Fundo alemão vai pagar mais de 120 milhões pela torre de Picoas
A torre de escritórios na Avenida Fontes Pereira de Melo, em Lisboa, está prestes a passar para as mãos do fundo alemão Deka. O fundo da ECS Capital vai encaixar mais de 120 milhões de euros.
É considerada uma das maiores transações do ano no mercado de escritórios. A polémica torre de Picoas, em Lisboa, propriedade do fundo FLIT, gerido pela ECS Capital, está finalmente prestes a ser vendida. O edifício de 17 andares deverá passar para as mãos de um fundo de investimento alemão, Deka Immobilien, por um valor superior aos 120 milhões referidos inicialmente. Os futuros inquilinos — KPMG e a sociedade de advogados PLMJ — já estão de malas prontas.
São 67,8 metros de altura que o tornam num dos edifícios mais altos da capital, mas conta ainda com seis pisos subterrâneos com 221 lugares de estacionamento. Com uma área de 22,5 mil metros quadrados, o Fontes Pereira de Melo 41 (FPM 41) — também conhecido como Edifício 41 — é um projeto que resulta de um investimento de 70 milhões de euros da promotora Edifício 41, ligada à ECS Capital. Está localizado entre a Avenida Fontes Pereira de Melo e a 5 de Outubro, ao lado do Hotel Sheraton e um pouco abaixo da praça do Saldanha. Além do edifício propriamente dito, há ainda um espaço público verde — Praça Picoas —, que fará a ligação com o jardim da Maternidade Alfredo da Costa.
A gestora de fundos ECS Capital está prestes a vender o edifício ao fundo alemão Deka Immobilien, revelou ao ECO uma fonte do mercado imobiliário, por um valor superior aos 120 milhões de euros que estavam a ser pedidos inicialmente. O ECO sabe que o negócio ainda não está fechado, mas pouco falta. A Deka terá sido a interessada que fez a proposta mais alta pelo edifício. Contactada, nenhuma das duas entidades quis fazer comentários.
Embora o edifício ainda não esteja oficialmente vendido, já se sabe quem serão os inquilinos. A consultora KPMG e a sociedade de advogados PLMJ vão ocupar os 17 andares da torre — cada um com cerca de 1.400 metros quadrados –, instalando lá as novas sedes, e o ECO sabe que as mudanças estão para breve, devendo acontecer ainda em abril ou no próximo mês. Este negócio terá uma yield abaixo dos 4%, sabe o ECO.
O projeto nasceu há cerca de cinco anos, apesar de as obras só terem arrancado em 2016. A ideia foi construir uma torre com escritórios e lojas, mais baixa do que os 90 metros do Hotel Sheraton. No final de 2013, a Rockbuilding, gestora da obra, lançou um concurso à procura das melhores ideias de arquitetura e, um ano depois, o ateliê Barbas Lopes, liderado por Patrícia Barbas e Diogo Seixas Lopes, saiu vencedor.
As polémicas que envolveram a obra foram muitas. Em 2016, durante uma reunião da Assembleia Municipal de Lisboa, o Bloco de Esquerda (BE) denunciou ilegalidades na construção, as quais acabariam por se confirmadas pelo próprio responsável da obra. Parte de uma estrutura tinha sido cravada em terrenos municipais subterrâneos, o que acabou por envolver uma “troca” de terrenos entre o município e a dona da obra, a empresa Edifício 41, diz o Público. Mas isto porque a parte subterrânea da torre também estava a ser ocupada por um parque de estacionamento de outra entidade.
Terreno passa para as mãos do BES por um euro
O projeto começou a ser pensado há vários anos mas, até ser aprovado e passar para as mãos da ECS Capital, muita água correu. Durante vários anos, Armando Martins, ex-proprietário do terreno onde está a torre e dono do Atrium Saldanha, apresentou à Câmara de Lisboa (CML) sucessivas propostas de projetos para aquele lote, mas todos rejeitados. Rejeições essas que foram atribuídas pelo mesmo a Manuel Salgado, vereador do Urbanismo.
Na altura, Manuel Salgado justificava que a área que Armando Martins queria construir (20 mil metros quadrados) era superior à que o Plano Diretor Municipal (PDM) permitia – até 12 mil metros quadrados de escritórios ou 14 mil metros quadrados de habitação. Face a várias dificuldades económicas e sem alternativas, Armando Martins terá sido aconselhado “por um dos Espírito Santo” a fazer uma hipoteca sobre o terreno de 15 milhões de euros, revelou em entrevista ao SOL o ex-vereador da CML, Fernando Nunes da Silva.
Mais tarde, a consultora KPMG terá feito uma proposta a Armando Martins para adquirir aquele terreno mas, Manuel Salgado voltou a rejeitar o projeto e a venda acabou por não acontecer. Com o terreno hipotecado, Armando Martins acabou por ter de entregá-lo ao BES, pelo simbólico preço de um euro.
Na mesma entrevista ao SOL, o ex-vereador da CML referia-se a esta história como um “caso de polícia”, afirmando que Manuel Salgado não terá informado corretamente o antigo proprietário do terreno. Após a venda ao BES, na altura com Ricardo Salgado como presidente (primo direito de Manuel Salgado), o mesmo vereador aprovou um projeto com uma área ainda maior, do que a que havia sido pedida por Armando Martins. Isto porque, na altura da venda, o Plano Diretor Municipal estava a ser alterado e ainda que isso viesse a permitir a construção do projeto que Armando Martins queria, Manuel Salgado não terá informado corretamente o ex-proprietário.
Em julho de 2017, soube-se que o Ministério Público tinha aberto um processo de averiguações à torre de Picoas. Em setembro do ano passado, o processo ainda decorria mas não tinha arguidos constituídos. No centro da investigação está Manuel Salgado e as alegadas restrições que colocou a Armando Martins, lê-se no Público.
Contactada pelo ECO, a Procuradoria-Geral da República adiantou que “foi localizado no Departamento de Investigação e Ação Penal (DIAP) de Lisboa um inquérito que se encontra em investigação. Não tem arguidos constituídos”.
(Notícia atualizada com valor da yield)
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