer de uma forma sustentada.”
“Acreditamos que a presença dos investidores estrangeiros se irá manter nos tempos próximos, e que o mercado continuará com margem para crescer de uma forma sustentada”, refere a Quintela & Penalva Real Estate.
Vende-se T2 (e T3) na zona de Lisboa
Mais portugueses, bastantes estrangeiros. Mas que casas procuram? Os apartamentos foram a tipologia de imóvel preferida dos clientes no país, representando 63% das transações totais, diz a Remax, notando que a procura por moradias também cresceu, mas pouco (1,3%). Entre os apartamentos, os T2 e T3 lideraram as compras, com pesos de 43% e 31%, respetivamente. E o mesmo se verificou no segmento de luxo.
A Quintela & Penalva Real Estate revela que os apartamentos T3 foram os mais procurados no ano de 2017, representando 25% do peso total das vendas, seguidos dos T2 /17%) e dos T1 (16%). Comum aos diferentes segmentos são também as zonas, com a capital a brilhar.
Os investidores procuraram habitações maioritariamente em Lisboa, Cascais, Sintra e Oeiras. De acordo com a Quintela & Penalva Real Estate, que registou um valor médio de transação residencial de 778 mil euros, estas foram as cidades líderes de venda, somando-se agora a cidade do Porto, que é a nova aposta.
Há bolha? Vai rebentar?
O crescimento das transações tem sido acompanhado por um aumento expressivo dos preços dos imóveis. Subidas acentuadas que levaram já a alertas por parte do FMI. “Os preços aumentaram em cerca de 20% em termos reais desde 2013, o que compara com 7% na Zona Euro, atingindo máximos de 2009. É preciso monitorizar de perto os riscos do imobiliário“, afirmou o fundo no relatório da 6.ª Avaliação Pós-Programa. Não há ainda dados oficiais para os preços das casas, mas a avaliação bancária registou um aumento de 5%.
A Remax rejeita o alarmismo. Diz que não tem dados que demonstrem que há uma bolha nos preços. E não acredita que venha aí uma nova crise. “Para que o nosso mercado fosse afetado por uma nova crise no setor imobiliário, as taxas de juros teriam de aumentar exponencialmente e não acreditamos que isso venha a acontecer a curto prazo“, garante Beatriz Rubio. O BCE prepara-se para retirar os estímulos, mas tem prometido juros baixos durante um período prolongado.
"Para que o nosso mercado fosse afetado por uma nova crise no setor imobiliário, as taxas de juros teriam de aumentar exponencialmente e não acreditamos que isso venha a acontecer a curto prazo.”
Daí que tanto a Remax como as restantes imobiliárias projetem um 2018 igual ou melhor do que 2017. A ERA definir uma meta de 2.000 milhões de euros em imóveis vendidos, o que vai permitir faturar 100 milhões em comissões, já a KW Portugal prevê “fazer números muito semelhantes ao crescimento deste ano [2017]. Nós esperamos estar perto de duplicar o nosso crescimento” em 2018, referiu o responsável em Portugal da marca norte-americana.
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