Travão aos CFD? Corretoras sem medo de perder negócio de 50 mil milhões
XTB, BiG e Banco Carregosa consideram que restrições impostas pelo regulador na comercialização de CFD não vão ter impacto no negócio. Dizem que medida credibiliza o mercado de 50 mil milhões.
As restrições impostas pelo regulador europeu na comercialização dos produtos financeiros de alto risco CFD (Contract For Difference) não vão ter grande impacto no negócio das corretoras portuguesas, disseram ao ECO vários responsáveis do setor. E sublinham que as novas regras vão ajudar a credibilizar o mercado nacional que movimentou, no ano passado, mais de 50 mil milhões de euros em Portugal.
A ESMA decidiu restringir a venda de CFDs a investidores de retalho devido à “complexidade e falta de transparência” associada a este tipo de instrumentos financeiros, situação que deixava os pequenos investidores desprotegidos. Entre 74% a 89% das contas de retalho perdem dinheiro nos seus investimentos em CFD, com as perdas a situarem-se entre 1.600 e 29.000 euros por cliente, indicou o regulador europeu.
Para aumentar a proteção destes clientes não qualificados, o regulador decidiu impor limites de alavancagem e proteções contra saldos negativos. Medidas que vão para o terreno nas próximas semanas, mas que não vão ter grande impacto no mercado português.
“Já eram esperadas e, portanto, já há algum tempo que nos temos vindo a preparar para este cenário”, disse ao ECO Francisco Horta, diretor geral da corretora XTB Portugal, líder nacional na negociação de CFD com uma quota de mercado de 56%. O responsável explicou que “esta situação afeta essencialmente corretoras que entravam nos mercados com alavancagem muito elevada e com operações cross-border, não oferecendo qualquer tipo de segurança aos investidores de retalho”. “A XTB tem uma postura mais conservadora”, frisou.
"Esta situação afeta essencialmente corretoras que entravam nos mercados com alavancagem muito elevada e com operações cross-border, não oferecendo qualquer tipo de segurança aos investidores de retalho. A XTB tem uma postura mais conservadora.”
No BiG e no Banco Carregosa, que também comercializam estes produtos financeiros derivados, a expectativa é semelhante.
XTB lidera mercado dos CFD
“O impacto no BiG é baixo visto que decidimos estrategicamente não concorrer com base na elevada alavancagem mas sim no serviço ao cliente. Apesar dos níveis de alavancagem impostos pela ESMA reduzirem os volumes negociados e as receitas dos intermediários que providenciam mais alavancagem, estas alterações são pouco relevantes para o BiG”, afirmou Steven Santos, gestor de plataformas do BiG, o segundo maior player do mercado.
João Queiroz, diretor da banca online do Banco Carregosa, adianta que o segmento dos CFD “tem um peso relativo no conjunto dos serviços prestados pelo banco, que está mais orientado para o investimento e para a poupança”. Daí que o responsável considere que as restrições “não terão um impacto relevante no negócio de intermediação” do banco.
"Apesar dos níveis de alavancagem impostos pela ESMA reduzirem os volumes negociados e as receitas dos intermediários que providenciam mais alavancagem, estas alterações são pouco relevantes para o BiG”, ”
Os CFD são um produto financeiro complexo e de alto risco que permite alavancar os investimentos num determinado ativo, sem que tal implique a sua posse. Estes contratos replicam um ativo subjacente que pode ser uma ação, um índice, uma moeda ou matéria-prima. É estabelecido um acordo entre cliente e banco (market maker), que aceitam trocar numa data futura a diferença entre o preço de abertura e o preço de fecho. Desta diferença pode resultar lucro ou prejuízo para o cliente.
De acordo com os dados de intermediação financeira da Comissão do Mercado de Valores Mobiliários (CMVM), o mercado de CFD movimentou 51,14 mil milhões no ano passado, apesar da quebra de 5,5% face a 2016.
Para os responsáveis nacionais, a intervenção da ESMA vai ajudar a credibilizar o mercado, mitigando o potencial de risco e defendendo melhor os investidores e intermediários financeiros. E vai também promover uma maior concorrência entre os operadores.
“Estas regras defendem melhor o investidor e o intermediário financeiro, mitigando o potencial de risco”, diz João Queiroz. Steven Santos considera que a ESMA vem “nivelar o mercado em termos concorrenciais” e que o novo quadro regulatório “abre oportunidades para os intermediários mais sólidos”.
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