Efeito Trump regressa às ações. Estes são os vencedores e perdedores do Estado da União
Foram 82 minutos de discurso, em Donald Trump falou sobre guerra comercial, Coreia do Norte e da cooperação entre partidos, mas também de muros e saúde.
O cenário é o maior shutdown governamental da história dos EUA, mas quem esperava palavras conciliadoras por parte de Donald Trump ficou desiludido. O discurso do Estado da União, endereçado pelo presidente norte-americano esta madrugada no Congresso durou 82 minutos e foi pleno de mensagens diretas e indiretas. Os mercados não ficaram indiferentes, especialmente quando se referiu à guerra comercial. Em termos setoriais, deu com uma mão à indústria, mas tirou com a outra às farmacêuticas e às fabricantes automóveis.
“Esta madrugada assistimos ao discurso de Trump sobre o Estado da Nação. O tom foi positivo, contudo o Presidente norte-americano ofereceu pouco detalhe sobre medidas concretas, o que poderá ‘arrefecer’ os mercados“, refere a equipa de research do Bankinter, numa nota enviada esta quarta-feira. “É de realçar a visão de que um acordo com a China é possível caso esta implemente alterações estruturais”.
O presidente dos Estados Unidos afirmou ter muito respeito pelo homólogo chinês Xi Jinping, mas advertiu que a China para não roubar mais empregos e riqueza aos norte-americanos e exigiu mudanças estruturais a Pequim nas práticas comerciais, que permitam reduzir o défice crónico. Trump acrescentou que está a trabalhar num novo acordo comercial depois de, no início de dezembro, os dois presidentes terem concordado numa trégua de 90 dias, para tentar chegar a um acordo. As negociações vão retomar na próxima semana.
Ainda na frente da política externa, houve ainda comentários sobre a Coreia do Norte (com o anúncio de um encontro com o líder Kim Jong Un nos dias 27 e 28 de fevereiro, no Vietname) e sobre progressos nos esforços de paz entre os EUA e os rebeldes talibãs no Afeganistão (o que poderá permitir um repatriamento de tropas norte-americanas do Afeganistão e da Síria”.
Já na frente económica, insistiu na construção do muro com o México, mas garantiu que não irá decretar emergência nacional, e anunciou o investimento de um bilião de dólares em infraestruturas. As promessas fazem das ações do setor industrial as principais vencedoras do Estado da União, mas a falta de pormenores (e o facto de já no ano passado Trump ter anunciado um mega plano de investimento em infraestruturas que nunca avançou) poderão travar os ganhos.
Em sentido contrário, os perdedores estão no setor farmacêutico. Trump pediu ao Congresso legislação para baixar os preços dos medicamentos no país por considerar que é “inaceitável”, “errado” e “injusto” que os norte-americanos paguem mais que outros países. O presidente quer maior transparência e obrigar famacêuticas, seguradoras e hospitais a divulgarem os custos com medicamentos e diminuir o montante pago pelos doentes. As maiores farmacêuticas, como a Merck and Pfizer, e outras empresas de saúde como a CVS Health ou a UnitedHealth, deverão ser pressionadas.
Além das ações norte-americanas, a Europa poderá não ficar imune. “Num tiro de aviso à Europa e às suas exportações automóveis para a América, Trump fez um apelo ao Congresso”, explica James Knightley, economista-chefe internacional do ING, sobre o pedido de Trump para que os deputados aprovem a United States Reciprocal Trade Act para que os EUA possam responder com tarifas aduaneiras recíprocas, em casos de taxas mais elevadas praticadas por outros países.
“A Europa cobra uma tarifa de 10% a carros fabricados na América, enquanto a América cobra tarifas de apenas 2,5% à importação de carros da União Europeia. Neste campo, estamos focados no relatório do Departamento de Comércio dos EUA (que será divulgado a 17 de fevereiro) para perceber se as importações automóveis são uma ameaça, que possa espoletar um aumento das tensões EUA-UE”, acrescentou Knightley. A incerteza está, no entanto, a ser ofuscada pelo sentimento negativo, esta quarta-feira, no setor automóvel europeu, causado pelos resultados da Daimler.
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