“Os pobres fizeram-se para a gente os transformar em classe média”, diz Soares dos Santos
Aos 85 anos, o ex-administrador da Jerónimo Martins recorda os anos como empresário e as dificuldades que as empresas atravessam em Portugal.
A chave para o sucesso é “ter um sentido para onde se quer ir”, afirma Alexandre Soares dos Santos, em entrevista ao Observador. Aos 85 anos, o ex-administrador da Jerónimo Martins recorda as dificuldades que encontrou quando assumiu esta cadeira. Mostra-se preocupado com o desemprego e defende oportunidades para todos. Diz que os pobres “fizeram-se para a gente os transformar em classe média” e que as empresas devem dividir os lucros com os acionistas e com os trabalhadores.
Em 1968, Soares dos Santos assumiu as rédeas da Jerónimo Martins, na altura com 300 funcionários. “Ao chegar (…) deparei-me com uma empresa que era o maior armazenista do país na época, mas com todo o mundo envelhecido. Porque o meu avô só dava emprego a quem tirasse um curso”, recorda o empresário. E foi nesse momento que, explicou, foi preciso “lutar para mudar” e transformar a retalhista numa “empresa moderna”. Hoje, são 110 mil os funcionários. “Como é que consegui isso? Trabalhando…”, afirmou. “É preciso trabalhar bem e ter um sentido de missão e ter um sentido de para onde se quer ir”.
Os próximos planos para a Jerónimo Martins passam pela reconstrução de uma fábrica de leite em Portalegre. O número de pessoas que ia para o desemprego com o encerramento desta unidade levou Soares dos Santos a decidir reconstrui-la. “E reconstruímos a fábrica, completamente nova. Por uma razão de emprego. Custa-nos ver pessoas no desemprego. Em Portalegre, se fecha uma fábrica, arrumou… Não há mais hipótese para aquela gente”, disse. Um processo que passou por várias dificuldades, “mas isso tem-se em Portugal em qualquer sítio e em qualquer coisa”.
“Muitas vezes temos de vir cá para baixo, falar com os fulanos de baixo, para ver se fazem encaminhar para cima”, disse, referindo-se a “tantas dificuldades e tantos atrasos” que o país atravessa em termos de autorizações. “Deveríamos ter associações muito fortes que depois lutassem. Mas os empresários não querem, porque muitos — infelizmente — dependem do Estado para financiamento ou para outras coisas”. Para o empresário, o país vive numa ditadura, “porque somos obrigados, para tudo, a ir ao Governo pedir uma licença”.
Lucros para os acionistas e para os trabalhadores
Soares dos Santos diz-se “cristão, não tanto católico”. “Não tenho nada a ver com os pobres, os pobres fizeram-se para a gente os transformar em classe média e depois subirem se possível”, continuou, afirmando que é para isso que se luta. Mas não uma luta de olhar para o pobre como um “coitadinho” que tem de ser ajudado, “porque isso é ajudá-lo a ser pobre”.
É preciso que as empresas que fazem lucros os dividam com os seus acionistas e também com os trabalhadores. “Estou farto de propor — farto! — a diferentes primeiros-ministros e ministros das Finanças que criem leis que me permitam distribuir dividendos a quem trabalha e não posso. O nosso sistema é estúpido”.
Nas suas palavras, os governantes acham interessante esta ideia de partilhar os lucros com os trabalhadores, mas não a põem em prática. “Talvez por isso o meu grande problema nos anos das eleições é se vou votar ou não”, disse.
Questionado se houve algum primeiro-ministro que o tenha impressionado, Soares dos Santos respondeu: “Tinha admiração pelo Mário Soares. O engenheiro Guterres era um homem inteligente, mas não foi feito para liderar o Governo. Um tipo interessante que me deixou boa impressão por um lado, como homem honesto e com vontade, foi o Passos Coelho, mas que não ouvia. Não sabia ouvir. (…) E o António Costa, até hoje não sei quem ele é”.
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