Após entrada a preço de crise, BCP e EDP veem investimento chinês como sólido e de longo prazo
Os CEO de algumas das maiores empresas portuguesas com acionistas chineses elogiaram esta segunda-feira o papel do capital do país durante a crise. Agora, o objetivo é criar valor.
O investimento chinês em empresas como a EDP, o Millennium bcp ou a REN são vistas pelos CEO como determinantes para a recuperação após a crise. Numa conferência esta segunda-feira em Lisboa que antecede a visita do presidente Xi Jinping a Portugal, os líderes empresariais defenderam que a estratégia de longo prazo dos acionistas dá solidez à gestão.
“Quando a China Three Gorges (CTG) entrou na EDP, os mercados estavam totalmente fechados. Foi indispensável e trouxeram músculo a uma empresa que o precisava”, afirmou António Mexia, CEO da EDP, sobre o maior acionista da elétrica, a empresa estatal que detém 23,27% do capital.
“É uma parceria que encara o desafio da globalização, da revolução tecnológica, uma partilha da importância da descarbonização e de que só conseguiremos ser competitivos se conseguirmos antecipar as mudanças. As utilities lidam muito mal com a concentração de riscos e é preciso ter músculo para essa luta”, referiu no debate “Duas nações, um caminho: crescimento” no âmbito da conferência Portugal – China, uma relação com futuro.
António Mexia reconhece que a aquisição foi feita com o objetivo de a empresa chinesa ganhar acesso a novos mercados, tal como o brasileiro. No entanto, o CEO considera que esta é hoje uma parceria com ganhos para ambas as partes. Quanto à Oferta Pública de Aquisição (OPA) lançada em março, Mexia disse não esperar qualquer alteração nos próximos dias já que o processo ainda vai a vários meses do fim.
Acionistas chineses permitiram manter gestão em Portugal
Da mesma forma, o CEO do Millennium bcp, Miguel Maya, também defendeu que o caráter do investimento chinês no banco mudou ao longo do tempo. “Quando o país estava fragilizado, havia oportunidades. Mas depois, o preço e a oportunidade deixaram de ser a principal motivação, mas sim a capacidade de criar valor para as partes”, disse Maya.
A Fosun é o maior representante do investimento privado chinês em Portugal e acionista do Millennium bcp, com 27,06% do capital. O CEO do banco referiu que o investimento “permitiu sair de um processo de reestruturação e apresentar-se ao mercado como maior banco privado português”, sublinhando que este é um “investidor de longo prazo”, que já teve uma valorização de 56% face ao investimento para entrar no capital do banco.
“Do ponto de vista estratégico, não tenho qualquer dúvida que estamos a criar valor para o acionista”, garantiu Miguel Maya. Por outro lado, vê como positivo para o sistema financeiro que o banco tenha mantido Portugal como o seu mercado principal, apesar de estar a beneficiar dos acionistas chinês e angolano (Sonangol com 19,49% do capital) para aumentar a presença nestes países.
Também a Fidelidade vê a questão da mesma forma. Jorge Magalhães Correia, presidente do conselho de administração da seguradora frisou que, caso a privatização tivesse acontecido pela venda a uma empresa europeia, a Fidelidade seria hoje uma sucursal.
Novas parcerias durante a visita de Xi Jinping
Rodrigo Costa, presidente do conselho de administração da REN, considera também Portugal e China têm muito a aprender um com o outro. A elétrica, cujo maior acionista é a estatal chinesa State Grid com 25% do capital, financiava-se, há sete anos a curto prazo por falta de confiança dos investidores que lhe permitisse financiar-se a longo prazo, enquanto atualmente é avaliada por todas as maiores agências de rating como grau de investimento.
“Na área técnica podemos sempre aprender alguma coisa, mas nenhum de nós morre sem o outro. Há um ponto muito mais importante que é a concorrência. A China é o único grande concorrente dos EUA e essa pressão é boa para todos”, afirmou Rodrigo Costa, anunciando que a REN se preparar para assinar, durante a visita, um acordo de colaboração para a integração de energias renováveis.
No mesmo painel, o presidente da Huawei, Chris Lu, anunciou que irá assinar um protocolo de inovação e cooperação com a Altice Portugal. Ambos remeteram mais pormenores para quando os acordos estiverem assinados, o que deverá acontecer nos próximos dias já que Xi Jinping estará em Portugal na terça-feira e quarta-feira.
“Esta é uma visita importante. Quando um presidente chinês visita Portugal é sempre muito importante”, acrescentou Luís Castro Henriques, presidente do conselho de administração da AICEP. “Já assistimos a alguns, ainda que tímidos, investimento green field em Portugal para usarem Portugal como plataforma para a Europa e para os países de língua portuguesa. O nosso objetivo é atrair empresas privadas para Portugal e cada vez mais investimento industrial, incluindo no setor automóvel, mas também agroalimentar”.
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