Santa Casa põe 20 milhões no Montepio. Quem paga os outros 30?
A Santa Casa de Lisboa vai entrar no Montepio. E conta com a contribuição das misericórdias e IPSS. Mas estas entidades dizem que só vão pôr mil euros, cada. Então, de onde virá o dinheiro?
A Santa Casa da Misericórdia de Lisboa (SCML) vai entrar no Montepio. Mas conta com a contribuição das outras misericórdias e IPSS para alcançar o investimento necessário: até 48 milhões por 2% da instituição financeira agora liderada por Carlos Tavares. A SCML investirá 20 milhões de euros, mas as restantes instituições dizem que vão dar contributos meramente simbólicos. Então, de onde vêm os restantes quase 30 milhões?
A participação de 2% na Caixa Económica Montepio Geral (CEMG) vai custar entre 45 milhões e 48 milhões de euros às “largas instituições que já manifestaram interesse”, afirmou o presidente da Associação Mutualista, Tomás Correia, numa entrevista à RTP3. Mas o responsável pelo dona do Montepio não chegou a indicar com quanto é que cada instituição participará, deixando em aberto o montante com que a SCML entrará no banco.
Segundo o jornal i, a Santa Casa vai avançar com um investimento inicial de 20 milhões de euros por 1% do capital do Montepio. Os restantes 30 milhões (pelos outros 1%) serão colocados pelas misericórdias e IPSS que queiram participar. Isto numa contribuição que pode variar entre os mil e os 10 mil euros.
Mas, ao que o ECO apurou, os interessados em participar nesta operação são poucos e, mesmo os que decidam entrar, só o farão com o mínimo possível: mil euros. Tanto as misericórdias como as IPSS revelam que serão entradas residuais para marcar uma posição política de que é preciso criar um banco de economia social em Portugal, como já acontece nos outros países da Europa.
“O investimento [das misericórdias] pode variar entre os mil e os 10.000 euros. Se multiplicar 1.000 euros por 400 misericórdias, estamos a falar de 400 mil euros. Isto se todas entrassem… mas penso que se entrar metade já é um número fantástico. Se entrarem 200 misericórdias estamos a falar de 200 mil euros“, afirmou o presidente da União das Misericórdias em entrevista ao ECO. “Quem entrar, vai entrar com mil euros”, garante Manuel Lemos, salientando, por isso, que este investimento não servirá para salvar o banco.
"Estou absolutamente convencido de que não estamos a falar de valores desse género porque as IPSS não têm fundos. É possível que haja entradas simbólicas de mil euros. E não da parte de todas as IPSS, apenas de algumas. É rigorosamente impossível chegar a esse valor.”
Então de onde virão 30 milhões para comprar 1% do Montepio? Serão as IPSS? É “rigorosamente impossível” que as IPSS invistam esse montante Montepio, garantiu o presidente da Confederação Nacional das Instituições de Solidariedade (CNIS), a entidade que representa as 2.970 IPSS em Portugal. Em entrevista ao ECO, Lino Maia referiu que as poucas entidades que decidirem entrar, em conjunto com a SCML, devem entrar com apenas mil euros, cada. O mesmo montante das misericórdias.
O montante indicado pelo presidente Tomás Correia em entrevista à TSF (45 a 48 milhões de euros) é uma mera estimativa. Não está ainda definido o montante com que cada instituição, individualmente, participará, incluindo a SCML. Por tal, qualquer montante que possa ser avançado pela comunicação social para cada instituição individualmente é desconhecido da Associação Mutualista Montepio.
Coloca-se, então, a questão: se as IPSS e as misericórdias não chegarem aos 30 milhões que estão a ser avançados, será a Santa Casa a colocar o remanescente? “Deve ser”, diz Manuel Lemos, da União das Misericórdias. Já Lino Maia recusou-se a falar sobre o assunto, uma vez que a SCML não está sob a alçada da confederação, “é pública”. Da parte da Santa Casa, apenas se sabe que a entrada no capital será gradual, sem adiantar valores.
Questionada pelo ECO, a dona do Montepio esclarece que a “Associação Mutualista Montepio definiu que transmitirá uma posição até 2% do capital da CEMG às instituições da economia social”, mas o “montante indicado pelo presidente Tomás Correia em entrevista à TSF (45 a 48 milhões de euros) é uma mera estimativa”. É que ainda “não está ainda definido o montante com que cada Instituição, individualmente, participará, incluindo a SCML. Por tal, qualquer montante que possa ser avançado pela comunicação social para cada instituição individualmente é desconhecido da Associação Mutualista Montepio”.
O investimento total e quanto é que cada instituição vai colocar no banco devem ficar definidos nas próximas semanas, quando se vai delinear a operação. “Dentro de duas ou três semanas, a Santa Casa terá entrado no capital da Caixa Económica. Não sei qual a participação exata porque será a Santa Casa que decidirá”, disse Tomás Correia na entrevista à RTP3. Uma semana depois destas declarações, tanto a União das Misericórdias como a CNIS dizem ainda não terem qualquer indicação de um prazo para cada misericórdia e IPSS mostrarem interesse.
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