Sonangol vai sair da Galp e do BCP, diz Presidente de Angola
A saída não será para já, mas João Lourenço, em entrevista ao Expresso, reitera que é sua intenção que a Sonangol saia das grandes empresas portuguesas: Galp e BCP.
“O Executivo já anunciou que a Sonangol deve retirar-se de grande parte dos negócios e das participações em que está envolvida e que não têm muito que ver com o seu core business“, reiterou, em entrevista ao Expresso (acesso pago) o Presidente de Angola. Em antecipação à sua visita a Portugal, na próxima semana, João Lourenço falou da economia, de Manuel Vicente e dos filhos de José Eduardo dos Santos.
“Não temos nada contra os portugueses do grupo Amorim, antes pelo contrário, mas num casamento deve haver vontade recíproca entre o noivo e a noiva, ambos têm de estar interessados”, disse João Lourenço, para justificar a sua opção de não reforçar a participação na Galp, nomeadamente através da compra da posição de Isabel dos Santos. “A tendência é precisamente contrária”, diz.
A Sonangol detém uma posição indireta na Galp, através da participação da Esperaza na Amorim Energia. A Amorim Energia é uma holding detida em 55% pela família Amorim e 45% pela Esperaza. Por sua vez, a Esperaza tem como acionistas a Sonangol (60%) e Isabel dos Santos (40%). Feitas as contas, a Esperaza detém indiretamente 15,75% da Galp, numa participação avaliada em cerca de 2,2 mil milhões de euros a preços de mercado.
Questionado sobre se a alienação de posições da Sonangol também se estende ao Millennium BCP, João Lourenço reiterou que a tendência é a mesma. “Não estou a dizer que vamos sair amanhã. Estou a dizer apenas que a tendência é essa…“, disse ao Expresso. A Sonangol detém uma posição de 14,87% do capital social do banco Millennium BCP.
Não estou a dizer que vamos sair amanhã. Estou a dizer apenas que a tendência é essa…
João Lourenço garantiu que “a Sonangol está melhor do que estava”, isto depois de ter mudado o Conselho de Administração. Esta mudança resultou da exoneração de Isabel dos Santos, filha do ex-Presidente José Eduardo dos Santos — uma das muitas que o Chefe de Estado fez –, estando agora Carlos Saturnino à frente da empresa estatal.
O responsável, que elegeu a luta contra a corrupção como uma das suas prioridades, justifica o afastamento dos vários filhos de José Eduardo dos Santos de cargos na TPA, Sonangol, Sodiam e Fundo Soberano como um ato de gestão. “Não afastei filhos de ninguém. Afastei quadros, que são cidadãos nacionais. O afastamento desses quadros obedeceu aos mesmos critérios que levaram ao afastamento de outros quadros”, frisou João Lourenço. “Quantos quadros foram exonerados ou nomeados desde que tomei posse como Presidente? Dezenas. É injusto e um desrespeito para com a família dos outros, que tendo também pais, estes estariam igualmente no direito de perguntar por que razão os seus filhos foram exonerados…”, acrescentou.
O Chefe de Estado recusou ainda dar tratamento especial a Isabel dos Santos, mesmo que esta seja responsável pela criação de milhares de empregos. “Não trato ninguém como pessoas especiais. Para mim não há pessoas especiais. Entendi que a Sonangol merecia outro Conselho de Administração e assim o fiz, e não estou arrependido de o ter feito. Se tivesse de o fazer de novo, fá-lo-ia”, frisou.
Não trato ninguém como pessoas especiais. Para mim não há pessoas especiais. Entendi que a Sonangol merecia outro Conselho de Administração e assim o fiz, e não estou arrependido de o ter feito. Se tivesse de o fazer de novo, fá-lo-ia.
Na sua primeira grande entrevista desde que foi eleito Presidente de Angola, João Lourenço lamentou que não tivesse havido uma verdadeira passagem de pasta e reconheceu que “foi difícil” tomar conhecimento dos diferentes dossiers. “Estivemos diante de uma anormalidade com despachos feitos em vésperas da minha investidura, nomeadamente, entre outros, sobre o porto da Barra do Dande, para favorecer quem pretendiam favorecer. Nada me foi dado a conhecer, apesar de ser o Presidente-eleito…”, sublinhou, acrescentando que as coisas estão ultrapassadas. “Com base nas descobertas que fui fazendo, num curto espaço de tempo, imprimi uma dinâmica de trabalho jamais vista com importantes reformas em praticamente quase todos os domínios”, disse.
Quanto ao “irritante”, João Lourenço considera que Angola apenas defendeu “a necessidade de um país amigo, que é Portugal, respeitar o acordo judiciário existente entre os dois países“. “E uma vez que o acordo está em vigor, só havia duas saídas: ou denunciá-lo, se uma das partes entendesse que já não se revia nele, ou cumpri-lo”, sublinhou.
“O que fizemos foi chamar a atenção para a necessidade do cumprimento desse acordo, independentemente de quem se tratasse. No caso concreto era Manuel Vicente, mas poderia não ser. Pesou-se, obviamente, o cargo que Manuel Vicente ocupava. Não estou a ver que o vice-presidente da República de um país estivesse a contas com a Justiça de um outro país, e que as autoridades do seu país não reagissem“, sublinhou.
João Lourenço lançou ainda o desafio de ver “a questão de outra forma”. “Imagine que um ex-primeiro-ministro português tinha um problema com a Justiça angolana, e que Angola fizesse finca-pé para ser julgado aqui. Qual teria sido a reação de Portugal, da União Europeia e do mundo? Esta pergunta ninguém a faz, independentemente do nome. Não agimos em defesa de um cidadão, mas em defesa do Estado angolano e da necessidade de um outro Estado respeitar acordos firmados anteriormente”, frisou.
Imagine que um ex-primeiro-ministro português tinha um problema com a Justiça angolana, e que Angola fizesse finca-pé para ser julgado aqui. Qual teria sido a reação de Portugal, da União Europeia e do mundo? Esta pergunta ninguém a faz.
Em vésperas de chegar a Lisboa, o Chefe de Estado disse que um dos objetivos da visita é “procurar cativar os investidores privados portugueses em todas as áreas onde for possível”. “Onde os investidores portugueses entenderem que podem ganhar dinheiro e deixar bens e serviços, nós agradecemos. Mas estou a referir-me a investidores e não a comerciantes, não aqueles que queiram apenas vender coisas a Angola“, avisou.
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