Prova dos 9: Salário de topo na EDP é 210 vezes o salário mínimo como diz António Costa?
António Costa defende que para convencer os jovens emigrados a regressar a Portugal é necessário que "as empresas alterem radicalmente as suas políticas salariais". E dá como exemplo negativo a EDP.
As empresas são uma das peças fundamentais da estratégia de atração dos jovens portugueses emigrados. Para os convencer a regressar, além dos incentivos que o Estado pode dar, o primeiro-ministro considera que “é fundamental as empresas alterarem radicalmente as suas políticas salariais”.
Em entrevista ao Expresso (acesso pago), este sábado, o primeiro-ministro, quando questionado sobre a forma como é possível convencer os jovens que emigraram a voltar sublinhou que, para “além de todos os incentivos que o Estado possa dar” — e no Orçamento do Estado para 2019 haverá “um pacote fiscal muito agressivo para atrair o regresso dos quadros jovens” —, “é fundamental as empresas alterarem radicalmente as suas políticas salariais”.
“Se não pagarem adequadamente o trabalho qualificado, é impossível recuperar esta geração”, disse o chefe de Governo, acrescentando que “a política salarial das empresas hoje não é aceitável”. António Costa dá o exemplo da EDP para demonstrar o “desinvestimento que as empresas fazem nos quadros jovens”, frisando que António Mexia ganha 210 vezes o salário mínimo nacional. Uma grande diferença face ao que se verifica no setor público. A diferença salarial é assim tão grande? O ECO foi fazer a prova dos 9.
A frase
“Se olhar para o Estado e comparar o ordenado do senhor Presidente da República, que é o topo do Estado, ele é 17 vezes o salário mínimo nacional e cinco vezes o salário médio. Mas se for às empresas do PSI-20, a diferença entre o ordenado mais alto e o salário mínimo é de cem vezes e, relativamente ao salário médio, é 37 vezes. E se for a uma empresa tipo EDP vai ver que o salário de topo é 210 vezes o salário mínimo. Não é aceitável esta disparidade e o desinvestimento que as empresas fazem nos quadros jovens. Isto tem de mudar sob pena de perdermos esta geração”, disse António Costa.
Os factos
O presidente executivo da EDP é o gestor mais bem pago de Portugal. Os últimos dados disponíveis são referentes a 2017 e demonstram que entre salários e prémios, Mexia recebeu 2,28 milhões de euros o ano passado. Ou seja, o gestor ganhou:
- 983.908 euros de remuneração fixa;
- 584.366 euros de remuneração variável;
- e 720.000 euros de remuneração variável plurianual.
No ranking dos gestores mais bem pagos da bolsa, António Mexia é seguido de perto por Pedro Soares dos Santos, presidente da Jerónimo Martins, dona da cadeia de supermercados Pingo Doce, e por Carlos Gomes da Silva, CEO da petrolífera Galp.
A remuneração média dos gestores das empresas cotadas foi de 900 mil euros anuais em 2017, um montante 22 vezes superior ao salário anual médio que foi pago aos restantes trabalhadores. Cada trabalhador destas empresas recebeu, em média, 39 mil euros no conjunto do ano passado, uma subida de 3,6% em relação a 2016.
Esta diferença agrava-se ainda mais se a comparação for feita relativamente ao salário mínimo nacional que, em 2017, ainda era de 557 euros. Este ano, a remuneração mínima subiu para 580 euros e já se fala da possibilidade de, no próximo ano, superar os 600 euros.
Prova dos 9
Isto significa que o salário de António Mexia foi 293 vezes superior ao salário mínimo, em 2017, e não 210 vezes como disse António Costa. E se as contas até fossem feitas com o aumento decidido para o ano seguinte (580 euros), a diferença continuaria a ser superior à referida pelo primeiro-ministro (281 vezes). Ou seja, com estes números, António Costa terá pecado por defeito nesta comparação.
Situação idêntica à verificada na comparação com a média dos salários dos gestores do PSI-20, em 2017, que foi 115 vezes superior ao salário mínimo.
Mas se considerarmos apenas a remuneração fixa e a remuneração variável de António Mexia (sem considerar a remuneração variável plurianual), então o rácio face ao salário mínimo nacional é de 201 vezes. Com estes valores, António Costa peca ligeiramente por excesso.
De referir ainda que o Presidente da República ganha 10.148, 33 euros, se for considerado o corte de 5% que afeta os salários de todos os titulares de cargos políticos, e acrescido das despesas de representação que correspondem a 40% da remuneração (2.899,52). Ou seja, Marcelo Rebelo de Sousa ganha 17 vezes mais do que os portugueses que recebem o salário mínimo (considerando o atual salário mínimo), tal como disse o primeiro-ministro.
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