Costa afasta-se da esquerda: dívida é para pagar já e toda
Depois das contas certas, o primeiro-ministro quer mostrar que PS paga dívidas. Costa afasta PS da restante esquerda e tenta entrar no terreno do centro/direita.
O debate do Orçamento do Estado para 2019 fechou com alguma ironia. O último OE da legislatura foi aprovado com os votos a favor da esquerda do PS e com o primeiro-ministro a anunciar o pagamento da totalidade da dívida ao Fundo Monetário Internacional (FMI) já este ano. Uma novidade que permite a António Costa exibir um PS distante da sua esquerda e concentrado em bandeiras que habitualmente agradam o eleitorado de centro/direita.
“Até ao final do corrente ano de 2018 pagaremos a totalidade da dívida ao FMI”, disse o primeiro-ministro no encerramento do debate na especialidade do OE2019. Minutos depois, as bancadas do Bloco de Esquerda, PCP e Verdes — e até o deputado único do PAN — levantavam-se para viabilizar o último OE da legislatura. PSD e CDS votaram contra.
Em maio, no congresso do PS, Costa defendeu que o mito de que só a direita tem contas certas tinha terminado. Agora, o chefe do Governo quer acrescentar mais um louro dado pelo ministério de Mário Centeno. O PS paga as dívidas.
Apesar do tema já não estar tão presente nos discursos oficiais dos partidos à esquerda do PS, a renegociação da dívida pública não deixou de ser uma bandeira do Bloco e do PCP.
Os comunistas continuam a falar em como os portugueses são penalizados pelas restrições de Bruxelas — e a defender uma política “patriótica de esquerda” — e o Bloco de Esquerda mantém uma versão menos insistente do discurso da renegociação da dívida. “Aqui em Lisboa o Governo insiste no défice zero em vez de tratar o investimento público que urge, tudo isto em nome da tese de que a dívida portuguesa não precisa de renegociação”, disse Catarina Martins no encerramento do debate na especialidade do OE.
Mas Costa precisava de ter uma resposta que agradasse ao eleitorado mais ao centro e à direita. A menos de um ano das eleições legislativas, marcadas para o outono de 2019, não há tempo a perder. E ao anúncio de que a dívida é para pagar — toda e já –, o chefe do Executivo acrescentou que este OE “prepara o futuro”, permite o “equilíbrio da Segurança Social” e “abre a porta” a reformas importantes — como a do transporte público — para dar resposta aos desafios que se seguem — como o das alterações climáticas, um ponto da estratégia de Costa aprovada no congresso socialista de maio deste ano.
Ao mesmo tempo, o líder do Executivo falou da agenda pós-Orçamento do Governo e anunciou que na próxima semana vai já levar à concertação social o programa para conciliar a vida profissional com a vida pessoal.
Minutos antes, a líder bloquista tinha avisado que a campanha não começa já e deixou um caderno de encargos para a reta final da legislatura — temas onde os entendimentos com o PS não têm sido fáceis até agora. O pós-OE não se antecipa sereno.
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