The Economist: Governo é estável, mas a banca é um desafio para os próximos três anos
Ainda que Costa mantenha o Governo estável, uma intervenção na banca poderá por em causa essa estabilidade. The Economist critica o abrandamento da implementação das reformas estruturais.
A situação política em Portugal é vista como “estável”, pelos analistas da The Economist Intelligence Unit. Ainda assim, este cenário de acalmia pode ser abalado pela banca, caso seja necessária uma nova intervenção estatal no setor.
No relatório “The Global Outlook: Europe and Portugal” a que o ECO teve acesso, o departamento de inteligência da revista de especialidade destaca o bom desempenho da economia nacional, que permitiu concluir o resgate financeiro em 2014 e pagar a dívida aos seus credores antes daquilo que tinha sido proposto, mas avisa que o sistema bancário vai continuar a ser um desafio nos próximos três anos.
“O Governo de minoria do Partido Socialista tem-se mantido estável, apoiado pela gestão dos apoiantes externos e das relações europeias de António Costa, e a recuperação económica”, pode ler-se no relatório. “Ainda assim, os riscos à estabilidade persistem. A promessa de ‘virar a página à austeridade’ pode ser difícil de manter se o crescimento abranda ou se são necessárias intervenções impopulares para reforçar o setor bancário”.
A promessa de ‘virar a página à austeridade’ pode ser difícil de manter se o crescimento abranda ou se são necessárias intervenções impopulares para reforçar o setor bancário.
Para além de afetar a imagem popular do Governo de António Costa, os analistas da The Economist defendem que uma intervenção estatal num banco provocará “fragmentação política” e deteriorará “a confiança dos apoiantes externos mais radicais.” A crítica é deixada ainda à desaceleração do ritmo de implementação da agenda de reformas estruturais, e a facto de ser deixado de parte tópicos como a competição no setor dos transportes e da energia, a flexibilidade do mercado de trabalho ou o excesso de funcionários no setor público.
Já no evento organizado em Cascais, o The Lisbon Summit, António Saraiva, presidente da Confederação Empresarial de Portugal (CIP), reiterou também os problemas da banca nacional, que não é estável o suficiente para ser um parceiro de risco dos investidores, um fator indispensável para a atratividade e o desenvolvimento do tecido empresarial português.
A instabilidade do sistema financeiro foi também apontada por Daniel Traça, reitor da Nova School of Business and Economics, como um dos desafios das empresas portuguesas, que só poderá ser ultrapassado se estas olharem para outros horizontes. “É difícil que os bancos portugueses se tornem parceiros de risco”, disse. “As empresas têm de trazer de fora formas de financiamento que permitam investimentos maiores, como venture capitalists.”
Uma recessão na Zona Euro irá novamente por em questão a sustentabilidade da posição da dívida portuguesa, especialmente no contexto de um Governo visto como menos comprometido em implementar reformas mais dolorosas do que o seu predecessor.
Ainda na mesma análise, as previsões para o crescimento apontam para os 2,1% em 2018, menos uma décima que o calculado pelo Governo, 1,8% em 2019 e uma média de 1,5% entre 2020 e 2022. Já para a dívida pública, e após esta ter atingido o pico de 130,6% do Produto Interno Bruto em 2014, a previsão é de que será reduzida para os 114% em 2022. Mas o aviso também é deixado.
“No entanto, uma recessão na Zona Euro irá novamente por em questão a sustentabilidade da posição da dívida portuguesa, especialmente no contexto de um Governo visto como menos comprometido em implementar reformas mais dolorosas do que o seu predecessor“, conclui a análise.
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