O escândalo Novartis que está a abalar a Grécia
O parlamento grego formou uma comissão parlamentar com representantes de todos os partidos para investigar estas alegações, e que poderá implicar um envolvimento da justiça.
O “escândalo Novartis”, os supostos subornos da multinacional farmacêutica suíça que envolvem importantes responsáveis políticos, está a abalar a Grécia e as conclusões do inquérito parlamentar podem influenciar de forma decisiva o resultado das próximas eleições. O inquérito Novartis foi iniciado em dezembro de 2016 com base em informações do FBI e da justiça norte-americana, que recolheram testemunhos sobre práticas ilegais da filial grega da multinacional suíça.
A Novartis é suspeita de ter subornado alguns milhares de médicos mas também ex-primeiros-ministros, ministros da Saúde e outros responsáveis para obter uma posição dominante no mercado grego e vender os seus medicamentos a preço inflacionado. Os cofres do Estado terão sido lesados entre 1.000 milhões e 3.000 milhões de euros.
Entre os políticos suspeitos de envolvimento surgem nomes de topo da Nova Democracia (ND), o partido conservador agora na oposição: Adonis Georgiadis, atual vice-presidente; Antonis Samaras, antigo primeiro-ministro; Dimitris Avramopoulos, atual Comissário europeu para a Migração, Assuntos internos e cidadania, ex-ministro da Saúde, da Defesa e dos Negócios Estrangeiros entre 2009 e 2014 e ministro da Saúde entre 2006 e 2009; Panagiotis Pikrammenos, ex-primeiro ministro interino entre maio e junho de 2012.
No entanto, também surgem nomes ligados ao Pasok, os sociais-democratas gregos que com a ND dominaram a vida política do país entre 1974 e 2015: Evangelos Venizelos, ex-vice-primeiro-ministro e ministro dos Negócios Estrangeiros, e Andreas Loverdos, o antigo ministro da Educação. Outro alegado alto responsável também envolvido é Yannis Stournaras (independente), ex-ministro das Finanças entre 2012 e 2014 no auge da “crise da dívida” e atual governador do Banco da Grécia. Todos os implicados rejeitaram as acusações.
“Pela primeira vez, existem políticos deste nível alegadamente envolvidos num jogo particularmente sujo, e que terão recebido ‘luvas’ da multinacional suíça no decurso da severa crise que atingiu o país”, refere um jornalista em Atenas que segue a investigação. “Mas existe outro aspeto, talvez mais sério. A Grécia é um país de referência em relação ao preço dos medicamentos para toda esta área da Europa do Sudeste e da Turquia. O que significa que se um medicamento da Novartis aumenta aqui, então é legal também aumentar o preço em todos os outros países da região”.
O escândalo pode assim assumir proporções que extravasam as fronteiras gregas. “Foi por isso que a Novartis despendeu largas somas de dinheiro para corromper políticos e garantir os preços inflacionados”, acrescenta. A 22 de fevereiro, o parlamento grego formou uma comissão parlamentar com representantes de todos os partidos para investigar estas alegações, e que poderá implicar um envolvimento da justiça.
O Governo de Alexis Tsipras, com a vantagem de ainda não estar envolvido em qualquer escândalo de corrupção, tem sido particularmente incisivo na revelação deste caso, que poderá constituir um “ponto de viragem” face às próximas eleições legislativa, previstas para 2019. “Quando o escândalo começou a ser divulgado, a diferença entre a ND e o Syriza era mais de 10%, mas agora o Syriza começou a recuperar”, indica.
Admite-se que o escândalo, com grande impacto mediático interno, atinja outros laboratórios farmacêuticos. Os preços dos medicamentos são fixados por uma comissão do ministério da Saúde onde têm assento representantes das grandes empresas farmacêuticas, que podem facilmente exercer pressão. Agora, pede-se um maior controlo para terminar com estes abusos.
Prevê-se que o escândalo Novartis continue a agitar a vida política grega. Entre o final de março e início de abril a comissão parlamentar deverá emitir as suas conclusões e decidir se os dez políticos acusados devem comparecer e ser julgados perante um tribunal especial.
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